Pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro já escolheu o seu conselheiro econômico: Affonso Celso Pastore. Acadêmico dos mais respeitáveis e professor de credenciais invejáveis, ele é exemplo de sucesso como secretário da Fazenda de São Paulo, presidente do Banco Central e renomado consultor. Foi alvo de deselegante fala do ministro da Economia depois de criticar corretamente a política econômica. Paulo Guedes sugeriu que o economista deveria “curtir a velhice”. Ao contrário, em seus 82 anos, Pastore continua atuante e imbatível.
Se Moro tornar-se candidato presidencial, Pastore cuidará de seu programa de governo. Ele tem domínio sobre os desafios da economia e sobre as origens da drástica queda da produtividade e, desse modo, do potencial de crescimento. Dele virão as ideias para atacar, via reformas, as causas da perda de nosso dinamismo econômico. Nos últimos quarenta anos, o ritmo de crescimento da renda per capita estagnou, ficando atrás dos pares do mundo emergente e das nações desenvolvidas. Sem reverter esse processo, o Brasil dará adeus ao sonho de ser uma nação rica, o que pode ter terríveis consequências sociais e políticas.
“Pastore tem domínio sobre os desafios da economia e sobre as origens da queda de produtividade”
Plataformas eleitorais e propostas de governo não costumam ser relevantes para conquistar votos por aqui. A maioria do eleitorado se conecta nas eleições no início oficial da campanha, em agosto. Apenas os mais informados costumam analisar e buscar entender programas desde cedo. Por exemplo, Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 com uma plataforma medíocre (para dizer o mínimo), mais próxima de um trabalho estudantil do que de ideias para governar o país e enfrentar seus desafios. Ascendeu ao governo sem dispor de rumos. A ele faltam, até hoje, capacidade de governar e um programa amplo e coerente.
Propostas submetidas ao julgamento das urnas não deixam, por isso, de ser fundamentais. Foram os casos dos presidentes Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso. O Plano de Metas do primeiro e o programa de reformas do segundo constituíram a bússola que os orientou em suas respectivas gestões no Palácio do Planalto, na propositura de ações para atacar sérios problemas estruturais e para expandir o potencial econômico. A capacidade que ambos possuíam de articulação política e de gerir a coalizão de governo — outra das deficiências de Bolsonaro — mobilizou a sociedade e conquistou o apoio político necessário à aprovação de seus programas.
O aconselhamento econômico ajudará na formulação da plataforma eleitoral, evitando ideias fadadas ao fracasso, como a da criação da Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza, que segundo Moro seria uma agência independente, à qual caberia erradicar a pobreza no país. Ocorre que a pobreza é consequência de complexas causas, que remontam à escravidão. Governos não devem lidar com efeitos. Algo semelhante, de igual destino, foi o programa Fome Zero, do primeiro mandato de Lula, logo esquecido no início do governo. Pastore pode fazer a diferença.
Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2021, edição nº 2767