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Cenário Global

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Análises e comentários sobre relações internacionais, a inserção global do Brasil, agendas do futuro

Entre o xadrez e o dominó

EUA e China praticam jogo complexo. O Brasil precisa de um projeto para ascender a um novo nível na disputa pela economia verde 

Por Gustavo Diniz Junqueira
18 nov 2025, 14h50

Há momentos em que a história deixa de avançar aos poucos e passa a se mover por saltos. Não porque as notícias mudem, mas porque as potências decidem que já não podem adiar decisões. É isso que estamos vendo agora. Estados Unidos e China reorganizam silenciosamente os fundamentos da economia global. Cada lado com clareza, método e propósito.

Os Estados Unidos tratam produção, comércio e agricultura como peças de um tabuleiro maior. Não se discute mais porcentagem de tarifa. A discussão é se uma cadeia produtiva fortalece ou enfraquece a segurança nacional. Centros de pensamento como a Heritage Foundation, que tem grande influência sobre o secretário de Estado Marco Rubio, defendem que chegou o fim da era da integração automática com a China. A ordem é reduzir riscos, diversificar dependências e recuperar o que foi perdido em décadas de deslocamento industrial. A tarifa virou instrumento de poder.

A China, por sua vez, opera com uma disciplina única e invejável. Seu novo marco de segurança alimentar, os documentos anuais de orientação rural e o projeto de autossuficiência apontam para uma visão de longo prazo. Pequim investe em reservas estratégicas, terras raras, ciência aplicada ao campo, tecnologia verde, fertilizantes, máquinas e plataformas digitais que unificam produção, logística e crédito. Enquanto muitos países tratam agricultura como setor tradicional, a China a elevou ao centro de sua estratégia de sobrevivência e projeção.

As duas maiores potências do planeta estão jogando xadrez.

E o Brasil tenta ser vencedor jogando dominó.

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Não é por falta de talento ou potencial. É por ausência de projeto. Continuamos presos a debates de tarifa, acesso sanitário ou frases diplomáticas que dizem pouco. O mundo já está em outro ritmo. Agricultura, energia, tecnologia e finanças se tornaram ferramentas de afirmação nacional. Nosso lugar natural seria o de ator indispensável. Mas seguimos negociando sem saber onde estamos e como se tivéssemos pouco a oferecer.

A recente discussão sobre tarifas americanas deixa isso claro. Argentina, Equador e países da América Central conseguiram avanços, primeiro por falta de opção mas porque entenderam o que Washington realmente valoriza. Eles ofereceram segurança, estabilidade política, cooperação regional. O Brasil ofereceu argumentos técnicos. Eles falaram de poder. Nós falamos de comércio. E quem fala a língua certa move peças no tabuleiro.

O Brasil ainda não percebeu a posição extraordinária que ocupa. Somos pilar da segurança alimentar global, parceiro essencial para a China e potencial aliado estratégico para os Estados Unidos. Podemos liderar um novo capítulo da economia verde, dominar tecnologias aplicadas ao campo, influenciar padrões de produção e moldar regras. Mas isso exige abandonar a lógica de reação e assumir a lógica de projeto.

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Precisamos tratar o agro como centro de uma política de Estado, capaz de irradiar tecnologia, formação profissional, biotecnologia, energia renovável e logística inteligente. Precisamos negociar com os Estados Unidos não apenas tarifa, mas ciência, presença industrial, cooperação em energia limpa e novas arquiteturas de segurança alimentar. Precisamos negociar com a China com a mesma firmeza, buscando contratos estáveis, inovação conjunta e autonomia regulatória.

A disputa entre as potências não é convite para escolher um lado. É alerta para definir quem queremos ser. País que apenas fornece não decide. País que formula decide. E o Brasil ainda está entre essas duas margens.

O século que se abre não será gentil com quem assiste de fora. Temos a chance rara de transformar nossa força produtiva em influência e respeito. Mas isso exige abandonar o conforto do dominó e aprender a mover as peças do xadrez que o mundo já começou a jogar.

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O Brasil sempre teve vocação para grandeza. A pergunta é se teremos coragem para exercê-la antes que os outros decidam por nós.

*Gustavo Diniz Junqueira é empresário e foi secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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