De bolsas de grife a vinhos premiados: o sucesso dos leilões on-line
Itens entram na mira de colecionadores que buscam peças exclusivas

As irmãs Mariana e Carolina Sodré Santoro cresceram vendo o pai, Luiz Fernando, e o tio José Eduardo de Abreu leiloarem obras de arte. Saíam da escola na Rua Veneza e iam para o casarão na Avenida Brasil, no Jardim Europa, em São Paulo, para observar os negócios da família, a tradicional Sodré Santoro Leilões. Depois de formadas, respectivamente, em direito e publicidade e rádio e TV, decidiram criar um braço para girar peças de luxo de segunda mão, sob a marca As Leiloeiras. “Mesmo que o cliente tenha dinheiro para comprar uma bolsa Birkin nova, ele precisa ser aprovado pela marca”, afirma Mariana Sodré, então “resolvemos trabalhar nesse nicho de desejo”.

Segundo a consultoria Luxonomy, o setor deve movimentar globalmente cerca de 64 bilhões de dólares até o fim de 2024, com a venda de bolsas, vinhos e relógios, além de tradicionais pinturas, mobiliário, prataria e tapetes. Na reabertura da Sodré Santoro sob o comando das herdeiras, em novembro, foram reunidas 35 peças entre bolsas Hermès, Valentino, Chanel e Dolce & Gabbana, vinhos Château Margaux e Lafite Rothschild, um par de biombos da artista plástica Maria Bonomi e pinturas de Di Cavalcanti (1897-1976) e Candido Portinari (1903-1962). O leilão ocorreu de forma híbrida, on-line e presencial, com lances simultâneos. Os valores começaram em 3 000 reais (uma bolsa) chegando a ultrapassar 100 000 reais (joias e quadros). Os lotes de vinhos ficaram na média de 12 000 reais.
A atividade on-line foi a prerrogativa da abertura da Blombô, em 2017, ainda como um marketplace para obras de arte, em São Paulo. Um ano após o início das atividades, a CEO Lizandra Turella Ferraz Alvim, ex-Christie’s, começou a realizar leilões. “Minha experiência internacional me mostrou que a atividade on-line crescia, mesmo antes da pandemia, e isso institucionalizou a operação nesse formato”, diz Lizandra, que tem 90% de seu movimento feito digitalmente. Além de eventos híbridos, como o pregão realizado em parceria com a Cerrado Galeria, com unidades em Brasília e Goiânia, que vendeu um Alfredo Volpi (1896-1988) por cerca de 1 milhão de reais, a Blombô também oferece vinhos e bolsas. “E as garrafas não sobram nunca”, afirma Lizandra. Colecionadores e apreciadores disputam garrafas do francês Petrus, safra 1999, arrematado recentemente por 24 000 reais, e também uma bolsa Chanel modelo 11.12, criada por Karl Lagerfeld em 1983, e vendida por 32 000 reais.

No mercado desde 1986, James Lisboa acompanhou diversos movimentos artísticos, orgulha-se de ter conhecido Tarsila do Amaral (1886-1973) e sempre lidou com obras de arte, coleções de família e, mais recentemente, vinhos. O especialista testemunhou, ao longo de décadas, como o mercado foi se profissionalizando e o dinheiro mudando de mãos. Hoje em dia, encontra clientes com a mesma idade de quem produz obras contemporâneas valorizadas, de 30 a 60 anos. “Vik Muniz, Beatriz Milhazes e Daniel Senise têm alto poder de sedução entre esse novo público, que é bem informado e gosta de comprar on-line”, diz o veterano, que negociou os espólios do Banco Santos e da apresentadora Hebe Camargo (1929-2012), e tem comissão avaliada em 5% do valor das obras e garrafas que negocia. No primeiro semestre de 2024, suas operações totalizaram quase 8 milhões de reais. Dou-lhe uma, dou-lhe duas…
Publicado em VEJA, dezembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 9