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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

Um aluno relapso

Lula cita Reagan e Thatcher, mas nada aprendeu com eles

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 16 Maio 2025, 14h23 - Publicado em 16 Maio 2025, 06h00

“Sou de uma geração que aprendeu, na década de 1980, por meio de Reagan e Margaret Thatcher, que a melhor coisa para o mundo era a globalização e o livre comércio. Os produtos deveriam fluir livremente pelo mundo. O dinheiro deveria fluir livremente pelo mundo”, disse Lula em entrevista à revista The New Yorker na semana passada. Afirmação, eu diria, curiosa do presidente, tanto à luz da sua retórica desde a década de 1980 quanto sob o ponto de vista, principalmente, de suas ações em todos os mandatos. Não foram poucas as oportunidades que apareceram para o Brasil no período em que Lula (ou mesmo Dilma) se encontrava na Presidência da República, desde a Área de Livre Comér­cio das Américas (Alca), em 2003-2005, até o tratado de livre comércio com a União Europeia. Nenhuma dessas vingou.

É verdade que outros potenciais parceiros, no caso da União Europeia, impuseram obstáculos, em particular no que se refere às exportações agrícolas para aquele mercado, mas, a rigor, o atual governo brasileiro jamais se empenhou em levar adiante medidas de liberalização comercial. Hoje, a tarifa média do Brasil, ponderada pelo volume de comércio, se encontra ao redor de 8%, elevada em comparação a outros emergentes, como China (pouco mais de 2%), México (1,5%), Índia (6%), Indonésia (4%) ou nosso vizinho Chile (1,5%).

“Os governos do PT fecharam mais o país, prejudicando o consumidor e a capacidade de crescimento”

Não são apenas as tarifas que limitam o comércio exterior, porém. Barreiras não tarifárias incluem licenciamento não automático (farmacêuticos, químicos), regras sanitárias (alimentos), restrições setoriais (automóveis), regras digitais e de serviços (e-commerce), além de burocracia e logística. O Brasil aparece em relatórios da OMC e da OCDE como um país com barreiras não tarifárias elevadas, pouco transparentes e de altos custos regulatórios. Não por outro motivo, somos um dos países mais fechados ao comércio entre as economias grandes e médias, o que se traduz, entre outras características, em baixo — para não dizer inexistente — crescimento da produtividade nos últimos anos, com exceção notável da agropecuária, não por acaso o setor mais integrado do ponto de vista de transações com o resto do mundo.

Isso dito, os ganhos associados à maior integração comercial não precisam de reciprocidade. É possível, aliás, recomendável, avançar mesmo que unilateralmente nessa frente: se os demais países têm rochedos que dificultam o comércio, não precisamos fechar nossos portos com pedras. Movimentos nessa direção nos anos 1990 possibilitaram expansão mais robusta da produtividade, visível na década seguinte, inclusive na indústria de transformação, segundo estimativas de Fernando Veloso, embora ainda tenha ficado bem aquém do observado na agricultura. No entanto, em todos os governos do PT o que se observou foram medidas no sentido contrário, isto é, de fechar ainda mais a economia à concorrência internacional, preservando empresas ineficientes, prejudicando tanto o consumidor local quanto nossa capacidade de crescimento de longo prazo. Não admitem sequer fazer parte da OCDE, quanto mais permitir que produtos fluam “livremente pelo mundo”.

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Para alguém que alega ter aprendido com Reagan e Thatcher, Lula segue como um aluno relapso que se recusa a fazer a lição de casa.

Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944

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