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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

Mentiras e estatísticas

O secretário de Política Econômica precisa prestar mais atenção

Por Alexandre Schwartsman 31 out 2025, 06h05 • Atualizado em 31 out 2025, 14h13
  • O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, cometeu verdadeira pérola de análise econômica na Folha de S.Paulo. O artigo, assim como a pérola, nasce de uma irritação, no caso contra Marcos Mendes, analista que há muito expõe com precisão os muitos pecados da política adotada por Haddad e Mello no Ministério da Fazenda.

    Para tentar desmentir Mendes, Mello apela para um dos truques mais conhecidos no debate público: o uso de médias para esconder o que de fato ocorreu com as contas federais no atual governo em comparação aos anteriores.

    Tomemos o caso dos gastos públicos. O secretário afirma que a média do atual governo será inferior a 19% do PIB. O que ele não conta é que herdou despesa na casa de 18% do PIB, valor que já subiu para 18,7% nos doze meses até agosto deste ano e, de acordo com a Lei Orçamentária enviada pela administração ao Congresso em agosto, deve atingir 18,8% do PIB no ano que vem (provavelmente mais, mas uso os números oficiais).

    Da mesma forma, vangloria-se que o governo irá registrar déficit médio de 1% “ao ano” (na verdade, 1% do PIB), contra média superior a 2% do PIB nos governos anteriores, mas omite a trajetória fiscal. Temer assumiu com o déficit em 2,2% do PIB e o reduziu para 1,7% do PIB; Bolsonaro transformou esse déficit em superávit, 0,5% do PIB em 2022.

    Já o governo Lula reverteu o progresso: o superávit de 0,5% do PIB tornou-se déficit de 0,2% do PIB nos doze meses até agosto e, segundo a revisão apresentada pela própria equipe econômica em setembro, deve alcançar 0,6% do PIB no final deste ano.

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    “O governo irá reverter o superávit de 0,5% do PIB em 2022 para um déficit de 0,6% neste ano”

    Dito de outra forma, o uso das médias, certamente por coincidência, oculta o avanço das gestões que sucederam à administração Dilma, assim como a piora observada sob Lula. E, provavelmente por esquecimento, também não há uma palavra sobre o aumento expressivo da dívida pública entre dezembro de 2022 (71,7% do PIB) e agosto de 2025 (77,5% do PIB). Tampouco aborda a elevação da taxa real de juros. Não me refiro apenas à Selic, que vale para o curto prazo e reflete o desequilíbrio entre oferta e demanda causado pelos gastos do governo, mas também, e principalmente, às taxas mais longas, sensíveis às perspectivas de solvência da dívida. Estavam na casa de 6% ao ano no final de 2018 e 2022 e hoje superam 7% ao ano.

    A verdade é que na atual gestão, já descontada a inflação, os gastos federais subiram nada menos que 280 bilhões de reais, dos quais 217 bilhões em transferências a famílias (INSS, Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada, assim como abono e seguro-desemprego). Vale dizer, o aumento resultou de decisão consciente do governo, cujos custos se tornam visíveis na elevação da dívida e da taxa de juros.

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    Diz o secretário que “a terceirização das responsabilidades não faz parte do arsenal retórico do atual ministro da Fazenda”. Todavia, há cerca de um mês, o ministro afirmou que “o aumento de despesas no atual mandato é fruto de gastos contratados em anos anteriores, especialmente na gestão de Jair Bolsonaro”. Para alguém que cita Ulysses Guimarães para defender “suas excelências, os fatos”, o secretário parece prestar pouquíssima atenção à realidade ao seu redor. Ou pior: presta, mas escolhe ignorá-la.

    Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968

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