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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

Destruição inútil

É ilusão achar que tarifas mais altas reduzem o déficit comercial

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 2 Maio 2025, 11h03 - Publicado em 2 Maio 2025, 06h00

Inerente à imposição das tarifas de importação nos EUA é a crença de que o resultado da balança comercial seria afetado por elas. Afinal de contas, se as tarifas encarecem as importações, devem reduzi-las; consequentemente, dadas as exportações, o déficit comercial encolheria. Um exame algo mais minucioso da frase acima já sugere a pista do motivo de as coisas não se comportarem exatamente da forma que a visão mais ingênua imagina: “dadas as exportações”, isto é, a ideia de que tarifas mais altas só afetariam um dos lados da equação, deixando as exportações de fora.

Há, contudo, motivos fortes para imaginar que isso não seja verdade; em particular, as exportações tipicamente cairão em resposta à redução das importações, ou ficarão constantes, se as importações não se alterarem.

Começando pelo básico, resultados negativos da balança comercial correspondem a uma demanda interna maior do que a produção local. Portanto, há a necessidade de complementar a oferta doméstica com importações maiores que as exportações. Isso é particularmente verdadeiro numa economia que opera — como os EUA — muito próxima do seu potencial, com uma taxa de desemprego reduzida. Sob essa condição, a capacidade de elevar a oferta doméstica é praticamente inexistente, de modo que qualquer elevação da demanda interna tem que ser satisfeita com importações adicionais, ou queda das exportações.

“Sem saber como os suprimentos ficarão, empresas postergam ou cancelam investimentos”

É fácil concluir, assim, que a elevação das tarifas não deve reduzir o déficit comercial, porque por si só não altera nem a demanda interna, nem a capacidade de resposta da produção local. Se as importações caem em resposta às tarifas, as exportações também devem fazê-lo, para atender à demanda interna na ausência do produto importado. Evidentemente, os itens exportados não são os mesmos que os importados, o que deve levar a barateamento dos exportados, para que demanda e oferta doméstica se equilibrem. Há também a possibilidade, mais extrema, de que o fortalecimento do dólar anule o efeito das tarifas. Nesse caso, o preço em dólares dos produtos importados se mantém inalterado, de modo que as importações não caem, permitindo que a demanda local seja satisfeita e, portanto, as exportações também permaneçam constantes.

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Em ambos os casos o déficit não se altera, porque a causa última do resultado negativo, o excesso de demanda sobre a produção, permanece. Tarifas, portanto, só podem alterar o resultado da balança se promoverem elevação da oferta doméstica (no caso americano, limitada pelo pleno emprego da mão de obra), ou se, de alguma forma, contribuírem para a redução da demanda doméstica. Em condições normais, não há por que imaginar que tarifas tenham impacto sobre o consumo das famílias, ou sobre o investimento (ou ainda o gasto do governo). Todavia, a incerteza sobre as tarifas pode ter esse efeito.

Sem saber como ficarão as cadeias globais de suprimentos, é possível que empresas posterguem — ou cancelem — investimentos. Aí, sim, o déficit comercial se reduziria, mas seria uma vitória de Pirro, dado que menores investimentos (ou consumo) implicariam menor atividade, logo, maior desemprego. Isso equivale a botar fogo na casa para matar o rato que sequer mora lá.

Publicado em VEJA de 2 de maio de 2025, edição nº 2942

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