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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central
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A opção nuclear

A inflação americana caiu; o juro deve demorar algo mais

Por Alexandre Schwartsman
Atualizado em 4 jun 2024, 09h52 - Publicado em 24 nov 2023, 06h00

Num mundo em que não faltam tensões geopolíticas, o título do artigo é chamativo, mas não trato aqui de questões militares, e sim da forma como economistas analisam o comportamento da inflação e, mais importante, suas implicações para a política econômica.

A medida de inflação é algo muito simples: uma média ponderada das variações de preços de bens e serviços, de “arroz” a “combo de telefonia, internet e TV por assinatura” no caso do IPCA, nosso termômetro oficial, composto por 377 itens.

Já se ela captura mesmo aquilo que economistas entendem por “inflação”, isto é, o aumento persistente do nível geral de preços, a resposta é bem mais complicada.

Há preços que variam muito de mês a mês, em ambas as direções; outros se movem comparativamente pouco, mas quase sempre num único sentido. O primeiro conjunto, de preços voláteis, traz mais ruído que informação, pelo menos na leitura mensal de inflação; já o segundo costuma nos dar informações mais confiáveis sobre seu comportamento recente.

Medidas que dão mais peso aos componentes pouco voláteis do índice de preços são conhecidas no jargão como “núcleos de inflação” e frequentemente norteiam análises do fenômeno, inclusive a dos próprios bancos centrais.

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BCs precisam entender em particular se a variação observada de preços é persistente (e não fruto de flutuações de curtíssimo prazo), bem como ter uma ideia mais clara da força desses movimentos. Desenvolveram assim um pequeno arsenal de “núcleos”, alguns mais simples (por exemplo, definindo a priori preços que consideram voláteis, como alimentos e energia no caso americano), outros um pouco mais elaborados.

Tais métricas não necessariamente são bons indicadores de como a inflação se comportará no futuro, mas costumam nos dar uma ideia mais clara de como se comporta naquele momento.

“Ainda teremos que conviver algum tempo com a taxa de juros básica americana próxima a 5,5% ao ano”

No caso americano, a inflação “cheia” nos últimos três meses variou um bocado, atingindo 0,63% em agosto (equivalente a uma velocidade anual de quase 8%), mas caindo a 0,05% em outubro (apenas 0,5% ao ano). Por outro lado, a média de cinco diferentes “núcleos” de inflação nos mesmos meses revela certa estabilidade do ritmo de aumento de preços, 0,34% e 0,30%, respectivamente.

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Por essa ótica, a inflação lá tem rodado na casa de 4,0%-4,5% ao ano nos últimos poucos meses, bem menos do que os valores ao redor de 7% ao ano registrados em meados do ano passado, mas ainda longe da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve. É um progresso respeitável em intervalo até que curto comparado a experiências anteriores, mas não há como ignorar que falta um tanto para que a inflação retorne à meta.

Parece, portanto, afastado o risco de novas rodadas de elevação de juros nos Estados Unidos, perspectiva que levava ao fortalecimento do dólar frente às demais moedas globais e, consequentemente, também em relação ao real.

Não se afigura provável, contudo, reverter tão já o processo iniciado em 2022, quer dizer, ainda teremos que conviver algum tempo com a taxa de juros básica americana próxima a 5,5% ao ano.

Isso tem implicações relevantes para o comportamento do juro no Brasil, assunto que tratarei na minha próxima coluna.

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Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2023, edição nº 2869

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