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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O dólar a R$ 6 é piso

Como as crises diárias de Bolsonaro podem explodir o câmbio

Por Thomas Traumann
7 Maio 2020, 18h57

No dia 4 de março, meros dois meses atrás, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi questionado sobre a alta do dólar, que à época chegara a R$4,65. Em um tom professoral, o ministro ensinou: “Lembra o câmbio flutuante? Que flutuava entre R$1,80 ou R$ 2,20? A flutuação dele agora é num nível mais alto: R$ 3,60, R$ 4,60. É um cambio que flutua. Se fizer muita besteira, ele pode ir pra R$ 5. Se fizer muita coisa certa, ele pode descer”.

Nesta quinta-feira, 7, o dólar fechou a R$ 5,87, 2,43% a mais do que ontem. Desde a bravata de Guedes, o real se desvalorizou em mais de 26%. Nenhum país importante teve uma desvalorização tão brutal. Besteira foi o que não faltou.

Há vários motivos estruturais para essa variação. A recessão mundial afasta os investidores de países instáveis como o Brasil e a nova rota da taxa Selic tirou o principal atrativo da bolsa brasileira, o ganho fácil com a diferença de juros aqui e lá fora. Com a taxa Selic agora em 3% e caminhando para perto de 2% até o final do ano, deixou de ser vantajoso entrar no Brasil apenas pela diferença de juros.

Os investidores estrangeiros estão fugindo. No ano passado, retiraram R$ 44,5 bilhões do País _ recorde histórico. Pois bem, neste ano está sendo pior. Até a última segunda-feira, 4, os estrangeiros retiraram R$ 44,8 bilhões do mercado brasileiro. Só na terça-feira, 5, quando já estava evidente a tendência do BC de cortar juros, R$ 659 milhões saíram do país.

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Portanto, parte da desvalorização tem motivos fora de controle direto. Há duas razões, no entanto, cuja conta deve ir para o terceiro andar do Palácio do Planalto, onde despacha o senhor Jair Bolsonaro.

A mais evidente é a instabilidade política criada por Bolsonaro na gestão do coronavírus. Primeiro ele minimizou os efeitos da doença, depois incentivou a volta ao trabalho, demitiu o ministro da Saúde, brigou com os governadores e, ainda hoje, foi pressionar o Supremo Tribunal Federal a apoiá-lo. A condução do presidente no combate à pandemia custará milhares de vidas (CPFs) e milhões de empregos (CNPJs).

O segundo motivo é histeria do governo em apoiar as categorias de servidores públicos para manter aumentos de salários nos próximos anos, em um momento em que o País inteiro estará sob recessão. Sem consultar Paulo Guedes, o líder do governo Major Vitor Hugo assinou um projeto excluindo dezenas de categorias do congelamento de salários. O general Luiz Ramos, responsável pela articulação política do governo, deu aval. Hoje o presidente Bolsonaro disse que irá vetar a medida pró-servidores. Você acredita? Eu só depois de sair no Diário Oficial. Bolsonaro sempre apoiou as corporações.

Para este ano, o déficit do governo vai superar os R$700 bilhões e todo mundo está tranquilo. Mas com essas exceções para servidores, a negociação ruim da dívida dos Estados e a falta de critérios claros para pós-pandemia, a tendência é que a crise econômica prossiga no ano que vem.

Por isso, o dólar a R$ 6 virou piso. Nas condições atuais, com as crises diárias provocadas pelo presidente, com a falta de coordenação entre Estados e União para combater a pandemia e o fogo amigo contra Paulo Guedes, o Brasil está fazendo besteiras para explodir o câmbio até o fim do ano.

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