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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Boas férias, Paulo Guedes

O ministro da Economia deveria aproveitar a licença para repensar seu papel no governo

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 dez 2020, 14h12

O ministro Paulo Guedes vai entrar de férias nesta sexta-feira, 18, para retornar em 8 de janeiro. É um descanso merecido. Guedes tem um emprego muito mais duro que o seu ou o meu.

Férias ajudam a descansar o corpo e recolocar a mente no lugar. É a oportunidade para olhar o seu trabalho com algum distanciamento e analisar com frieza o que poderia ter sido feito melhor e o que pode mudar. Você pode voltar ao trabalho reenergizado, com mais fôlego e novas ideias (lógico que esse ideal da distância do trabalho não existe para quem vai passar os dias cuidando de bebês).

Ministro mais importante do governo, Guedes poderia aproveitar essas semanas para pensar no que o fez desejar ser ministro e o que mudou nesse meio tempo. Voltando um pouco no tempo: em novembro de 2017, Paulo Guedes se encontrou com o apresentador Luciano Huck para convencê-lo a ser candidato a presidente com base em um programa econômico liberal. Huck titubeou e Guedes partiu para conhecer o deputado Jair Bolsonaro, que à época já estava em segundo lugar nas pesquisas. Diferentes em tudo, Bolsonaro e Guedes tiveram um amor à primeira vista.

Guedes assumiu o governo acreditando ser um superministro. Juntou debaixo de si as responsabilidades das antigas pastas da Fazenda, Planejamento, Trabalho, Indústria e Previdência, numa repetição do que seu ídolo Mario Henrique Simonsen tentou ao criar a Secretaria do Planejamento da Presidência, em 1979. Deu errado antes, deu errado agora. Superministros, assim como os boitatás, não existe. O que existe é o presidente montado em milhões de votos mandando em um ministro com contas para pagar.

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Mas o superlativo é o menor dos problemas da gestão de Guedes. Quando ele chegou, a economia estava rodando a 1,8% e, antes da pandemia, ela já havia caído para 1,1%. A reforma da previdência _cujo debate se iniciou em 2016_ foi aprovada às duras penas, mas a agressividade do ministro empurrou no atoleiro todas as outras reformas. O ímpeto reformista da Câmara e do Senado foi desperdiçado por picuinhas. A superioridade do Ministério da Economia sobre outras pastas foi perdida com as brigas internas. A obsessão em anunciar planos para a “semana que vem” corroeu a credibilidade da palavra do ministro, agravada pela sua incapacidade de defender as regras democráticas quando foi necessário.

Se decidisse não voltar ao trabalho em janeiro, Guedes entraria para a história por ter criado, em semanas, o maior programa de combate à miséria no mundo, o Auxílio Emergencial. Sem o Auxílio, o Brasil teria explodido neste ano. Porém, quando Guedes teve a oportunidade de corrigir os erros do programa e torná-lo parte da estrutura social, fracassou. Em janeiro, os 30 milhões de trabalhadores informais que Guedes se orgulhava de ter “descoberto” serão jogados em um mercado com desemprego em alta e atividade em baixa.

O Guedes que retorna em 08 de janeiro, porém, terá uma nova chance. O efeito do fim do Auxílio na renda dos mais pobres e na economia em geral só será minimizado se houver uma campanha de vacinação em massa que imunize os 162,8 milhões de brasileiros acima de 18 anos. Isso significa não apenas aumentar a dotação orçamentária do Ministério da Saúde (na prática, o plano do ministro Eduardo Pazuello só garante vacinas para 50 milhões), mas cobrar metas, resultados e, principalmente, enfrentar e dobrar o negacionismo do presidente Bolsonaro. Guedes sabe que sem vacina não há perspectiva de crescimento e sem perspectiva de crescimento não há motivo para permanecer no governo.

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