Furar o teto ou mudar o teto? Bolsa despenca, dólar sobe e juros disparam
VEJA Mercado: bolsa chegou a cair 4,5% durante o pregão e o dólar beirou os R$ 5,70

VEJA Mercado | Fechamento | 21 de outubro.
O mercado não engoliu muito bem a sutileza de, em vez de furar o teto de gastos, o governo propor uma mudança nesse dispositivo. A “licença para gastar” do ministro da Economia, Paulo Guedes, definitivamente não foi bem digerida pelos investidores. O Ibovespa chegou a cair 4,5% durante a sessão. Acabou fechando em queda de 2,9%, a 107.597 pontos, quando, já na reta final das negociações, o relator da PEC dos precatórios incluiu a mudança do teto no texto do projeto. O dólar fechou em alta de 1,9%, a 5,66 reais, a maior cotação desde abril. Tudo isso porque o governo deve mudar o cálculo da correção do teto de gastos, que, hoje, leva em conta o acumulado do IPCA em 12 meses até junho do ano anterior ao de vigência do teto. A equipe econômica quer corrigir pela inflação de janeiro a dezembro, o que poderia abrir uma folga de 40 bilhões de reais no teto. Caso a PEC dos precatórios passe pelo Congresso, a verba extra em pleno ano eleitoral poderia chegar a 83 bilhões de reais.
Assim como a bolsa, os juros futuros dispararam. O DI para 2023 fechou a 10,51%, uma alta de 3,5% enquanto o DI para 2031 quebrou a barreira dos 12%, a 12,1%. Já o dólar chegou a bater 5,68 reais durante o dia. Fechou a 5,66 reais.
Guedes sabe que o teto de gastos é um dos assuntos mais sensíveis para o mercado financeiro, e a resposta a uma possível proposta de mudança na formulação do dispositivo não foi das melhores. “Já tínhamos um ambiente interno estressado pela inflação. Havia a expectativa de que um risco fiscal menor fosse um catalisador na bolsa para o final do ano, mas essa proposta que ninguém entendeu muito bem foi mal digerida pelos investidores. O mercado não reagiu bem à mudança do teto”, diz Gianlucca Montuori, sócio e especialista em renda variável da Acqua Vero. Para os investidores, a única certeza é que as incertezas não devem passar tão cedo. “Ano eleitoreiro próximo, inflação nas alturas, curva de juros em ascensão e uma mudança repentina no teto. Fica difícil fazer qualquer tipo de planejamento na renda variável, o investidor corre para a renda fixa”, diz Armstrong Hashimoto, operador de renda variável da Venice Investimentos.