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Por Murillo de Aragão
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Profecias autorrealizáveis

Reforçar a narrativa do golpe de Estado cria um cenário perigoso

Por Murillo de Aragão Atualizado em 10 jun 2020, 14h31 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00

Devemos ter muito cuidado com o fenômeno das profecias autorrealizáveis. A questão é séria. O termo foi criado pelo sociólogo americano Robert Merton e chegou à psicologia, onde o assunto foi objeto de estudo. O americano nascido na Alemanha Robert Rosenthal, ao descrever seus experimentos com estudantes sobre o tema, concluiu que “alguém profetiza um evento, e a expectativa (pela realização) do evento muda o comportamento de quem fez a profecia de tal modo que torna a profecia mais provável”.

Essa reflexão se justifica pelo fato, hoje corrente no Brasil, de que muitos que apoiam o governo Jair Bolsonaro se movem em torno da narrativa de que haverá uma ruptura institucional. Para uns, como reação a uma “derrubada” institucional que, segundo eles, viria do Supremo Tribunal Federal. Para outros, como uma ação preventiva a um possível golpe institucional. Baseadas em interpretações que reúnem evidências, suposições e delírios, tais narrativas amparam-se na tese do “não é possível que” o Judiciário não deseje o fim deste governo. Vamos aos fatos.

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Em primeiro lugar, o governo Bolsonaro não é popular no mundo institucional porque adota uma narrativa anti-establishment, a qual, sem entrar no seu mérito, é bastante agressiva. Em segundo lugar, ao decidir por uma narrativa agressiva contra inimigos diversos — imprensa, Congresso Nacional, Supremo —, o governo desperta uma reação corporativista que vai além da questão que está sendo discutida. Como disse Newton, toda ação gera uma reação.

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“Embora a hipótese de um golpe seja remota, devemos ter cuidado para que não alimente outros fenômenos”

Posto que o conflito está instalado mesmo que em bases frágeis, precisamos definir agora o que significaria “ruptura institucional”. Temos dois cenários básicos: um golpe militar contra o governo ou um autogolpe com apoio militar. Contudo, nas atuais circunstâncias, ambos se apresentam altamente improváveis. Não há desejo nem interesse das Forças Armadas em atuar além dos limites constitucionais. Tampouco existe na sociedade força suficiente para promover uma ruptura. Isso porque a aprovação do governo, no momento, alcança quase 50% — entre “ótimo” e “regular” —, o que cria uma polarização equilibrada.

O que resultará dessa confusão? Embora a realização da profecia de que “podemos ter um golpe” seja remota, devemos ter cuidado para que ela não alimente outros fenômenos. Seja por parte dos que apoiam o governo, com a exacerbação anti-establishment e a ocorrência de atos de violência, seja por parte dos que são contra, que também podem partir para a violência, conforme vimos nas manifestações da Avenida Paulista no fim de semana passado.

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No entanto, atos isolados de violência, de lado a lado, podem ser um cenário alternativo ruim e não devem ser descartados. Não devemos dar chance ao azar alimentando narrativas de confronto que podem estimular a violência e aumentar os riscos de uma grave instabilidade institucional.

Pessoas e instituições, em especial os poderes constituídos e a imprensa, precisam ter juízo e calma. As narrativas de ruptura devem ser realisticamente avaliadas e relativizadas sob a óptica de que não vão se realizar. Tampouco atendem ao interesse do país, em grave crise sanitária e econômica, e dos milhões de desempregados e economicamente vulneráveis.

Publicado em VEJA de 10 de junho de 2020, edição nº 2690

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