Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Murillo de Aragão
Continua após publicidade

A Lua vem da Ásia

O dragão precisa reconstruir sua imagem perante o mundo

Por Murillo de Aragão Atualizado em 24 abr 2020, 19h35 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00

A China é, de longe, o maior parceiro comercial do Brasil. E qualquer análise sobre a relação com um parceiro deve considerar aspectos estratégicos. Nas declarações de personalidades ligadas ao governo brasileiro, contudo, tal cuidado não foi levado em conta e gerou atritos desnecessários com o país.

A eclosão da pandemia de Covid-19 alterou tudo. E parece que nem os chineses nem nós percebemos todas as mudanças. Inclusive, e sobretudo, o papel deles como potência mundial. Se antes era inquestionável que a China assumiria liderança em nível global, hoje tal hipótese é muito discutível.

Independentemente de provar que o novo coronavírus foi produzido, ou não, em um laboratório chinês acidentalmente, ou que veio de seus mercados de baixas condições sanitárias, o comportamento da China no desenrolar da crise já abalou o conceito do país cuja imagem de opacidade não era positiva.

Como na política, nas relações internacionais as versões são mais importantes que os fatos. A percepção que ficou da China no episódio foi de ausência de empatia com o resto do planeta, por não alardear de imediato os riscos que todos corriam, e de falta de transparência para enfrentar o problema.

Além disso, a China encobriu o real número de contaminados e mortos. A ponto de, recentemente, a quantidade de óbitos em Wuhan, onde a doença foi detectada pela primeira vez, ter sido publicamente ajustada para cima em mais de 50%. Outro fato é que há a suspeita de que a epidemia em Wuhan já estaria em curso ao longo de dezembro.

Continua após a publicidade

“A percepção que ficou da China na crise da Covid-19 foi de ausência de empatia com o resto do planeta”

Especula-se, ainda, que o país teria usado potenciais ajudas humanitárias para impulsionar o avanço do gigante chinês Huawei, multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações, tendo em vista futuras operações de 5G no planeta. Tal movimento, se confirmado, mostra uma inacreditável falta de senso de humanidade.

Na prática, o software político da China não funciona bem para desafios mundiais. É uma potência militar e econômica, mas sem soft power e uma leitura adequada das circunstâncias globais para saber construí-lo.

Por isso esta crise remete ao acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido em abril de 1986, quando se revelou a incompatibilidade da União Soviética com o resto do mundo de então. Quando o reator 4 da usina nuclear explodiu, liberando radiação equivalente a 500 bombas atômicas, o governo soviético tentou abafar o episódio.

Continua após a publicidade

A forma escolhida pelos chineses para combater a disseminação do novo coronavírus, no fim das contas, prejudicou a própria China. As consequências poderão ser vistas em breve em decisões governamentais de países importantes — no que toca à compra de equipamentos, em especial na questão do 5G, e a pedidos de compensações e condenações públicas.

A solução para o problema de imagem da China reside na recuperação da credibilidade de suas iniciativas, tanto comerciais quanto humanitárias. Credibilidade que se constrói com a agregação de valores como empatia, solidariedade e transparência.

Ao Brasil não interessa o fracasso da China. Pelo contrário, a retomada do crescimento em cada país e a reativação do comércio internacional são cruciais para nós.

Mas a China terá de se reinventar e dar valor a atitudes como a autocrítica, o reconhecimento dos erros cometidos e a busca sincera por maior transparência.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.