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Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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Especulação benéfica

Está errada a percepção comum sobre a atividade financeira

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 16 ago 2021, 10h21 - Publicado em 14 ago 2021, 08h00

Em artigo no Estadão (10/7/2021), o sério e competente presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que “no mundo das finanças a especulação é uma espécie de aposta, geralmente não racional e sem fundamentação empírica, que tem em vista auferir ganhos exorbitantes”. O raciocínio foi usado contra o “ataque especulativo contínuo, inexplicável e absurdo à CoronaVac”, vacina produzida em parceria da Sinovac com o instituto.

O paralelo não faz sentido. Covas valeu-se da percepção — comum, mas equivocada — de que a especulação é condenável. Há até quem considere que a atividade financeira é o território de parasitas. Na semana anterior, o papa Francisco externou visão semelhante ao criticar a “especulação que domina os mercados financeiros”. Ele defendeu “uma economia diferente, mais justa, inclusiva e sustentável”. Disse que a especulação deveria ser “estritamente regulamentada”. O sumo pontífice exagerou.

Segundo o dicionário Houaiss, a especulação “visa a obter lucros sobre valores sujeitos à oscilação do mercado”. Registra também que a especulação pode ser um “estudo teórico, baseado predominantemente no raciocínio abstrato”. Não se menciona nenhum caráter reprovável da especulação.

“Sem os especuladores, as bolsas de valores não funcionariam e a agricultura não prosperaria”

Os livros de finanças ensinam que especular é adquirir um ativo financeiro, uma commodity ou um imóvel na expectativa de futura valorização. O especulador é ator relevante para o funcionamento dos mercados. Sem ele, seria muito custoso transacionar ativos reais ou financeiros. Quem compra ações e outros ativos especula, no bom sentido.

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Como os mercados financeiros não são eficientes, geram-se oportunidades de arbitragem e especulação que acarretam sua movimentação. Sem os especuladores, as bolsas de valores não funcionariam. Sem as bolsas de commodities, que sinalizam preços, a agricultura e a mineração não prosperariam. Ao emprestar, o banco especula que vai receber o dinheiro adiantado a empresas e consumidores, assim contribuindo para a expansão da economia. Antes disso tudo, os empreendedores dependiam de si mesmos, dos parentes e dos amigos para tocar seus negócios.

Os mercados funcionam melhor quando se beneficiam da fluidez e da abrangência de informações. Não por acaso, a invenção da impressora de tipos móveis por Gutenberg (1450) e a subsequente ampliação de informações contribuíram decisivamente para o desenvolvimento dos mercados a partir do século XVII. Nos mercados de capitais, constitui crime sonegar informações relevantes ou disseminá-­las de forma desonesta.

Claro, existe a especulação que desestabiliza os mercados, mas essa disfunção não é frequente onde os sistemas financeiros são bem regulados. Neles, as informações disseminadas pelo governo, pelas empresas e pela imprensa geram previsibilidade. Ataques especulativos são típicos de erros de política econômica que geram valorização artificial e insustentável da moeda ou bolhas nos mercados acionários. Fora disso, a especulação é parte natural do jogo econômico e da geração de riqueza.

Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751

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