Líder em cannabis medicinal teme retrocesso regulatório no Brasil
Recém-promovido a diretor-geral da unidade local da americana HempMeds, Matheus Patelli falou ao Cannabiz sobre suas perspectivas para o mercado

Com mais de 50% de participação autodeclarada no mercado de cannabis medicinal brasileiro, a HempMeds Brasil promoveu, no mês passado, uma reorganização em sua liderança e alçou Matheus Patelli, então diretor de marketing e vendas, ao cargo de diretor-geral. Segundo a empresa americana, a mudança facilitará a atuação da equipe local frente às particularidades do nosso mercado. “Agora vamos concentrar nosso foco no cenário brasileiro, com estratégias e iniciativas que levem em conta a realidade nacional, cuja regulamentação é muito diferente das demais regiões em que atuamos”, explicou Patelli em entrevista exclusiva ao Cannabiz.
E é justamente o arcabouço legal que preocupa o executivo. “Nosso segmento é refém da regulamentação. Mudanças regulatórias têm o poder de fazer o mercado evoluir ou ruir, dependendo do caminho escolhido pelas autoridades. Por isso, o trabalho de informação e esclarecimento da sociedade a respeito da cannabis medicinal é imprescindível para a consolidação do setor no Brasil”, defende. Patelli destaca o trabalho da HempMeds nessa área, tanto no treinamento de médicos quanto no investimento em pesquisas que produzam evidências científicas cada vez mais robustas acerca das terapias com canabinoides.
Aos 29 anos, Patelli é um dos mais jovens líderes da cannabis medicinal no Brasil e, assim como seus pares e competidores, tem a missão de expandir um mercado ainda muito aquém de suas possibilidades. “Pouquíssimos médicos prescrevem cannabis no Brasil, seja por preconceito, por insegurança ou por falta de informação. Nós temos a obrigação de fornecer esse conhecimento para 100% dos possíveis prescritores. O médico pode até não prescrever produtos com cannabis, mas ele precisa conhecer e saber do que se trata”, afirma. Patelli garante que a HempMeds não vincula seus cursos e seminários aos produtos da marca, mas reconhece que essas atividades fazem com que a empresa se torne referência no segmento e, consequentemente, acabe sendo a escolhida no momento da prescrição. “Os médicos confiam na informação que passamos a eles, porque nosso conteúdo é todo sustentado por fatos, dados e evidências com rigor científico”, explica.
Ao lado dessa frente, digamos, informativa, a outra prioridade da HempMeds é registrar seus produtos no Brasil para que eles possam ser vendidos nas farmácias. Atualmente, há apenas dois produtos com esse status no país, um da inglesa GW Pharma e outro do laboratório paranaense Prati Donaduzzi. “Hoje o paciente brasileiro só encontra nas drogarias duas opções, que não são suficientes para atender à demanda, principalmente porque as formulações são limitadas e não cobrem todas as patologias para as quais o tratamento com cannabis pode ser recomendado. A HempMeds tem, sozinha, 18 produtos com as mais diferentes combinações de canabinoides, cada uma delas com uma indicação terapêutica específica”, diz.
Patelli também lamenta a demora na autorização para o cultivo da cannabis no Brasil, objeto do projeto de lei 399/2015, que tramita na Câmara dos Deputados. “Além da liberação do cultivo, a aprovação da proposta ainda poderia abrir uma nova fronteira para o agronegócio brasileiro, com a introdução do cânhamo industrial. Com essa variedade não-psicoativa da cannabis, podemos produzir, além de medicamentos, tecidos, materiais de construção, suplementos alimentares e uma infinidade de outros produtos”, argumenta. “Não podemos perder essa oportunidade, mas eu não estou muito otimista [com relação à aprovação do PL]”, admite.