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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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O Facebook é uma ameaça à democracia?

Um dos criadores da rede defende que sim. E isso tem tudo a ver com a expulsão de extremistas de direita e com o (possível) fim dos likes no Instagram

Por Filipe Vilicic Atualizado em 9 Maio 2019, 18h46 - Publicado em 9 Maio 2019, 17h26

Chris Hughes está entre os cinco fundadores do Facebook. Depois de Mark Zuckerberg, foi o mais importante para a trajetória da empresa, com, por exemplo, papel decisivo na criação de como é a timeline do site. Dono de uma fortuna avaliada em cerca de 500 milhões de dólares, deixou a empresa e alçou outros voos. Só que, recentemente, começou a ter certa vergonha de ter participado do crescimento do Facebook sem acender alertas a como a rede social seria uma agressão à democracia e à liberdade de expressão.

Hoje (09/05), Hughes publicou um artigo incisivo no jornal The New York Times. Lista, no texto, os principais problemas do Facebook. Como:

“Controla as três das principais plataformas de comunicação – Facebook, Instagram e WhatsApp – (…) O conselho do Facebook é mais como um comitê (…) porque Mark controla em torno de 60% das ações com direito a votos. Mark, sozinho, (…) faz as regras de como distinguir falas incendiárias e violentas das meramente ofensivas, e escolhe fechar um concorrente o adquirindo, bloqueando ou imitando”.

Hughes elenca erros do Facebook. A exemplo de como foi usado para manipular eleições nos Estados Unidos (e assim também foi no Brasil); a lerdeza de lidar com a ação de espiões russos; a retórica violenta e as fake news; e de como tem capturado cada vez mais o tempo e a atenção das pessoas, viciando-as. O cofundador do Facebook diz sentir “raiva e responsabilidade”.

O cenário desenhado por Hughes tem tudo a ver com diversos acontecimentos recentes no site. São muitos os exemplos. Vale se ater a dois.

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Primeiro, a expulsão, no mês passado, de diversos grupos e líderes da extrema direita. Neste caso, trata-se de Zuckerberg mostrando como é ele quem decide o que pode ou não ser falado. Não haveria problema algum nisso. Afinal, a empresa é dele. Mas isso se houvesse competição, se tivesse para onde os expulsos migrarem.

Como o Facebook pode ser visto, na prática, como um monopólio – Hughes assim avalia –, aí nasce o problema. Ao saírem da rede, os extremistas – de cujas opiniões tenho total ojeriza, deixo claro – não têm para onde ir. Nesse caso, eu e você podemos até discordar das posições desses grupos radicais. Todavia, isso vem ao caso?

Talvez não. Pois, se hoje Zuckerberg decide por expulsá-los, amanhã também pode optar por excluir jornalistas que não concordem com ele. Ou então outros grupos políticos. Ou ainda conseguiria manipular informações que circulam pela rede social para incentivar pessoas a votarem em um candidato a presidente selecionado por ele próprio.

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Tudo isso pelo Facebook ser um monopólio. Repito: se tivessem outras plataformas de igual patamar, haveria para onde correr, e tudo certo. Aqui vale lembrar: o Facebook também é dono do WhatsApp e do Instagram; nem adianta fugir para esses.

Segundo, como o Facebook agora se esforça para voltar a ser um espaço íntimo. No qual pessoas trocam mensagens com familiares e amigos, principalmente. Em vez de se depararem com e espalharem fake news, discurso de ódio etc.

Para tanto, Zuckerberg anunciou, também em abril, uma séria de medidas. Como privilegiar grupos e eventos privados, recursos de relacionamentos amorosos etc. E há muito mais. Especula-se que existem planos até para eliminar a visibilidade do botão curtir, o like, do Instagram – assim perderiam os influenciadores digitais, as mídias, as marcas (ou melhor, as marcas que não pagassem para se destacar no aplicativo). Por outro lado, seria incentivada a propaganda (repito: a paga ao Facebook) e as relações mais pessoais, entre indivíduos próximos.

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Mais uma vez, nenhum problema se o Facebook não fosse um monopólio em seu segmento. Mas ele é.

“Foi criado um leviatã que impede o empreendedorismo e restringe as escolhas do consumidor. É dever de nosso governo assegurar que nunca percamos a mágica da mão invisível”. Com a fala, Hughes deu início às suas propostas de soluções.

Seria essencial quebrar o monopólio. Primeiro, desfazendo aquisições passadas, obrigando o Instagram e o WhatsApp a operarem de forma totalmente independente. Além disso, seria necessário impedir novas aquisições dentro do mesmo setor.

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Além disso, propõe-se a construção de uma agência governamental nos Estados Unidos. Uma composta por gente capaz de, diferentemente de como têm agido políticos tradicionais, entender o negócio da tecnologia e, em especial, da internet. Para assim poder exigir do Facebook, assim como de outras redes sociais estadunidenses, medidas de segurança, proteção à privacidade, de garantia da credibilidade de informações etc.

Em tempo: cerca de 1 hora após a publicação deste texto, o Facebook me enviou o seguinte posicionamento sobre as críticas de Chris Hughes.
“O Facebook entende que com o sucesso vem responsabilidade. Mas você não impõe essa responsabilidade exigindo a cisão de uma empresa americana bem-sucedida. A responsabilidade das empresas de tecnologia só pode ser alcançada por meio da introdução diligente de novas regulações para a internet. Isso é exatamente o que Mark Zuckerberg tem pedido. Aliás, ele está se reunindo com líderes do governo nesta semana para dar continuidade a esse trabalho.” O depoimento foi assinado por Nick Clegg, vice-presidente de Assuntos Globais e Comunicações.

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