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Delegação informal dos EUA na COP garante: apesar de Trump, será possível cumprir Acordo de Paris

Governos estaduais e municipais surgem como último pilar da política climática americana e podem garantir cortes robustos de emissões até 2035

Por Ernesto Neves Atualizado em 11 nov 2025, 09h00 - Publicado em 11 nov 2025, 08h01

Na COP30, em Belém, um movimento silencioso, mas decisivo, tenta impedir que os Estados Unidos abandonem de vez a trilha do Acordo de Paris.

Diante do desmonte recente das principais políticas climáticas nacionais promovido pelo presidente Donald Trump, estados, cidades e empresas despontam como os últimos pilares de ação concreta no país.

Essa é a principal conclusão de um relatório divulgado por America Is All In, coalizão que reúne governos locais e instituições da sociedade civil.

Produzido pelo Center for Global Sustainability (CGS) da Universidade de Maryland, o estudo afirma que, mesmo com o recuo federal, os EUA ainda podem cortar até 56% das emissões de gases de efeito estufa até 2035—desde que haja uma escalada de ambição climática por parte dos governos subnacionais e uma eventual retomada do engajamento federal após 2028.

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Uma disputa entre retrocessos e resistência

Nos últimos anos, Washington passou por uma reversão profunda de sua política climática.

A revogação de regras para veículos e usinas fósseis, o enfraquecimento da autonomia de estados para estabelecer normas próprias e, sobretudo, o fim dos investimentos bilionários em energia limpa pelo One Big Beautiful Bill Act criaram o que especialistas descrevem como “um vácuo estratégico” na trajetória de redução de emissões do país.

“Se o governo federal se recusa a reportar o progresso climático dos EUA, nós o faremos”, disse Gina McCarthy, ex-chefe da EPA, primeira conselheira climática da Casa Branca e hoje copresidente da America Is All In.

“Estados, cidades e o setor privado continuam puxando a transição para energia limpa. Há inúmeras oportunidades para gerar empregos, reduzir custos e proteger a saúde das pessoas — e vamos entregar esse futuro mais promissor.”

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A mensagem de McCarthy reflete a posição de um grupo de governadores e prefeitos que se tornaram protagonistas involuntários na diplomacia climática dos EUA.

A expectativa é que muitos deles desembarquem no Brasil justamente para mostrar que a política climática americana continua viva, ainda que longe do centro de poder em Washington.

O que os governos locais ainda podem fazer

O relatório detalha caminhos concretos para que estados e cidades avancem em três frentes-chave: eletricidade, transporte e metano, setores responsáveis pela maior parte das emissões americanas.

No setor elétrico, o estudo recomenda a implementação de padrões agressivos de energia renovável, esquemas de precificação de carbono e a expansão das compras públicas e comunitárias de energia limpa — instrumentos capazes de compensar parte das perdas provocadas pela reversão de políticas federais.

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No transporte, o maior emissor dos EUA, os autores apontam que incentivos robustos a veículos elétricos, combinados a infraestrutura de recarga e a políticas urbanas que desestimulem o carro individual (como pedágios urbanos e redes de mobilidade alternativas), podem reduzir emissões mesmo sem apoio federal.

Quanto ao metano, gás de impacto climático muito superior ao CO₂, medidas como certificação do gás natural, obrigatoriedade de detecção e reparo de vazamentos e metas de desvio de resíduos orgânicos de aterros são consideradas “baixa pendência” — ações baratas e capazes de gerar resultados rápidos.

“Parceiros internacionais observam cidades e estados americanos como substitutos da liderança federal”, disse Nate Hultman, diretor do CGS. “Inovar em políticas locais e aproveitar investimentos de mercado em tecnologias limpas é a chave para manter o país no trilho, mesmo em tempos desafiadores.”

Onde está o grande gargalo

O estudo, porém, não camufla o maior desafio: cerca de metade dos estados americanos ainda opera com metas climáticas baixas ou inexistentes. Sem elevar a ambição dessas regiões — concentradas principalmente no Sul e no interior do país —, dificilmente a redução de 56% até 2035 será alcançada.

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“Se os estados menos ambiciosos elevarem suas metas e o governo federal voltar a se engajar após 2028, poderemos ver um avanço significativo”, afirmou Alicia Zhao, do CGS. “O país tem as ferramentas. Falta vontade política em parte do território.”

O que esperar para a COP30

A publicação do relatório em meio à COP30 não é acidental. Com o governo federal dos EUA reduzindo sua atuação internacional, entidades como America Is All In tentam preencher o espaço diplomático, reforçando a ideia de que o país ainda possui capacidade e responsabilidade para contribuir com o esforço global.

Nos bastidores, negociadores brasileiros se preparam para receber uma delegação robusta de líderes estaduais e municipais dos EUA. A expectativa é que eles usem o evento em Belém para demonstrar que parte relevante do país resiste ao retrocesso federal e continua comprometida com o Acordo de Paris.

O relatório será levado para o debate no Local Leaders Forum, etapa paralela da COP, como evidência de que a transição energética americana ainda tem tração, mesmo que, por ora, avance pelas bordas.

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