‘Procuramos balanço de poder entre cidadãos e governo’, diz membro do Anonymous
Programador americano diz que grupo não quer desestabilizar estados nacionais: 'Sem pessoas, não há governo; sem governo, há caos'
“Certamente há brasileiros entre nós”. A afirmação é de um programador americano que se apresenta como integrante do grupo cracker Anonymous. Funcionário do setor público, ele tem “vinte e poucos anos” e se identifica apenas como X. VEJA fez contato com ele a partir do Twitter durante uma campanha do grupo contra Ben Bernanke, presidente do Fed, o banco central americano. Na entrevista a seguir, feita por e-mail, X descreve os tênues laços entre os participantes do Anonymous e explica como, a despeito dessa fragilidade, esses crackers têm conseguido tirado do ar sites de governos e de grandes empresas. “O Anonymous tem consciência do seu poder”, diz. Ele comenta também os pretensos objetivos do grupo: “Procuramos o balanço do poder entre cidadãos e governo. Sem pessoas, não há governo; sem governo, há caos.”
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Quantas pessoas fazem parte do grupo? Não é possível calcular o número de membros. O que posso dizer é que o grupo não é composto somente por programadores. Há muitos simpatizantes. O Anonymous não exige qualquer tipo de associação, ou seja, trata-se de uma comunidade de pessoas que se identificam com uma causa. Por exemplo: se você é solidário ao povo da Síria, que tem sua liberdade de expressão cerceada pelo governo, pode se tornar um membro.
Qual a idade média dos participantes? Há mulheres no grupo? Também já me perguntei isso. Existe uma comunidade autointitulada Anonymiss, uma espécie de subgrupo, formado exclusivamente por mulheres. Quanto à idade dos participantes, acho que não seria sarcástico dizer que vai dos 12 aos 99.
Como são organizadas as operações? Vocês se enxergam como hackers ou crackers? Não temos a figura de um líder, portanto as operações podem partir de qualquer membro, de qualquer lugar do mundo. Nada me dá mais orgulho do que fazer parte de um grupo que se reúne em favor de uma causa. Isso é mais importante que o fato de essa comunidade ser composta de pessoas com capacidade de hackear ou crackear um site.
Você já encontrou outros membros do Anonymous pessoalmente? Em qual país está concentrado o maior número de integrantes? Sim. Tive o prazer de encontrar outros membros cara a cara. Não é possível dizer onde está a maioria geograficamente. Meu palpite, no entanto, é que ela está no Ocidente.
O que o Anonymous procura? Procuramos o balanço do poder entre cidadãos e governo. Sem pessoas, não há governo; sem governo, há caos. Nosso objetivo é mostrar que essa relação entre as duas partes precisa ser balanceada.
Quais serão as próximas operações? Como as ações são organizadas por diferentes afiliados ao grupo, é impossível dizer qual será o próximo passo. O que posso dizer é que o Anonymous tem consciência do seu poder.
Como vocês convencem as pessoas a participar das ações? Não precisamos convencer ninguém. É como acontece com as instituições de caridade: as pessoas não são obrigadas a ajudar, mas se sentem bem fazendo isso. A colaboração é realmente importante para muitas operações. Você ficaria surpresa em saber que muitas pessoas têm se sujeitado voluntariamente a processos judiciais e até à prisão para defender nossa causa.
Existem brasileiros no Anonymous? O grupo já teve ou tem algum plano de promover ações no Brasil? Certamente, há brasileiros entre nós. Se os brasileiros precisarem da ajuda do Anonymous, certamente terão nossa assistência.
Existem regras a serem seguidas pelos membros? Não há regras formais. Mas diante da atual situação do grupo, em choque com diferentes governos, o mais importante é manter o anonimato.
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