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Pesquisa aponta relação entre bactérias e obesidade

Estudos recentes revelam que o ganho de peso está também relacionado a um desequilíbrio entre os micróbios que habitam nossos intestinos, como mostra reportagem de VEJA desta semana

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h32 - Publicado em 25 nov 2012, 11h02

O tratamento da obesidade é um dos maiores embates da medicina. Parte da dificuldade está no fato de a doença jamais se manifestar isoladamente. O ganho de peso aumenta o risco de problemas cardiovasculares e de diabetes. Mas o maior entrave dos especialistas está em decifrar os mecanismos associados ao distúrbio. A obesidade é causada por diversos fatores, com papéis diferentes no desencadeamento dos males, a depender do caso. Ganha-se peso por problemas genéticos, hormonais, ambientais e comportamentais. Recentemente, os pesquisadores identificaram outra causa: as bactérias encontradas nos intestinos. Um artigo publicado na revista científica americana Nature, resultado da compilação dos mais relevantes trabalhos conduzidos sobre o assunto na última década, esmiuçou essa insólita relação. Um desequilíbrio nas bactérias intestinais está atrelado a um processo inflamatório, atalho para a obesidade. O desarranjo permite que fragmentos desses micróbios saiam de seu habitat (os intestinos), caiam na corrente sanguínea e atinjam as células de gordura, alterando seu metabolismo. O passo seguinte é o acúmulo de adipócitos (veja o quadro abaixo). “O achado é um dos avanços mais interessantes da endocrinologia nos últimos dez anos”, diz o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clínicas (CPClin), de São Paulo.

A relação entre bactérias e obesidade começou a ser estudada em meados dos anos 2000, quando o microbiologista Fredrik Bäckhed, da Universidade Washington, em Saint Louis, observou que camundongos criados em ambientes estéreis, ou seja, com pouco contato com bactérias, tendiam a ser mais magros em relação às cobaias que se expunham aos microrganismos. Bäckhed fez então um transplante da flora intestinal entre os animais. Por meio de cápsulas, os ratos magros receberam as bactérias presentes nos intestinos dos ratos gordos, e vice-versa. O resultado foi surpreendente: os magros ganharam peso e os gordos emagreceram. No início do ano, um estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, ajudou a detalhar quais micróbios estão associados à obesidade. A flora intestinal é composta de 100 trilhões de bactérias, divididas em duas principais classes: firmicutes e bacteroidetes. As primeiras são mais resistentes à ação do sistema imunológico. As segundas, além de mais vulneráveis, estimulam as células de defesa a produzir substâncias anti-inflamatórias. Um organismo saudável contém os dois tipos em quantidades semelhantes. Por meio de biópsias intestinais feitas nas cobaias de laboratório, os pesquisadores de Yale mostraram que os ratos obesos apresentam uma quantidade maior de bactérias da família das firmicutes.

O mais recente Congresso Europeu de Diabetes, realizado há um mês em Berlim, na Alemanha, trouxe ainda mais novidades. Pesquisadores do Centro Médico Acadêmico de Amsterdã, na Holanda, um dos principais centros de referência nos estudos sobre microbiologia, apresentaram os resultados de estudos sobre o assunto conduzidos em seres humanos. Nove homens com excesso de peso, portadores de diabetes tipo 2 e com a flora intestinal desregulada, receberam bactérias de nove homens magros e com os intestinos em equilíbrio. Outros nove voluntários, também acima do peso, serviram de grupo de controle. Depois de seis semanas, os voluntários do primeiro grupo perderam cerca de 4 quilos, mantendo os hábitos de vida inalterados. Os outros não sofreram mudanças. Os organismos que emagreceram também melhoraram a sensibilidade à insulina, o hormônio responsável por transportar glicose às células. Não houve mais intervenções. Um ano depois, porém, os homens que emagreceram retomaram o peso inicial. “Os resultados sugerem que o tratamento com bactérias deverá ser contínuo”, diz o endocrinologista Eliaschewitz.

Pioneirismo - Bäckhed: testes em ratos
Pioneirismo – Bäckhed: testes em ratos ()
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As recentes descobertas abrem caminho para o desenvolvimento de várias frentes de tratamento contra a obesidade, até pouco tempo inimagináveis. Diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo: “Uma das possíveis estratégias a ser testadas é o uso de terapias que promovam o equilíbrio da flora intestinal”. Como, por exemplo, os probióticos, bactérias vivas consumidas na forma de iogurte, leite fermentado, cápsula ou sachê. Porções com cerca de 1 bilhão de microrganismos são atualmente ingeridas com o objetivo de regular o trânsito intestinal e reforçar o sistema imunológico de forma geral. Além disso, os probióticos são chamados de bactérias do bem pela baixa agressividade, ou seja, pouca capacidade de ultrapassar os intestinos e cair na corrente sanguínea — justamente o princípio de intoxicação que leva ao acúmulo de células de gordura. Para que os probióticos possam ser indicados para emagrecer, ainda são necessárias pesquisas que atestem a eficácia do método e determinem as doses ideais para a perda de peso. A expectativa é que, em dez anos, as bactérias da magreza estejam em campo na luta contra as bactérias da obesidade.

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