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‘Apertar o gatilho é a parte mais fácil’, diz ex-sniper americano

Chris Sajnog, ex-militar que serviu as Forças Armadas durante 20 anos e integrou a tropa de elite Seal, fala sobre o treinamento e a rotina de um atirador de elite

Por Diego Braga Norte
28 fev 2015, 08h36

“Quando estamos prestes a atirar, é preciso ponderar muitas decisões em frações de segundo. É um momento solitário”.

O filme “Sniper Americano”, sucesso de bilheteria estrelado por Bradley Cooper, chamou mais uma vez a atenção para o trabalho de um tipo muito específico de soldado: o atirador de elite. Chris Sajnog é um desses soldados. Ele serviu na Marinha americana durante 20 anos e foi sniper da tropa de elite Seal. Em conversa com o site de VEJA, ele explicou como um atirador é treinado e como é o dia a dia nas missões. “Apenas ter uma boa pontaria e acertar tiros de longa distância não faz de uma pessoa um sniper. Ser um atirador de elite envolve outras coisas, e apertar o gatilho com um terrorista em sua mira acaba sendo a parte mais fácil do trabalho”, afirmou.

Depois de deixar a Marinha, ele montou uma consultoria de treinamento militar e lançou um livro “How to Shoot Like a Navy SEAL” (Como atirar como um Seal”, em tradução livre). Na entrevista, Sajnog falou ainda sobre as operações de guerra dos Estados Unidos e deu sua opinião sobre o debate sobre o porte de armas no país. E também comentou, é claro, a repercussão de “Sniper Americano”, inspirado na autobiografia de Chris Kyle, considerado o melhor e mais letal atirador de elite das Forças Armadas dos Estados Unidos. Confira:

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Quanto tempo dura o treinamento de um sniper?

Essa é um pergunta que não tem uma resposta única. Do momento do alistamento até ser recrutado para a Marinha o processo pode demorar algo entre três meses e dois anos. Para se tornar um atirador de elite, leva muito mais tempo. O treinamento envolve uma série de testes físicos e psicológicos, além de sessões intensivas de treinamento. Somente o treinamento básico dura 18 meses, e isso sem dar nenhum tiro. Até alguém ganhar o título de atirador de elite, são aproximadamente 8 anos.

Qual é a distância máxima de um alvo que um sniper já atingiu?

O alvo mais distante atingido e morto de que temos confirmação estava a 2.475 metros do atirador.

Pode nos dizer em quantas missões o senhor participou no exterior?

Eu ainda tenho contrato de confidencialidade ativo e também não creio que seja prudente falar sobre as missões dos Seals. Em meus livros e treinamentos, não discuto as missões nas quais eu participei e tenho trabalhado para que outros ex-Seals parem de contar suas histórias na imprensa.

Além de ser um excelente atirador, quais outras habilidades um sniper deve ter?

Ser um grande atirador é, na verdade, uma das características menos importantes para um sniper. Planejamento, camuflagem, observação e inteligência são atributos muito mais importantes do que saber apertar um gatilho na hora certa. Os tiros e as mortes são o que chamam a atenção das pessoas e da imprensa, mas o trabalho de um sniper é majoritariamente de observação e inteligência. É preciso saber se mover sem ser descoberto por entre as linhas inimigas, manter o seu território e reportar informações vitais para seus colegas. Os snipers não são apenas bons atiradores, são também uma força multiplicadora, que coleta informações valiosas e as compartilham.

Quais outras características físicas um sniper precisa ter, além de uma ótima visão e pontaria?

É preciso estar constantemente em forma. É frequente o sniper fazer longas caminhadas e incursões em quaisquer terrenos, pacíficos ou hostis. Também é preciso ter resistência para se manter apto a atirar com mais precisão. Apenas ter uma boa pontaria e acertar tiros de longa distância não faz de uma pessoa um sniper. Ser um atirador de elite envolve outras coisas, e apertar o gatilho com um terrorista em sua mira acaba sendo a parte mais fácil do trabalho.

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Poderia descrever como é o momento do disparo?

Quando estamos prestes a atirar, é preciso ponderar muitas decisões em frações de segundo. É um momento solitário, não tem ninguém para nos ajudar e se cometermos um único erro, ou se o inimigo disser que cometemos um erro, haverá muitas pessoas querendo mandar você para a prisão.

O senhor poderia explicar melhor quais seriam esses erros?

Frases como “eles atiram no meu filho que estava a caminho da escola” ou “ele estava segurando o Corão e não uma arma” são muito ouvidas por atiradores de elite. O inimigo tenta creditar quaisquer mortes, mesmo as acidentais e por fogo cruzado, na conta dos snipers. E os atiradores têm de ser muito precisos em suas decisões para não correrem o risco de serem culpados por mortes de inocentes.

O que acontece quando um sniper comete um erro?

Se existir uma possibilidade de o tiro que um sniper deu ter sido injustificado, ele terá de responder por isso. Se ele não conseguir provar que atirou contra um agressor que iria atacar militares ou civis, ele será condenado e irá para a prisão.

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O senhor assistiu ao filme “Sniper Americano”?

Sim, assisti e gostei muito. Eu sou amigo do co-autor do livro que deu origem ao filme, o Scott McEwen, e ele me contou muitas coisas sobre como foi feita a adaptação para o cinema. O resultado final ficou muito bom, a direção e os atores estão ótimos.

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O quão fiel é o filme em mostrar o trabalho de um sniper?

O filme é muito acurado. Tem alguns pequenos detalhes sobre tiros e táticas que podem não estar 100% corretos, mas é importante não revelar alguns deles para os nossos inimigos. Mas, a não ser que você seja um sniper, os detalhes são imperceptíveis e o filme funciona muito bem.

Em sua opinião, por que o filme atraiu tantas críticas e provocou discussões nos EUA?

Nos EUA, os únicos que nos criticaram são da extrema esquerda, pessoas que estão distantes da realidade e falam coisas sem refletir. O filme é sobre Chris Kyle, um herói americano. E é também sobre o espírito existente em todos os homens de nossa nação. Vi e ouvi muitas pessoas bravas com os comentários de Michael Moore e Seth Rogen [o documentarista e o ator criticaram o filme e questionaram o rótulo de herói atribuído a Kyle]. Mas, quer saber? Eu apoio o direito deles de fazer esses comentários e tenho orgulho de ter passado 20 anos lutando para americanos como eles terem o direito de se expressar livremente. Eu não concordo com eles, mas não vou impedi-los de falar. Se pensam que homens e mulheres que arriscam suas vidas para proteger seu direito de dizer qualquer coisa são covardes, eu perguntaria a eles: ‘O que define um herói?’

O que o senhor pensa sobre as missões americanas no Iraque e no Afeganistão? Considera que foram bem-sucedidas?

Eu não sou um político e não pretendo ser, não posso avaliar o sucesso das operações de guerra. Nosso país decidiu entrar em guerra e pediu para os bravos homens e mulheres do Exército americano fazerem seu trabalho. E eu creio que eles fizeram isso corajosamente.

Nós vemos muitas notícias de tragédias envolvendo jovens atiradores em escolas e universidades dos Estados Unidos. E logo após as tragédias, crescem os apelos para uma reforma da lei de posse de armas. O senhor acha que a posse de armamentos deve ser limitada?

É claro que uma garota de nove anos não deveria poder atirar uma arma automática [Sajnog refere-se ao caso de uma menina que matou seu instrutor de tiro acidentalmente]. Mas acontece que os políticos estão muito longe de fazer prevalecer um senso comum sobre esse debate. Um lado diz: “proíbam todas as armas”, e o outro responde: “liberem todas as armas”. Todos sabem que a solução encontra-se em um meio termo entre os dois opostos, mas os lados não aceitam ceder.

O senhor está lançando um livro. Que mensagem pretende transmitir com essa obra?

Meu livro, “How to Shoot Like a Navy SEAL” (“Como atirar como um Seal”, em tradução livre) é basicamente sobre pontaria, como localizar o melhor ponto para um tiro e como disparar no momento certo.

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Já planejou seu próximo livro, poderia antecipar algo?

O próximo livro vai ser lançado no verão [do hemisfério norte] e vou falar mais sobre os fundamentos para ser um bom atirador. Muitos instrutores de tiro postam vídeos mostrando o quanto eles são bons. Quem se importa se os instrutores são bons? É o trabalho deles. Eu quero que as pessoas que leiam meus livros melhorem suas técnicas.

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