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Terror e poder

Com base em reportagem de VEJA, deputados abrem investigação sobre as atividades de extremistas islâmicos no Brasil

Por Leonardo Coutinho e Laura Diniz
11 abr 2011, 17h28

A Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados apurará as atividades de integrantes de organizações terroristas islâmicas no Brasil. Os parlamentares convocaram o diretor da Polícia Federal, Leandro Coimbra, e o da Agência Brasileira de Inteligência, Wilson Trezza, a revelar, em sessão secreta, o conteúdo das investigações já realizadas. A decisão da Câmara é consequência da reportagem de VEJA, publicada na edição passada da revista, que mostrou como grupos radicais usam o território nacional para planejar e financiar atentados, divulgar propaganda e até aliciar militantes. “A revista apresentou fatos incontestáveis, que nos obrigam a discutir com urgência uma legislação que distinga o que é terror. Em sua regulamentação, ela deve ser rigorosa e, principalmente, expedita nas providências”, disse o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ). Nesta semana, a Comissão de Segurança Pública da Câmara avaliará a necessidade de entrar na investigação. A reportagem de VEJA ecoou além das fronteiras. Na Argentina, o promotor Alberto Nisman, que investigou os atentados contra organizações judaicas em Buenos Aires nos anos 90, reclamou do fato de o mentor desses crimes, o iraniano Mohsen Rabbani, entrar e sair ileso do Brasil. “As autoridades brasileiras poderiam tê-lo prendido, se tomassem o mínimo de cuidado”, disse Nisman, ao jornal Clarín. O diário inglês The Telegraph alertou para o risco que a presença de extremistas traz para a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada de 2016. O espanhol El País destacou o fato de o Brasil não ter lei contra o terrorismo. O Centro Simon Wiesenthal, com sede em Los Angeles, mandou um ofício ao Itamaraty, cobrando providências em relação ao assunto. O diretor para a América Latina da instituição, Sergio Widder, disse que, se não obtiver resposta, o governo brasileiro terá de se explicar a organismos internacionais.

Há novidades. O homem que aparece na fotografia à esquerda, orgulhoso ao lado do deputado Vicentinho (PT-SP), é o tunisiano Manar Skandrani, de 50 anos, monitorado constantemente pela Interpol. O tunisiano, que chegou a ter uma escola de pilotos na catarinense Joinvile, se diz perseguido por ter sido militante do Al Nahda, uma organização subordinada à Al Qae-da que defende a implantação de um governo islâmico na Tunísia. Ele nega que hoje tenha amigos terroristas ligados ao bando de Osama bin Laden, como consta nos arquivos da Interpol.Vicentinho conheceu Skandrani na campanha presidencial de 2002. Naquele ano, o tunisiano, então proprietário de uma fábrica de kebab na Alemanha, visitou seus fornecedores de carne de frango em São Bernardo do Campo, reduto eleitoral do deputado.

Dois anos depois, foi a vez de Vicentinho ir à Alemanha. Lá, convenceu seu amigo extremista a emigrar para o Brasil. Skandrani gostou da ideia, porque, assim, iria aproximar-se de seus fornecedores, que mantinham relações ainda melhores que a dele com o governo recém-eleito. “Sou amigo de Vicentinho e estive com (o ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva) uma vez, mas não sou terrorista”, disse o tunisiano a VEJA. Em 2007, Skandrani chegou a ser preso pela Polícia Federal por tentar entrar no Brasil com 14 000 euros não declarados. Na cadeia, pediu ajuda ao deputado petista. “Acredito na inocência dele. É só um perseguido político”, afirma Vicentinho.

O empresário Mohamad Ali Laila, vice-presidente do Instituto Futuro, instituição voltada para os libaneses muçulmanos de orientação sunita radicados no Brasil, mantém uma relação estreita com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos oito anos, esteve em todas as comitivas de viagens presidenciais ao Oriente Médio. Em 2007, ele próprio descreveu sua relação com o ex-presidente à então consulesa americana em São Paulo, Lisa Helling. Laila contou à diplomata que é “velho amigo de Lula” e sua atividade no Brasil é a de lobista, mas que não gosta de ser chamado dessa forma, porque sua profissão não é bem-vista por aqui. Na conversa, Laila compara suas atividades de lobista à de Genival da Silva, Vavá, irmão mais velho do ex-presidente. Segundo o libanês, Vavá foi flagrado pela Polícia Federal fazendo tráfico de influência porque é “burro” e “incompetente”.

Laila é tio do comerciante Anuar Pechliye, treinado pela Al Qaeda no Afeganistão e delatado à CIA, agência americana de inteligência, pelo principal recrutador da organização de Osama bin Laden, Abu Zubaydah. Documentos da Polícia Federal obtidos por VEJA mostram que Pechliye é suspeito de ter fornecido passaportes brasileiros à Al Qaeda. A sobrinha do amigo do ex-presidente casou-se com Alan Cheid-de – também treinado por Zubaydah no Afeganistão e suspeito de fornecer passaportes a terroristas. Cheidde é um soldado da Jihad Islâmica experimentado em combate. Nos anos 90, mudou-se para a Bósnia a fim de lutar ao lado dos muçulmanos.

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Apesar de seus vínculos familiares, não há nenhum indício de que Skandrani tenha usado suas relações com Vicentinho para favorecer extremistas. Mas a proximidade dele e de Laila com o PT ajuda a explicar as ações do partido para obstruir as investigações da Câmara sobre a presença de terroristas no Brasil. Na semana passada, a bancada petista condenou não só as tentativas de seus colegas de apurar as revelações de VEJA, como a discussão sobre o estabelecimento de uma legis-lação antiterrorista para o país. “Não há terrorismo no Brasil”, desconversou Janete Pie-tá (PT-SP), em reunião da Comissão de Relações Exteriores, falando em nome de sua legenda. “O silêncio do governo em relação aos extremistas é constrangedor. A revelação da proximidade de investigados com o PT torna o caso ainda mais preocupante”, diz o ex-deputado Raul Jung-mann (PPS-PE).

Com reportagem de Igor Paulin

Em familia - Pechliye (à esq.) é sobrinho de Laila. Na foto, Laila com Lula e o iraniano Ahmadinejad, que o segura pelo braço
Em familia – Pechliye (à esq.) é sobrinho de Laila. Na foto, Laila com Lula e o iraniano Ahmadinejad, que o segura pelo braço (VEJA)
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