Segundo o levantamento da IWG, 77% dos brasileiros entrevistados afirmam que o home office oferece maior qualidade de vida aos funcionários. Na pesquisa da Randstad, 90% dos entrevistados dizem que gostam de trabalhar de modo mais flexível, pois assim conseguem manter um equilíbrio maior entre trabalho e vida pessoal.
Para os empregadores, ao aumentar a satisfação do funcionário, a flexibilização gera maior engajamento, produtividade e ajuda a reter o trabalhador na empresa. “A base desse modelo é aumentar a produtividade visando a qualidade de vida dos colaboradores, mas, além disso, não deixa de ser uma política de retenção e uma forma de reduzir custos”, avalia Klüppel, da Michael Page.
Para Edivaldo Bardella Junior, 34 anos, líder dos centros de serviços compartilhados da Roche Farma na América Latina, a flexibilização oferecida pela empresa permitiu levar os dois filhos à escola todas as manhãs sem ter a preocupação de chegar atrasado no escritório. Na matriz da farmacêutica, em São Paulo, o funcionário pode escolher iniciar seu dia de trabalho entre 6h e 10h e consequentemente sair entre 15h e 19h.
Uma vez por semana ele também pode trabalhar de casa. Bardella Junior foi um dos primeiros funcionários a adotar a prática na Roche, em 2016, e revela que não teve dificuldades com a adaptação.
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“A rotina não muda no home office. Começo no mesmo horário, faço meus intervalos para o café e almoço. Uso as ferramentas que a empresa disponibiliza para fazer conferências e ligações como se estivesse no escritório.”
Edivaldo Bardella Junior, 34 anos, líder dos centros de serviços compartilhados da Roche Farma na América Latina
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Edivaldo Bardella Jr., da Roche, tem horário flexível e uma vez por semana faz home office
Há oito anos na Unilever, a facilidade do home office fez Fernanda economizar, pelo menos duas vezes na semana, três horas que perderia no trânsito para ir e voltar da casa dos pais, na região do ABC, até o escritório da empresa, no Itaim Bibi, zona oeste da capital. Essa rotina durou nove meses. Além de economizar tempo no deslocamento, o home office permite que a administradora passe mais tempo com o filho de dois anos e quatro meses.
Fernanda fez nova mudança no seu ritmo de trabalho no início de junho. Ela passou a trabalhar no regime part-time, e terá a jornada reduzida para 20 horas nos próximos dois meses, enquanto o filho se adapta à rotina escolar e ela termina os últimos detalhes de uma reforma em casa. “Levei minhas necessidades para o RH da empresa e eles apresentaram essa proposta”, conta. “Dessa maneira, consigo equilibrar tudo o que tenho que fazer, não deixo a parte pessoal de lado, nem a carreira, que para mim é muito importante. Eu consigo fazer um pouco de tudo, sem deixar a desejar.”
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O segredo, segundo a gerente de finanças do setor de alimentos da Unilever na América Latina, é a organização. “Preciso estar sempre em contato e todos devem saber o que está acontecendo, quando eu vou estar disponível e quando não vou estar. Dessa maneira as pessoas também se adaptam para pedir as coisas quando eu estou na empresa”, afirma a administradora.
A flexibilização pressupõe que a relação empregado e empregador seja baseada na construção de metas, de confiança e diálogo. “Conversas honestas entre gestor e funcionário sobre as necessidades individuais e do time são fatores críticos para o sucesso na implementação de modelos flexíveis”, afirma a gerente de recursos humanos da Unilever Brasil, Thais Simão. “É fundamental a confiança entre líder e funcionário, além do estímulo à postura de autonomia com responsabilidade, valorizando que o colaborador seja protagonista em suas entregas e gerencie bem as suas atividades”, reforça Denise Horato, diretora de recursos humanos da Roche Farma.
Por isso, em algumas empresas, os modelos de trabalho mais flexíveis ainda ficam restritos aos funcionários com cargos mais altos, de gestão e coordenação. Na própria Roche, por exemplo, o home office foi inicialmente implementado para gestores e, somente no ano passado, foi ampliado a todos os colaboradores administrativos da matriz em São Paulo.
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Na empresa de tecnologia Softtek, o trabalho remoto ainda é exclusivo para funcionários mais experientes. “Percebemos que, conforme o nível de senioridade da equipe, você precisa ter um trabalho presencial para garantir desempenho. No caso de trainees e juniores, que ainda estão no processo de maturação profissional, de entender o que é o trabalho por resultado e quais são as responsabilidades com o cliente, sentimos que é preciso realizar o trabalho presencial”, explica o vice-presidente de operações da companhia, Alexandre Hernandes. Mas o executivo acredita que a tendência é de que cada vez mais formas de flexibilização ganhem espaço e se tornem a regra, inclusive para atender às demandas dos novos profissionais que chegam ao mercado esperando relações de trabalho mais modernas.
“Essa transformação acontece com o tempo e com exemplos. Aos poucos as pessoas vão percebendo que é possível ser eficiente trabalhando de outras formas”, afirma o diretor de RH da Bosch América Latina, Fernando Tourinho. O executivo explica que a Bosch adota medidas de flexibilidade há quatro décadas, mas os modelos foram mudando conforme a legislação e a tecnologia disponível. Hoje, além do banco de horas, o primeiro método de flexibilização adotado pela empresa, também é oferecido o turno com horário de entrada e saída variável, o home office opcional duas vezes na semana, o regime part-time e o trabalho remoto permanente para algumas funções. Os modelos variam conforme o cargo, a necessidade da empresa e do funcionário.
No caso de Weenna Ribeiro, 38 anos, analista de RH sênior da Bosch, a mudança ocorreu por um motivo muito pessoal. Em 2013, depois de 16 anos na empresa, ela estava decidida a pedir demissão para se dedicar integralmente à filha, que havia sido diagnosticada com um problema de saúde. Ao trazer a questão para empresa, Weena recebeu a proposta de mudar para a jornada parcial. “Foi um momento de revisão da minha vida pessoal, meus valores estavam sendo repensados e foi ótimo pode ficar na empresa nessa modalidade”, afirma a analista. “Fui a primeira part-time da organização. No começo era diferente para todo mundo, mas nos adaptamos”. Hoje mãe de mais uma menina, Weena escolheu seguir trabalhando no regime mesmo após a melhora da primeira filha. “Trabalho na parte da manhã e à tarde me dedico a elas”, conta.
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Quando o home office não funciona
Apesar de as empresas estarem abertas para essas mudanças, muitas ainda estão estudando qual é o modelo ideal para sua área de atuação — se a flexibilidade do funcionário deve ser total ou se é preciso ter algumas regras, se o trabalho pode ser feito de forma completamente remota ou se o home office deve ser adotado apenas em um ou dois dias da semana.
“O trabalho remoto não é necessariamente uma virtude para todas as empresas e para todas as funções. A empresa precisa ter uma cultura e um modelo de trabalho que permitam isso para que essa flexibilidade potencialize o negócio e não o contrário”, afirma Klüppel, da Michael Page.
A troca presencial, na visão do especialista, continua sendo importante para fortalecer o engajamento dos colaboradores. “Em alguns casos, é importante que o funcionário esteja dentro da companhia se estiver numa posição em que a sua presença é fundamental para gerar uma influência nos demais. Para aquele cargo que precisa inspirar e motivar, não adianta a pessoa estar fora. Ou até mesmo nos casos em que as pessoas precisam estar próximas para tomar uma decisão mais rápida, de forma mais ágil, o trabalho remoto pode não funcionar.”
O ideal é que empresa avalie o que funciona para cada função e equipe, mas a adoção home office deve voluntária. “Se não tem essa cultura, a empresa precisa de adaptar e implementar novas práticas para que possa permitir esse novo modelo. Tem gente que prefere trabalhar dessa forma, mas tem gente que não, que prefere o modelo tradicional”, completa.