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Vale tudo na rede social Parler — até publicar falsidades

Em ascensão nos EUA, plataforma admite todo tipo de postagem. Liberdade para publicar qualquer coisa atrai políticos, empresários e influenciadores digitais

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 ago 2020, 13h27 - Publicado em 7 ago 2020, 06h00

As redes sociais surgiram com o nobre propósito de aproximar pessoas, estimular o livre debate de ideias e garantir a qualquer um o direito de expressar valores e sentimentos. De uns tempos para cá, porém, elas se tornaram um campo minado. Em certos grupos, opiniões foram substituídas por xingamentos, o bom senso deu lugar ao ódio e o respeito desapareceu para abrir caminho ao escárnio. Como não poderia deixar de ser, a nova realidade traduziu-se em todo tipo de postagens, inclusive manifestações que flertam com a intolerância e o preconceito. Em resposta a esse movimento, plataformas como Twitter e Facebook começaram a bloquear publicações consideradas abusivas. Mas isso suscitou outra questão: as redes sociais estariam pregando a censura? Em meio à inevitável polêmica, uma nova rede social vem ganhando adeptos com a promessa de garantir liberdade de expressão a seus usuários e abrir espaço para mensagens que jamais serão censuradas — mesmo que elas sejam visivelmente controversas.

NOVOS MEMBROS – A ex-jogadora de vôlei Ana Paula e o guru Olavo de Carvalho: regras rígidas do Twitter os levaram para o Parler – (//Reprodução)

Trata-se do Parler (falar, em francês), rede social criada em 2018 pelo programador americano John Matze. Dois anos depois de nascer, ela está em plena ascensão graças, sobretudo, aos apoiadores de Donald Trump, que migraram em massa para a plataforma depois que o Twitter passou a moderar com regularidade os posts do presidente americano, acusando-o de propagar fake news. Outro fator decisivo foi uma decisão tomada pela rede social Reddit, que baniu em junho uma seção do site com 750 000 seguidores que era dedicada à criação de memes em favor de Trump. Ações como essas revoltaram os usuários das redes convencionais, levando-­os a buscar alternativas para propagar suas ideias. O Parler fisgou a oportunidade, oferecendo exatamente o que os incomodados procuravam: liberdade para escrever o que bem entenderem.

Não demorou para que brasileiros bloqueados pelas regras cada vez mais rígidas do Twitter e Facebook aderissem à debandada. Estão cadastrados no Parler o presidente Jair Bolsonaro e dois de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, além do guru da família, Olavo de Carvalho. Flávio anunciou a criação de sua conta no Parler pelo próprio Twitter: “Siga-me no Parler, a rede social que tem como prioridade a liberdade de expressão”, tuitou o Zero 1, ao comandar a revoada conservadora para a rede. Se comparado aos 3 bilhões de usuários do Facebook ou aos mais de 330 milhões do Twitter, o Parler tem uma base de usuários modesta. Mas ela cresce rapidamente: de janeiro a julho, o número de adeptos dobrou, chegando a 13 milhões de pessoas.

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O atrativo para os bolsonaristas foi reforçado depois que o Twitter e o Facebook deletaram perfis acusados de disseminar fake news. No dia 8 de julho, a rede de Mark Zuckerberg removeu 88 contas e perfis falsos que, segundo a empresa, estavam organizados para gerar desinformação e enganar usuários na plataforma. Em 24 de julho, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), influenciadores de direita, entre eles os blogueiros Bernardo Küster e Allan dos Santos e o empresário Luciano Hang, tiveram seus perfis no Twitter bloqueados para acessos vindos do Brasil. Para onde migraram? Todos foram para o Parler.

Na tentativa de trazer diversidade de ideias para a nova rede social, o fundador John Matze anunciou o pagamento de 20 000 dólares a personalidades com mais de 50 000 seguidores em redes sociais que defendessem políticas à esquerda e topassem se juntar à plataforma. Ninguém aceitou a proposta. “Nunca tivemos o objetivo de ser pró-­Trump”, disse Matze. Seja como for, a verdade é que o Parler avança, mas transita por um caminho tortuoso: sob o pretexto da liberdade de expressão, permite que discursos odiosos tenham vez.

Publicado em VEJA de 12 de agosto de 2020, edição nº 2699

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