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Quer se aventurar no Vale do Silício? Não se atrase para o café

A consultora americana de startups Michelle Messina prepara guia para empreendedores que vão tentar a sorte no coração da inovação. Aos brasileiros, ela oferece orientações específicas

Por Da Redação 20 out 2015, 14h15

Michelle Messina é especialista em criar conexões no Vale do Silício. Há mais de uma década, ela treina empreendedores sedentos por crescimento e os coloca em contato com potenciais investidores e executivos bem-sucedidos no coração da inovação americana. Os empreendedores brasileiros, avalia a americana, são bons de networking e capazes de ideias criativas e sólidas, mas… “Eles muitas vezes não entendem que há uma maneira sistemática de encontrar respostas aos desafios”, diz Michelle. Para ajudar aqueles que pretendem se aventurar no Vale (não apenas brasileiros), a consultora prepara, em parceria com Jonathan Baer, um livro a ser lançado no início do ano que vem, Decoding Silicon Valley (“decodificando o Vale do Silício”), uma espécie de guia para interessados em tirar o melhor da experiência. Para desfazer, como ela define, “mal-entendidos” e “suposições incorretas” sobre o que é empreender na região californiana, Michelle usou a própria experiência como consultora e também entrevistas com personagens do Vale, empreendedores locais, investidores e executivos de grandes companhias, como Phil Libin, cofundador e chairman do Evernote, e Dave McClure, um dos criadores da aceleradora 500 Startups. Michelle também vai compartilhar o aprendizado cara a cara com brasileiros no início de novembro, em palestra da Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (Case), organizada pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu a VEJA.com.

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Seu livro pretende desfazer o que você chama de “equívocos” e “suposições erradas” acerca do Vale. Quais? O primeiro deles é que é muito fácil levantar investimento. Empreendedores que vêm de fora da região acreditam nisso. Um dos fatores que mais contribuem para esse mito são as histórias de sucesso construídas pelos próprios empreendedores bem-sucedidos, que tentam passar a ideia de que tudo foi mais rápido e fácil do que realmente foi. É da natureza humana fazer isso. Então, as pessoas que ouvem esses relatos começam a achar que é fácil repetir a saga. Outro mal-entendido é que é fácil obter muitos clientes. Se você não tem outros clientes americanos e não fez uma pesquisa profunda de mercado, não é. Empreendedores que obtiveram sucesso em seus países podem ter aproveitado suas conexões e conhecimento para começar o negócio em seus mercados. Aqui, nós temos um jeito mais sistemático de fazer as coisas. Você tem que identificar o problema, qualificar a solução, colocar o produto no mercado, criar valor para o negócio e definir uma estratégia clara: você pretende fazer um IPO no futuro, vender a companhia ou o que quer que seja. Esse é o tipo de abordagem que todos usam aqui.

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O que os empreendedores que procuram o Vale mais querem e precisam? Mais do que qualquer outra coisa, querem entender se seus negócios podem ser sustentáveis: buscam oportunidades sustentáveis e fontes de receita sustentáveis. Eles querem entender onde focar e se há consumidores em quantidade suficiente para manter aquele negócio.

Quais os equívocos mais comuns cometidos por eles? Muitos. O mais comum é pensar que o que os fez bem-sucedidos em seus mercados pode levá-los ao sucesso no Vale ou nos Estados Unidos. É uma suposição errada. A grande maioria dos empreendedores não pesquisa o suficiente para saber se o consumidor para o qual ele já vende em seu mercado de origem tem o perfil semelhante ao daquele que ele pretende atingir aqui. Segundo, esses empreendedores não necessariamente conhecem o processo para esclarecer essa questão, não sabem que existe metodologia, um sistema para encontrar as respostas.

Michelle Messina
Michelle Messina (VEJA)
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E os brasileiros, em particular: qual sua percepção sobre eles? Tenho lidado com muitos brasileiros, em várias regiões do Brasil e também no Vale. Eles têm uma vantagem única sobre muitos outros, porque os brasileiros são muito amigáveis e receptivos. Além disso, em geral, têm ideias criativas sólidas. Por outro lado, eles muitas vezes não entendem que há uma maneira sistemática de encontrar respostas aos desafios. Vejo menos sistematização na forma como alguns tocam suas companhias. Credito isso à cultura brasileira e às dificuldades econômicas atuais, o que torna tudo isso muito mais desafiador. Por exemplo, pontualidade é um problema para os brasileiros. Chegar quinze minutos atrasado para um café é um problema no Vale do Silício, porque aqui as pessoas trabalham duro. São questões ligadas a valores, e nós atribuímos grande peso a esses detalhes porque eles refletem a credibilidade do indivíduo. Se você disse que vai estar em um lugar para um encontro às 10 horas em ponto, você deve chegar cinco minutos mais cedo. É assim que operamos.

Quando um empreendedor deve ir para o Vale? Ele deve fazer uma preparação de ao menos seis meses antes de vir. Nesse período, deve procurar entender como o Vale olha para os negócios, o que é muito diferente do que acontece em outras partes do mundo. Aqui, estamos falando de construir empresas realmente grandes, globais, e que eventualmente podem ser vendidas. Não estamos falando de companhias que vamos deixar para nossos filhos quando ficarmos velhos. Depois, entender como o networking funciona aqui, porque uma das maneiras mais efetivas para comunicar e alavancar seu negócio aqui é por meio de uma rede de contatos efetiva. Isso ajuda muito na hora de conseguir parceiros e investidores. Mas a empresa que vem para cá tem que fazer toda essa preparação prévia.

Você está há vinte anos no Vale. O que mudou nesse período? Hoje, temos uma melhor compreensão dos ciclos de alta e baixa do mercado. Quem vive aqui há mais tempo, como eu, já assistiu aos dois momentos e agora entende que há ciclos naturais. Ter uma perspectiva história ajuda a saber o que esperar. Outra coisa que mudou é que não temos mais fábricas de semicondutores. Na verdade, temos muito poucas fábricas agora. Além disso, grandes companhias, que eram muito respeitadas e desejadas há vinte anos, e agora não são mais. São dinossauros.

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E viver no Vale, o que mudou? É muito mais caro (risos). O custo de vida aqui é muito alto agora. O preço da gasolina é um dos mais altos do país, ainda que a Califórnia seja um Estado refinador. Comida também é muito cara, aluguel, hipoteca, impostos territoriais… tudo é muito caro. Isso é, em alguma medida, efeito do crescimento das empresas da região. Os IPOs bilionários espalharam riqueza na região, puxando os padrões para cima.

Você tem trabalhado com empreendedores de vários países que buscam inovação. É possível reproduzir a cultura de inovação do Vale em outros lugares? Visitei trinta ou 35 países. As perguntas que mais ouço de agentes de governo e negócios são: como valorizar o empreendedorismo? Como incentivar as pessoas a empreender ao invés de trabalhar em um banco ou no governo? Digo sempre que a primeira coisa é estar aberto ao risco e, portanto, ao fracasso. Então, seu país precisa estar aberto ao fracasso. Principalmente depois de 2008, muita gente percebeu que precisamos criar empregos, precisamos de diversidade, que as grandes empresas já não podem gerar tantos empregos, então é natural que olhem para startups. Criar outro Vale do Silício não é possível. Temos mais de cinquenta anos de história, um ecossistema complexo e uma diversidade de culturas enorme. Diversidade é o fator de sucesso aqui, mas não quer dizer que funcionaria em qualquer lugar. É preciso levar em conta as práticas de negócios locais, a cultura, como negociam os atores, como se relacionam, a religião local etc.

É possível ao menos exportar algumas características? Sim. Certamente, a maneira como pensamos os negócios e como sistematicamente construímos os negócios.

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