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Genoma indica acasalamento entre neandertais e humanos modernos

Por The New York Times
7 Maio 2010, 11h34

A primeira análise detalhada do genoma do neandertal, feita por cientistas alemães, revela que membros da espécie chegaram a se acasalar com alguns homo sapiens � e a marca dessa união está presente no genoma do homem moderno.

Liderados por Svante Paabo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária de Leipzig, na Alemanha, os biólogos têm reconstruído lentamente o genoma dos neandertais, os robustos caçadores que dominaram a Europa até 30.000 anos atrás, extraindo fragmentos de DNA de ossos fossilizados. Até o ano passado, quando os biólogos anunciaram terem decodificado o genoma neandertal, não haviam relatado nenhuma evidência de cruzamento.

Cientistas afirmam ter recuperado 60% do genoma do neandertal e esperam concluí-lo em breve. Ao comparar esse sequenciamento genético com o de diversos humanos dos dias atuais, a equipe concluiu que cerca de 1% a 4% do genoma de não-africanos vem dos neandertais. O DNA neandertal, porém, não parece ter interferido muito na evolução humana, disseram eles. Especialistas acreditam que o sequenciamento do genoma neandertal será de extraordinária importância para entender a história da evolução humana, uma vez que as duas espécies se separaram cerca de 600.000 anos atrás.

Até agora, a equipe identificou apenas cerca de 100 genes – surpreendentemente pouco � que teriam contribuído para a evolução dos humanos modernos desde a divisão. A natureza dos genes nos humanos diferentes dos neandertais é de especial interesse porque representam o que significa “ser humano”, ou ao menos “não-neandertal”. Alguns genes parecem estar relacionados com a função cognitiva e com outros aspectos da estrutura óssea. “Sete anos atrás, eu realmente achava que seria impossível enquanto eu estivesse vivo sequenciar todo o genoma neandertal”, disse Paabo numa entrevista coletiva.

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Mas a segunda conclusão da equipe de Leipzig, de que provavelmente houve cruzamento entre os neandertais e os humanos modernos antes da divisão de europeus e asiáticos, foi recebida com reservas por alguns arqueólogos. Um grau de intercruzamento entre os humanos modernos e os neandertais na Europa não seria tão surpreendente, dado que as espécies viveram ao mesmo tempo ali entre 44.000 anos atrás, quando os humanos modernos entraram pela primeira vez na Europa, e 30.000 anos atrás, quando ocorreu a extinção do último neandertal. Os arqueólogos debatem há anos se o registro fóssil apresenta evidência de indivíduos com características mescladas.

Ele e outros arqueólogos, entretanto, questionaram algumas das interpretações adiantadas por Paabo e seus principais colegas, Richard E. Green, do Instituto de Leipzig, e David Reich, da Harvard Medical School. Os geneticistas têm feito contribuições cada vez mais valiosas à pré-história humana, mas o trabalho deles depende fortemente das complexas estatísticas matemáticas que fazem seus argumentos difíceis de serem seguidos. E o ponto de vista estatístico, embora informativo, não tem a solidez de um fato arqueológico.

“Essa provavelmente não é a última palavra dos autores, eles certamente estão se esforçando para explicar o que descobriram”, disse Tattersall. Richard Klein, paleontólogo em Stanford, disse que a teoria dos autores de um antigo episódio de acasalamento não parece ter levado em conta o panorama arqueológico. “Em resumo, eles estão dizendo: ‘Eis os nossos dados, vocês têm de aceitá-los’. Mas a pequena parte que eu sou capaz de julgar me parece problemática, então eu me preocupo pelo restante”, disse ele. Em um artigo anterior sobre o genoma neandertal, outros geneticistas descobriram que as sequências de DNA relatadas eram amplamente contaminadas com DNA humano. O grupo de Paabo tomou precauções extras, mas ainda é preciso ver o quão bem-sucedidos eles foram, afirmou Klein, especialmente quando outro grupo do instituto de Leipzig, supostamente usando os mesmos métodos, obteve resultados que Paabo disse que não poderiam ser confirmados por ele.

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Paabo afirmou que o episódio de cruzamento entre humanos e Neandertais implícitos pelas estatísticas de Reich ocorreu com maior probabilidade “no Oriente Médio, onde os primeiros humanos modernos apareceram há mais de 100.000 anos e onde havia neandertais até 60.000 anos.” De acordo com Klein, a população da África expandiu seu alcance e chegou a Israel durante um período quente cerca de 120.000 anos atrás. Eles retrocederam durante um período de clima frio, cerca de 80.000 anos atrás, e foram substituídos por neandertais. Não está claro se eles conviveram com os neandertais ou não, disse ele.

De qualquer forma, esses humanos não eram totalmente modernos e não vieram da África, episódio ocorrido cerca de 30.000 anos mais tarde. Se houve qualquer intercruzamento, o fluxo de genes deveria ter sido de via dupla, afirmou Klein, mas o grupo de Paabo vê evidência de fluxo genético apenas dos neandertais para os humanos modernos. A teoria de cruzamento do grupo de Leipzig acabaria com a crença atual de que todas as populações humanas de hoje vêm do mesmo reservatório genético existente há meros 50 mil anos. “O que nós tornamos falso com isso é a forte hipótese de origem africana de que todo mundo vem da mesma população”, disse Paabo.

Segundo o ponto de vista dele e de Reich, os neandertais acasalaram-se apenas com não-africanos, a população que deixou a África, o que significaria que os não-africanos viriam de um segundo reservatório genético não disponível aos africanos.

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