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Ex-líder da Apple reinventa o velho termostato

Tony Fadell, que liderou o desenvolvimento do iPod e do iPhone, tem uma missão nada trivial: reinventar o humilde aparelho doméstico

Por Steve Lohr, do The New York Times
15 nov 2011, 06h20

Tony Fadell, ex-executivo da Apple que liderou o desenvolvimento do iPod e do iPhone de 2001 a 2009, ajudou a transformar produtos de consumo usados por milhões de pessoas. Próximo passo: reinventar o humilde termostato doméstico.

Uma entediante instalação de parede, improvável alvo de inovação? Não para Fadell, sua equipe de cem especialistas em computação de software e hardware e os investidores de sua startup do Vale do Silício, a Nest Labs. Eles veem o convencional termostato como um dispositivo “burro”, que pode ser transformado num assistente digital inteligente capaz de gerar economias para os donos e reduzir o consumo de energia e a poluição.

“Criamos o primeiro termostato do mundo que é capaz de aprender – um aparelho para a geração do iPhone”, disse Fadell.

A Nest Labs, sediada em Palo Alto, Califórnia, e fundada no ano passado, anunciou o produto recentemente. A empresa planeja iniciar a comercialização do termostato de 249 dólares até meados de novembro.

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Pessoas de fora que experimentaram o produto estão impressionadas com seu design estiloso, facilidade de uso e recursos avançados, como sensores de movimento que identificam quando uma pessoa está presente e ajustam a temperatura do ambiente. Mas ainda não está claro se os consumidores e as empresas querem pagar mais por um termostato de alta tecnologia, quando o bom e velho dispositivo funciona há décadas.

Existem outros termostatos digitais no mercado, como o Honeywell Vision Pro e o Filtrete da 3M. Mesmo assim, sua aceitação tem sido lenta e seus recursos muitas vezes não são utilizados, por serem desajeitados e difíceis para algumas pessoas programarem, disse Russ Donnici, presidente da Mechanical Air Service, empresa de calefação e refrigeração sediada em San Jose, Califórnia. Em contraste, o produto da Nest é pequeno e as temperaturas são configuradas ao girar o anel exterior e empurrá-lo até que ele clique.

O projeto “traz o termostato para o século 21”, disse Donnici, que prestou consultoria gratuita à Nest Labs.

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No entanto, o dispositivo da Nest custa duas vezes mais que a maioria dos termostatos programáveis similares no mercado.

As residências correspondem a mais de 10% do consumo total de energia nos Estados Unidos, incluindo transporte. Cerca de metade da energia residencial consumida é usada para calefação e resfriamento de ambientes – o restante vai para iluminação, aquecimento de água, eletrodomésticos, televisões e computadores. Cada grau a menos no ajuste da temperatura de uma casa no inverno, quando se usa calefação, ou cada grau a mais durante o verão, quando se usa o ar condicionado, traduz-se numa economia de energia de 5%. Assim, mudar os padrões de consumo em, digamos, quatro graus em média pode significar economias de energia de 20%, dizem os especialistas.

Como uma casa típica americana gasta entre 1.000 e 5.000 dólares por ano em calefação e ar condicionado, isso se traduziria numa redução de 200 a 300 dólares nas contas de energia. Também significaria menos instalações de geração de energia construídas e menos emissões de carbono.

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“Existe uma grande quantidade de energia a ser poupada nas casas e um termostato inteligente pode ser uma ótima oportunidade”, disse John E. Bowers, diretor do Instituto para a Eficiência Energética da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, que ainda não viu o dispositivo da Nest.

Depois de deixar a Apple, Fadell viajou com sua família por quase um ano e começou a construir uma casa “ecológica” que economiza energia em Lake Tahoe, Califórnia. Como parte desse projeto, ele analisou termostatos e descobriu que eles não tinham design e utilidade.”São feios, desperdiçam energia e não vemos uma verdadeira inovação há décadas”, disse. Fadell estudou a tecnologia e a indústria, acreditando que ali havia uma oportunidade. Seu primeiro recruta foi Matt Rogers, que na época liderava uma equipe de 30 engenheiros na divisão do iPod na Apple. Eles se reuniram para discutir a ideia em outubro de 2009 e Rogers ficou intrigado. Em maio de 2010, ele se tornou co-fundador da Nest Labs.

“Adorava meu trabalho na Apple e tinha uma ótima equipe”, disse Rogers. “Mas, em essência, criávamos brinquedos. Na Nest, criamos um produto capaz de gerar um grande impacto sobre um grande problema”.

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Os funcionários da Nest Labs vêm da Apple, Google, Microsoft, Twitter, Logitech e outras empresas de alta tecnologia. Ao contrário de outros fabricantes de termostatos, a Nest Labs possui uma grande equipe de especialistas numa área de inteligência artificial chamada de aprendizado de máquinas, incluindo Yoky Matsuoka, que veio do Google e cujo trabalho lhe rendeu um prêmio da MacArthur Foundation. A Nest Labs também vem atraindo uma multidão de investidores. A startup não diz quanto arrecadou, mas os investidores incluem Kleiner Perkins Caufield & Byers, Google Ventures, Lightspeed Venture Partners, Intertrust, Shasta Ventures e Generation Investment Management, uma empresa de investimentos cofundada por Al Gore.

Apesar do alto custo do dispositivo da Nest, Fadell sustenta que ele se paga em um ano devido à economia de energia, sem muito esforço por parte do usuário.

Inicialmente, a pessoa pode configurar o termostato quatro vezes em um dia – para o despertar, saindo para o trabalho, voltando do trabalho e indo dormir. O termostato usa essas configurações diariamente, depois as adapta de acordo com outras mudanças. Se uma pessoa está fora da cidade a trabalho todas as segundas-feiras, os sensores do Nest detectam isso e adotam uma configuração automática de ausência, a fim de reduzir o uso de energia. “Você pode, mas não precisa programá-lo, pois o termostato aprende”, disse Fadell.

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O termostato da Nest inicialmente estará disponível no site da empresa e através do site da Best Buy. Os consumidores podem instalá-lo sozinhos ou contratar um profissional. A empresa também está trabalhando com prestadores de serviços, que distribuem 70% dos termostatos vendidos.

Segundo estimativas, cerca de dez milhões de termostatos são vendidos anualmente como substituições ou em reformas. Um percentual pequeno desse mercado, diz Fadell, tornaria a Nest Labs uma vencedora. Entretanto, para conquistar o mercado, afirmam os analistas, a empresa deve alterar os hábitos de compra dos consumidores, varejistas e prestadores de serviço numa indústria que não está acostumada a mudanças no estilo Vale do Silício.

“O comodismo é o maior desafio”, concluiu Fadell.

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