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Enfim, o gigante da web desperta com o Google+

Rede social é esforço do Google para impor novos rumos a seu negócio

Por Rafael Sbarai
17 jul 2011, 10h44

Há cerca de três semanas, o Google decidiu se aventurar no campo de batalha do inimigo. Colocou à disposição de convidados o Google+, serviço que, embora não seja oficialmente chamado de rede social pela nave-mãe, tem todas as características de uma. O objetivo é enfrentar aquele que se tornou seu principal rival: o Facebook. É cedo para saber se a empreitada será bem-sucedida: gigante no universo de buscas, o Google é um infante no campo de relações sociais, dominado pelo site criado e maturado por Mark Zuckerberg, que reúne mais de 750 milhões de cadastrados ao redor do planeta. Renda o que render o contra-ataque a longo prazo, é inegável que a chegada do Google+ veio acompanhada daquela fagulha de vigor que, se não garante o sucesso, é reveladora do empenho em inovar e impor novos rumos a um negócio.

Soa contraditário, mas o Google, nascido há apenas 13 anos, estava envelhecendo. Aferrado às próprias conquistas, tornou-se mais conservador e menos ágil. Criado em 1998 por dois estudantes de ciências da computação da Universidade de Stanford, Larry Page e Sergey Brin, então com 24 anos, nasceu e cresceu (de forma meteórica) apoiado em um algoritmo que pretendia organizar toda a informação disponível na internet. Seu buscador aponta, a partir de infindáveis cálculos, os sites mais “relevantes” da rede, levando em conta o número de referências que os usuários fazem a esses endereços. Foi a “era dos engenheiros” da web. O Google tornou-se um gigante, com valor de mercado estimado em 147 bilhões de dólares em 2010 (é mais valioso do que o Citigroup ou a Toyota) e faturamento que se apoia majoritariamente nos links patrocinados exibidos em suas páginas.

Mas os engenheiros tiveram dificuldades para lidar com a onda que viria logo a seguir: as redes sociais. O Facebook nasceu em 2004, conta a lenda, no dormitório de um alojamento de estudantes de Harvard. Zuckerberg, então com 19 anos, e amigos construíram um ambiente virtual restrito em que alunos da universidade podiam se expressar, organizar contatos e atividades. A era dos engenheiros começava a ceder espaço para a das relações sociais. A consequência disso é que o Facebook comeu terreno do Google. Em maio deste ano, por exemplo, usuários de internet de todo o mundo já dedicavam, em conjunto, mais tempo a páginas da rede social do que à do buscador: 250 bilhões ante 200 bilhões de minutos, respectivamente. Na prática, essas pessoas trocaram os links provenientes das buscas do Google por informações compartilhadas por seus contatos no Facebook. A disputa pela audiência reflete, é claro, uma briga maior por dinheiro proveniente de anúncios.

Desde a ascensão do Facebook, o Google demorou a reagir. Ou melhor, falhou sucessivamente no contra-ataque no campo da interação entre usuários. Em 2005, apresentou precocemente o Dodgeball, serviço de geolocalização similar ao que atualmente é usado no Foursquare. No ano seguinte, foi a vez do Jaiku, espécie de rival do Twitter, que tombou diante da versão original. Os maiores fracassos, contudo, viriam em 2009, com o Wave, e, em 2010, com o Buzz – esse, sim, fez barulho. O serviço apresentava uma falha primária de privacidade, que permitia a exibição, sem autorização do usuário, de todos os contatos provenientes do Gmail, serviço de e-mails da empresa. O Buzz foi colocado de lado após uma enxurrada de reclamações.

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“O Google valoriza a tecnologia, não a ciência social”, afirmou em seu blog Paul Adams, um talentoso executivo cuja trajetória ilustra a mudança de maré ocorrida na internet em pouco mais de dois anos. Ele participou da fase embrionária de desenvolvimento do Google+, mas trocou o gigante de buscas pelo Facebook, onde atualmente é gerente de produtos. “O trabalho lá (no Google) se tornou uma tarefa burocrática.” Adams não foi o único. Na verdade, a empresa perdeu vários talentos em postos-chave, inclusive no Brasil. De quebra, nos Estados Unidos, perdeu (justamente para o Facebook) o almejado posto de melhor empresa para se trabalhar, sinal de que a aura de empregador que oferece um ambiente informal e estimulante – que inclui mesas de ping-pong e pebolim – já não seduzia tanto quanto o também despojado chinelo Adidas do criador da rede social.

Larry Page e Mark Zuckerberg
Larry Page e Mark Zuckerberg (VEJA)

O primeiro sinal de que o Google de fato empreenderia a mudança que ganha corpo agora surgiu em janeiro, quando Eric Schmidt, então presidente da companhia, postou a seguinte mensagem em sua conta no Twitter: “A supervisão diária de adulto não é mais necessária.” Depois de conduzir a empresa à maturidade, uma tarefa que consumiu uma década, o experiente executivo de 56 anos devolvia, assim, a gestão do gigante ao cofundador Larry Page, de 37. Schmidt disse que, de fato, a empresa perdera agilidade na tomada de decisões por manter uma espécie administração compartilhada entre ele próprio, Page e Brin. A mudança deveria recuperar a agilidade perdida.

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Foi o que aconteceu. Desde abril, quando Page reassumiu o comando, o Google se tornou novamente uma máquina de lançamentos. Apresentou netbooks com sistema operacional Chrome OS (uma aposta arriscada), o botão +1 (semelhante ao “Curtir”, do Facebook), um serviço de música on-line (Google Music), um site de compartilhamento de fotos (Photovine) e remodelou os tradicionais Gmail e YouTube. “As declarações que Page fez desde o início do ano já permitiam antever que essas mudanças estavam em curso”, diz Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getúlio Vargas e pesquisador do mercado digital. “Havia claramente a preocupação com o fato de a empresa ter ficado lenta em relação ao mercado.”

Com exceção do computador movido a Chome OS, as demais apostas do Google têm claro objetivo social. Atraindo adeptos a seus serviços, o gigante pode reunir um tipo de informação valiosíssima: hábitos e preferências de usuários compartilhados na rede. É uma mina de ouro para ações publicitárias nas páginas internas do site. A inclusão do botão +1 entre seus recursos, por exemplo, é nada menos do que uma guinada na maneira do Google de fazer buscas. “Com o uso cada vez mais frequente do +1, as buscas passarão a ser influenciadas pelas preferências do usuário”, explica Alexandre Campos, gerente de contas do IDC Brasil, grupo de análise de mercado. Ele aposta ainda que a aparente evasão de talentos será contida: “As empresas atravessam ciclos naturais de desenvolvimento. O Google já teve os melhores cérebros do mercado e certamente os retomará para manter seus objetivos.”

Costuma-se dizer que, para as empresas, reinventar-se não é uma opção, mas um dever. Serve para o Google, serve para as demais. Em 1975, surgiu uma empresa que, nos anos seguintes, colocaria em prática uma ideia que até então parecia inconcebível, apesar de já ter sido desenvolvida pela rival Apple: o computador pessoal. Para isso, a Microsoft criou uma interface amigável que permitia ao não especialista comandar a máquina: o sistema operacional Windows. Apesar de ter comandado essa revolução, a Microsoft perdeu o bit da história seguinte: a internet. A companhia de Bill Gates aferrou-se a seu software e franqueou terreno ao avanço de outros – Google e Facebook são dois deles. Recentemente, tentando recuperar o tempo perdido, desembolsou 8,5 bilhões de dólares para comprar o Skype, serviço de telefonia via internet. Continua gigante, com valor estimado em 240 bilhões de dólares, mas não é mais sinônimo de inovação.

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O Google+ parece indicar que o Google compreende a lição. Nas primeiras duas semanas de atividade, com acesso restrito a convidados, atraiu estimados 10 milhões de usuários, que em geral avaliam bem o que viram lá dentro. Seu sucesso, vale repetir, ainda é incerto. Mas já está claro que, quando a gigante desperta, quem ganha é o usuário.

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