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Brasil também tem a sua presidente de TI

Executiva que ocupa cargo máximo na SAP Brasil conta como concilia agenda profissional com o papel de mãe

Por Renata Honorato
12 Maio 2014, 07h40

Marissa Mayer, Meg Whitman, Sheryl Sandberg e a brasileira Cristina Palmaka têm algumas coisas em comum: elas ocupam importantes cargos em multinacionais e também são mães. Cristina tem 46 anos e desde outubro de 2013 assumiu a presidência da SAP Brasil, subsidiária da companhia alemã especializada no desenvolvimento de softwares de gestão para clientes como NBA e Cirque du Soleil. Junto com a promoção veio a meta de manter o crescimento da empresa em ritimo acelerado e também todas as responsabilidades de acompanhar a criação de sua filha, Catarina, de 8 anos. Para compatibilizar as agendas pessoal e profissional, ela adota uma rotina rigorosa com horários e compromissos. Mas chegar nesse modelo ideal de administração não foi fácil. Logo após voltar da licença-maternidade, a executiva recebeu uma proposta de trabalho para assumir uma divisão em toda a América Latina. O cargo exigia viagens constantes. “Foi um frio na barriga. Sabia que viajaria muito e na época eu tinha um bebê. Esse foi o momento em que eu pensei se realmente queria aquela posição, mas aceitei e a experiência foi fantástica”, diz. Na entrevista a seguir, Cristina faz uma retrospectiva de sua carreira e afirma de forma categórica: “Minha filha foi sem dúvidas o meu melhor projeto na vida.”

Quando a senhora começou a trabalhar no setor de tecnologia? Comecei a trabalhar muito cedo, com 16 anos, como estagiária na Philips. Essa foi a minha primeira escola corporativa. Anos mais tarde, fui fazer MBA na Fundação Getulio Vargas, com extensão na Universidade do Texas, em Austin. Lá a presença de fabricantes da área de tecnologia era muito forte. Foi nesse momento que comecei a direcionar o meu trabalho para essa área.

A senhora já entendia bastante do setor? Não conhecia nada de tecnologia, nem de PCs, mas achei o desafio muito interessante. Esse foi meu investimento. Fiquei dez anos na Compaq-HP. Depois fui para a SAP, onde atuei como vice-presidente da área de grandes e médias empresas. Em seguida, fui para a Microsoft e, mais tarde, voltei para a SAP como presidente. Assumi o cargo em 1º de outubro de 2013. A minha entrada nesse mercado aconteceu em 2000 e confesso que vivi muita coisa nesses 14 anos. Trata-se de uma área dinâmica, totalmente ligada à inovação. É onde devo seguir até a minha aposentadoria.

Como surgiu a proposta para ocupar o cargo de presidente da SAP Brasil? Eu já tinha trabalhado na SAP entre 2009 e 2010 e estava acostumada à cultura da empresa. Foi uma decisão complexa, afinal a posição envolve muita responsabilidade. Minha equipe é de mais de 1.500 pessoas no país. O desafio era muito grande, já que a SAP estava em um bom momento em todo o mundo e minha meta seria melhorar ainda mais o desempenho da companhia no país. Receber um convite do tipo fez com que eu me sentisse muito honrada.

E como foi o seu primeiro dia como presidente da SAP Brasil? O primeiro dia foi para aprender sobre a empresa. Descobrir onde ela cresceu e evoluiu nos últimos seis anos. A SAP Brasil fez muitas aquisições, principalmente para soluções na nuvem. No primeiro dia conectei algumas pessoas que já conhecia da minha passagem por lá ou do mercado. Foi preciso humildade para encarar o desafio e começar a traçar uma estratégia para dar continuidade ao crescimento em ritmo acelerado.

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Existem muitas mulheres em cargos de liderança nas outras operações da SAP no mundo? Temos muitas executivas de destaque, mas não necessariamente ocupando cargos de presidente. No Brasil, temos uma participação bastante interessante: quase 31% de todos os funcionários são mulheres. E elas estão em cargos de liderança. Temos cinco vice-presidentes que se reportam a mim. Duas são mulheres. Esse número não para de crescer e o mais importante é que essas mulheres conquistaram seus cargos por mérito e não por métrica. A SAP leva a meritocracia a sério.

A senhora também é mãe. Como organiza o seu tempo para dar conta das responsabilidades familiares e profissionais? É muito desafiador. Eu sempre fui uma pessoa muito estruturada por natureza e isso demanda um grau de disciplina muito grande. Além de ser mãe, também sou casada e tenho um marido espetacular. Além disso, também corro maratonas. É por isso que preciso ter uma disciplina incondicional para conseguir programar tudo e respeitar os horários. O que costumo fazer é destacar os compromissos que são imprescindíveis e que não podem ser negociados, sejam eles profissionais ou familiares. Quando você cria uma agenda com seus eventos não negociáveis, é mais difícil se frustar, porque algumas coisas vocês realmente não vai conseguir fazer. Sei que algum um dia não vou conseguir buscar a minha filha na escola, mas nos finais de semana me dedico à família. Eu tenho trabalhado menos aos sábados e domingos. Se tenho algo muito importante para finalizar, cuido das pendências em horários alternativos. Quando estou com a minha filha, esse momento é exclusivo dela.

Cristina Palmaka
Cristina Palmaka (VEJA)

E a disciplina tem um papel fundamental nesse seu método de gerenciamento do tempo, certo? Administrar e priorizar essas necessidades só é possível com disciplina. Sou muito rigorosa com a estipulação de horários e só consigo ter esse controle graças ao meu marido, que é um grande parceiro. Quando estou viajando, por exemplo, ele fica conectado e me ajuda nas tarefas do lar. Isso ajuda para que todos em casa tenham um ambiente com respeito, em que todos possam ter suas realizações. Trabalhar é uma realização para a minha família e minha filha sabe que o trabalho pode fazer com que eu seja uma mãe melhor para ela.

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A senhora citou maratonas. Há quanto tempo corre? Participo de maratonas desde 2000, o ano em tudo mudou na minha vida. Mudei de carreira, comecei a correr e hoje faço uma maratona por ano. Trata-se de um hobby. Um momento muito meu. É quando coloco meus pensamentos em ordem e quando soluciono problemas. Normalmente participo de maratonas fora do Brasil e às vésperas o treinamento é intenso. Correr é uma válvula de escape.

No livro Faça Acontecer, da Sheryl Sandberg, COO do Facebook, ela diz que há um momento muito complexo na vida da mulher, que é quando ela decide se deseja ser mãe ou se vai se dedicar à profissão em tempo integral. Como a senhora resolveu esse impasse? Confesso que sempre priorizei a carreira. Estava casada e viajava bastante. Nunca foi a minha prioridade ser mãe, porque eu não tinha certeza se seria uma boa mãe. Mas aí chegou uma hora em que eu tinha que decidir se queria essa experiência em minha vida. Decidimos ter um filho depois da maratona de Boston e essa foi a melhor decisão. A Catarina é sem dúvida o meu melhor projeto de vida. Quando voltei da minha licença-maternidade, recebi uma proposta de promoção para assumir uma posição para América Latina. No primeiro momento, foi aquele frio na barriga. Sabia que viajaria muito e eu tinha um bebê! Foi um momento em que eu pensei se eu realmente queria aquele cargo. Aceitei e a experiência foi fantástica. Eu realmente viajava muito, mas quando estava na cidade podia trabalhar de casa. Minha aprendeu cedo a entrar nesse mundo digital, porque usávamos muito a internet para nos comunicar.

No ano passado, a CEO do Yahoo!, Marissa Mayer, passou por uma situação bastante constrangedora durante uma reunião de resultados com investidores. Um dos acionistas flertou com a executiva publicamente de forma bastante deselegante. A senhora já passou por uma situação similar? Sempre trabalhei em empresas globais, com muitos valores, e não consigo lembrar nenhuma situação envolvendo clientes e situações constrangedoras. Nada me vem à cabeça. Disso consegui me livrar (risos).

É possível, então, ser mãe e também uma executiva de sucesso no setor de tecnologia? As mulheres podem agregar muito à área de tecnologia. Esse mercado é inovador e para ter sucesso é preciso entender o que acontece na indústria. Escutar o cliente, saber quais são suas prioridades e o que ele deseja é um desafio nessa área. E, de forma geral, as mulheres são muito boas para escutar pessoas. Elas articulam muito bem e essa é uma competência muito valorizada no segmento de tecnologia. A mulher também é resiliente. Ela pode até ouvir um não, mas sempre busca outra forma de resolver o impasse. Acho que isso explica o crescimento no número de mulheres em universidades e em áreas técnicas.

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