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Apple é cada vez mais iPhone. Isso é um problema?

Google e Microsoft também apoiam suas estruturas gigantescas em poucos produtos. Para analistas, risco cresce se companhias falham na tarefa de inovar

Por Claudia Tozetto
11 Maio 2014, 19h19

Há poucos dias, a Apple fez sua tradicional apresentação trimestral de resultados financeiros. Tudo vai bem. A companhia americana faturou nada menos do que 45,6 bilhões de dólares e lucrou 10,2 bilhões. Igualmente impressionante foi a participação do iPhone no bolo total. Lançado em 2007, o smartphone já respondia por 42% do faturamento da companhia em 2011, passando a 50% no ano seguinte. Agora, segundo o novo relatório, de cada 10 dólares que entram no caixa da Apple, quase 6 são fruto da venda de um iPhone. A contrapartida é óbvia: a participação de computadores, iPads e iPods vem encolhendo. Mas não é só. Entre 2012 e 2013, as vendas de computadores da marca caíram cerca de 7%, as de iPods, 21%, e as de iPads ficaram praticamente estáveis (alta de 3,3%). Nesse cenário, uma pergunta se impõe: tamanha dependência de um único produto é um risco para o futuro da companhia? O que aconteceria à saúde financeira da Apple se surgisse no mercado um “iPhone-killer”, um rival que pudesse desbancar o telefone mais admirado da atualidade?

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Como é dividida a receita da Apple

“Em apenas sete anos, o iPhone se tornou o gerador da maior fatia da receita da Apple, motivando de fato indagações sobre uma eventual vulnerabilidade da companhia. Não é a primeira vez que a empresa passa por situação semelhante”, diz Horace Dediu. O analista da consultoria americana se refere a período bem anterior ao aparecimento do iPhone, quando a Apple só fabricava computadores: analistas de mercado se perguntavam se a empresa sobreviveria a mudanças drásticas de mercado, como o aparecimento de um “Macintosh-killer”. As mesmas dúvidas voltaram a rondar a empresa de Cupertino em 2006, quando o iPod atingiu seu ápice comercial, respondendo por 50% da receita.

A Apple não é a única do setor de tecnologia a apoiar-se em larga medida no sucesso de uma única fonte. A maior parte da receita do Google, por exemplo, é proveniente da venda de publicidade on-line. De acordo com o balanço da empresa para o primeiro trimestre de 2014, 90% do faturamento de 15,4 bilhões de dólares veio da exibição de anúncios: modelo que exibe publicidade segmentada em sites do Google e também de parceiros. “Entre as grandes empresas de tecnologia, o Google é de longe a mais vulnerável. A companhia nunca criou outro produto de sucesso além da busca. Se eles tivessem um competidor à altura nesse segmento, eles teriam problemas”, diz Dediu.

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A Microsoft, por sua vez, tem na venda de licenças do sistema operacional Windows e do pacote Office sua galinha dos ovos de ouro. No terceiro trimestre do ano-fiscal de 2014, encerrado em março, a empresa registrou receita de 20,4 bilhões de dólares: cerca de 72% desse total veio das licenças para uso doméstico e corporativo. De olho nesse problema, a companhia fundada por Bill Gates vem tentando diversificar. Recentemente, concluiu a aquisição da divisão de celulares da Nokia, que será responsável pela fabricação de dispositivos móveis com Windows e Windows Phone.

Situação bem diferente é vivida pela sul-coerana Samsung, que fabrica o principal concorrente do iPhone, o Galaxy (um rival à altura, mas não um iPhone-killer). De acordo com levantamento da Asymco, mais de 50% da receita global da fabricante sul-coreana está concentrada na venda de celulares. Contudo, a linha da marca é composta por mais de 50 modelos, enquanto a Apple mantém nas lojas apenas três modelos do iPhone (4S, 5S e 5C). Outros produtos da sul-coreana, como TVs, telas e processadores, também registram faturamento significativo, mas não se igualam ao dos celulares. Em 2013, quando a receita chegou a 222 bilhões de dólares, a divisão de tecnologia de informação e mobilidade respondeu por 61% da receita. Isso inclui celulares, tablets e computadores, entre outros itens.

Depender de poucos produtos é um fenômeno comum no setor de tecnologia. Especialistas estimam que, em geral, 80% da receita das empresas do segmento é gerada por até 20% dos itens ou serviços. Os riscos, contudo, só atingem níveis alarmantes quando essa dependência se combina a outro fator: carência de inovação contínua. A regra é relativamente simples: antes que o carro-chefe, aquele item que carrega o faturamento nas costas, se torne obsoleto, é vital colocar substitutos em desenvolvimento.

Essa estratégia foi adotada pela Apple quando a empresa percebeu que o iPod e mesmo os notebooks seriam descartados pelos consumidores no futuro. Ao invés de tentar criar uma falsa e frágil barreira de proteção, a companhia optou por criar novas categorias de dispositivos para substituí-los. “Esse processo é, de certo ponto de vista, destrutivo, pois é a própria fabricante quem decide acabar com seu negócio principal antes que ele seja tragado pelo mercado”, diz Dediu. Muitas empresas costumam resistir, tentando preservar a fonte de receita. O insucesso é certo.

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É o que aconteceu com a Microsoft. Diante da ascensão de smartphones e tablets, a empresa insistiu no segmento de PCs com o Windows, perdendo a oportunidade de mergulhar no mercado móvel. Com isso, perdeu terreno para Apple e Samsung. A resposta aos novos tempos, só apareceria em 2010, com o Windows Phone, três anos após o iPhone chegar às lojas. “A Microsoft ganha muito dinheiro com o Windows e o Office e, por isso, não está ameaçada de ser varrida do mercado. Contudo, precisa de uma estratégia consistente para ser relevante no mundo móvel”, diz Frank Gillett, vice-presidente da Forrester, consultoria americana especializada em tecnologia.

Líder em inovação, a Apple, por seu turno, se dedica a uma tarefa que pode ferir os ouvidos do iPhonemaníacos, segundo Dediu, analistas da Asymco. “A prioridade máxima da companhia é, já faz alguns anos, destruir o iPhone. A empresa já está de olho na próxima onda, os wearables, e certamente terá um papel importante no desenvolvimento de dispositivos dedicados a esse setor.” Segundo dez entre dez analistas do mercado de tecnologia, a Apple já desenvolve seu primeiro dispositivo nessa nova categoria, o iWatch, relógio inteligente, que deve ser lançado até dezembro – o QG de Cupertino não confirma as informações. Se esse será o novo iPhone da empresa, o tempo dirá.

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