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Adeus aos camponeses: robô pode pôr fim à presença humana nas lavouras

O desenvolvimento de uma máquina capaz de colher até os vegetais mais delicados pode mudar o cenário agronômico mundial

Por Sabrina Brito Atualizado em 12 jul 2019, 11h59 - Publicado em 12 jul 2019, 06h30

“A descoberta da agricultura foi o primeiro grande passo em direção a uma vida civilizada”, disse, certa vez, o antropólogo escocês Arthur Keith (1866-1955), um dos nomes de proa no estudo da evolução humana. Os importantes avanços na agronomia foram inevitavelmente acompanhados por mudanças substanciais em nosso cotidiano — seja na alimentação, no mercado ou nas formas de trabalho. No domingo 7, cientistas da Universidade de Cambridge (Inglaterra) divulgaram os resultados de um trabalho que potencialmente transformará o cenário agronômico mundial, podendo significar o último passo para a eliminação da presença humana nas lavouras. Trata-se do desenvolvimento de um robô especializado na colheita de alface. A máquina, chamada de Vegebot, representa a superação da única etapa da plantação daquele vegetal que ainda contava com mãos humanas. Embora alguns alimentos, como a batata, já sejam colhidos roboticamente há décadas, a alface era, até agora, considerada muito frágil para ser coletada de tal modo — suas folhas são fáceis de amassar e estragar-se.

Testado em campo, o robô inglês colheu os vegetais de forma impecável. A alface escolhida para os testes era do tipo iceberg, cujo cultivo é especialmente complexo. O vegetal possui folhas ainda mais delicadas que as dos demais tipos e cresce deitado sobre o solo, o que complica a extração. A eficiência da máquina nesse trabalho indica que a mesma tecnologia poderia ser replicada em outras lavouras nas quais a presença humana ainda é essencial para a tarefa — entre elas, as vinícolas.

O Vegebot funciona com base em uma tecnologia chamada de machine learning (aprendizado de máquina), pela qual se “ensina” a inteligência artificial (IA) a tomar decisões. No caso, o software foi abastecido com imagens que identificavam as diferenças entre as alfaces apropriadas para o consumo e as impróprias. Equipado com uma câmera que detecta os vegetais no seu campo de visão, o robô é capaz de comparar a realidade que rastreia às fotos que possui no banco de dados. Com isso, escolhe qual alface deve ser extraída e qual deve ser descartada. O corte então é guiado por uma segunda câmera, acoplada próximo a uma lâmina de cisão com braços cuja força pode ser ajustada, obtendo-se uma delicadeza semelhante à que se exige das mãos dos camponeses.

Apesar do êxito dos testes, o Vegebot ainda é lerdo demais para ser comercializado — enquanto um homem leva sete segundos para colher uma alface, a máquina demora 31. “A aceleração dos mecanismos está sendo trabalhada. Logo chegaremos aos dez segundos”, avaliou, em entrevista a VEJA, o inglês Simon Birrell, cientista do departamento de engenharia de Cambridge e coautor do protótipo. Uma das preocupações oriundas da inovação é que o Vegebot possa tirar a vaga de camponeses — o que acarretaria uma íngreme escalada do desemprego, visto que 28% da população mundial trabalha na agricultura. “Mas a verdade é que poucos querem se dedicar a essa tarefa. Estamos falando de um emprego duríssimo, cujo recrutamento tem sido cada vez mais difícil”, afirma Birrell.

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Os progressos na agronomia têm se provado mais benéficos do que maléficos há pelo menos seis milênios — quando o Egito e a Mesopotâmia começaram a instalar sistemas de irrigação. Na Idade Média, passou-se a usar a rotação de culturas, para preservar o solo. E, entre 1960 e 2015, a produção agrícola mundial triplicou graças à chamada revolução verde, resultante do início da criação de sementes geneticamente modificadas, do uso de fertilizantes aprimorados e da mecanização de etapas da cadeia. A novidade dos cientistas de Cambridge representa a adição de uma tecnologia contemporânea ao dia a dia do campo: a IA — que pode, por exemplo, diminuir as perdas na agricultura. A ONU estima que cerca de 89% do desperdício de comida na América Latina seja por efeito de erros da produção, usualmente por falhas humanas na colheita. De fato, o melhor aproveitamento das safras será essencial para alimentar a crescente população do planeta, que deve ultrapassar os 9 bilhões de indivíduos — 2 bilhões a mais que hoje — até 2050.

Publicado em VEJA de 17 de julho de 2019, edição nº 2643

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