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Técnica permite escolher sexo antes da fertilização

Utilizando ratos, cientistas japoneses conseguem definir gênero dos filhotes. Há uma inevitável discussão ética pela frente

Por Sabrina Brito Atualizado em 23 ago 2019, 15h25 - Publicado em 23 ago 2019, 06h30

“Qual será o sexo do bebê?” Durante as primeiras semanas de gravidez, essa é uma das dúvidas que mais mobilizam as emoções dos pais. Talvez não por muito tempo. Um estudo recém-divulgado por cientistas da Universidade Hiroshima, no Japão, revela que a ciência estaria apta a pôr fim à indagação. Os pesquisadores anunciaram o desenvolvimento de uma técnica pela qual é possível escolher o gênero do futuro feto. Apesar do enorme avanço representado pelo método, é inegável que ele traga à tona questões éticas sobre os limites da ciência. Afinal, seria correto se valer da novidade no caso de seres humanos?

Antes de prosseguir, é bom recordar um pouco das aulas de biologia do colégio. O esperma do macho é que define o sexo da cria. A fêmea fornece sempre óvulos com cromossomo X, enquanto há espermatozoides com o X ou com o Y. Quando a combinação final é XX, nasce um filhote do sexo feminino; se for XY, virá um macho. O que a equipe da universidade japonesa conseguiu foi elaborar uma técnica de separação de espermatozoides de acordo com o cromossomo que eles carregam consigo. Para colocá-la à prova, o experimento de Hiroshima utilizou roedores.

Após uma série de testes, os cientistas chegaram a uma substância, o resiquimod, que desacelera espermatozoides que carregam o cromossomo X, mas não afeta em nada os que têm o Y. Diante disso, foi possível separar os espermatozoides que dariam origem a fêmeas daqueles que gerariam machos. Na sequência, os pesquisadores partiram para a inseminação em laboratório.

Em teoria, o mesmo método pode funcionar em outros mamíferos — humanos, inclusive. A ideia, entretanto, garantem os pesquisadores, é aplicar a técnica em setores como a pecuária (permitindo a opção, por exemplo, por mais vacas leiteiras ou bois para o abate). “É preciso debater muitas questões biológicas e principalmente éticas antes de cogitar realizar qualquer coisa similar com humanos”, disse a VEJA o biólogo japonês Masayuki Shimada, coautor do trabalho de Hiroshima.

Por “questões biológicas” entenda-­se o seguinte: não é certo que o mesmíssimo método usado em ratos seria bem-sucedido com pessoas. Pode ser que os espermatozoides de um homem não reajam de igual forma à química do resiquimod — mas a solução poderia ser simples. Muito mais complicados, é claro, são os dilemas morais.

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A probabilidade de os mamíferos gerarem machos ou fêmeas costuma ser de 50%. Essa divisão “meio a meio”, observada também na espécie humana, confere equilíbrio às populações. “Se a opção de escolher o sexo estivesse amplamente disponível, a distribuição estatística regular da sociedade entraria em risco, sobretudo em países onde impera a ideia arcaica de que o masculino seria superior”, explicou o sociólogo americano Joseph Coughlin, especialista em estudos demográficos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Tome-se o exemplo da China. Lá, a política do filho único (até 2016, permitia-se a cada casal ter apenas uma criança) levou ao aumento do infanticídio de meninas, já que a sociedade chinesa oferece maiores privilégios ao sexo masculino. A proporção chegou à casa de 1,2 menino para cada menina, numa clara ruptura do padrão esperado.

“Postulados éticos são encontrados e testados, assim como os científicos”, acreditava o gênio alemão Albert Einstein (1879-1955). No caso em questão, o melhor é não pagar para ver. A solução deve ser a mesma que acabou aplicada ao tema dos clones humanos — a ONU proibiu, em âmbito global, que eles sejam feitos.

(Arte/VEJA)

Publicado em VEJA de 28 de agosto de 2019, edição nº 2649

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