Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Sobrecarregadas, mulheres são principais vítimas da síndrome de burnout

Pesquisas mostram que, sob pressão durante a pandemia, elas chegaram ao colapso

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 13h36 - Publicado em 9 out 2021, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Há algo de paradoxal na situação atual das mulheres. Nunca foi tão intensa a mobilização por equidade com os homens, pelo direito de decidir o que fazer com o próprio corpo e contra a violência de gênero. Ao mesmo tempo, poucas vezes na história elas estiveram tão exaustas pelo acúmulo de funções como mães, parceiras e profissionais e tão pressionadas por uma cultura que exalta a perfeição. Embora as bandeiras estejam aí e um movimento real de mudança ganhe força, ainda permanece uma distância imensa separando o gênero feminino de uma realidade menos pesada e punitiva. A pandemia de Covid-19, claro, contribui para fazer com que a vida delas — ou da maior parte — tenha se transformado em um caos. Ou em um inferno, dependendo do momento. O trabalho em casa, as aulas on-line dos filhos, a louça na pia, o cuidado com os pais e nem um segundo para si próprias levaram as mulheres ao esgotamento.

    O retrato da situação está exposto na crueza dos resultados da pesquisa Women in the Workplace 2021, feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn. Depois de entrevistarem mais de 65 000 pessoas de 423 empresas nos Estados Unidos e Canadá, os pesquisadores concluíram que 42% das mulheres sofrem com sintomas da síndrome de burnout. Entre os homens, a taxa foi de 35%. Em 2020 e 2019, os índices eram de 32% e 28%, respectivamente. A síndrome de burn­out é uma doença dos nossos tempos. Primeiramente observada pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger em 1974, foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como síndrome em 2019. Caracteriza-se pelo cansaço extremo e esgotamento físico e mental resultantes de situações desgastantes ligadas ao trabalho ou relacionadas a altas cargas de stress. Entre os sintomas estão os sentimentos de fracasso e insegurança, insônia, mudanças no apetite e dores de cabeça frequentes. No levantamento realizado pelas consultorias, nada menos do que 50% das mulheres que ocupavam cargos de gerência manifestaram sintomas de forma persistente. Quanto mais elevada a posição na carreira profissional, maiores as responsabilidades, as cobranças e, em milhares de casos, os problemas domésticos.

    arte burnout

    Aqui a situação não é diferente. Considerado pela International Stress Management Association o segundo país com maior número de pessoas afetadas pela síndrome em 2019, atrás somente do Japão, o Brasil viu subir suas taxas na pandemia. Segundo o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, houve um acréscimo de 21% nos casos de exaustão ligada ao trabalho em comparação com os meses que antecederam a crise sanitária. Outro estudo, executado pela Locked Down, Burned Out e publicado pela editora De Gruyter, na Alemanha em 2020, mostrou que a interrupção de relações importantes para a saúde mental, como a convivência social, e a desigualdade no mercado de trabalho também influem nesses índices. Mesmo com as diferenças diminuindo, as discrepâncias de salário e de tipo de emprego entre os gêneros continuam graves. O mercado brasileiro é um dos mais aviltantes nesse sentido. No relatório Global Gender Gap de 2020, do Fórum Econômico Mundial, o país ocupa a 93ª posição em um ranking que classifica as nações de acordo com a igualdade salarial entre homens e mulheres. A lista tem 153 países.

    No seminal livro O Segundo Sexo, lançado em 1949, a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) já intuía que as atribuições sociais dadas ao corpo feminino estariam na raiz da desigualdade de tratamento entre homens e mulheres. “Cuidar de sua beleza, arranjar-se, é uma espécie de trabalho que lhe permite apropriar-se de sua pessoa como se apropria do lar pelo seu trabalho caseiro; seu eu parece-lhe, então, escolhido e recriado por si mesma. Os costumes incitam-na a alienar-se assim em sua imagem.” As palavras de Simone explicam a discriminação persistente à passagem do tempo, com a mulher até hoje submetida a estereótipos que a aprisionam. Os dados trazidos pelas pesquisas sugerem, no entanto, que elas podem estar chegando a um ponto de inflexão. A exaustão de ser quem a filósofa tão bem descreveu está insuportável. Elas não aguentam mais.

    Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.