Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Risco de mortalidade entre homens homossexuais casados caiu ao longo dos anos

Estudo dinamarquês mostra que atualmente o risco apresentado por esse grupo é menor do que o de homens solteiros ou divorciados. Por outro lado, mulheres em casamentos homossexuais apresentam o maior risco

Por Juliana Santos
13 mar 2013, 13h38

Um amplo estudo realizado na Dinamarca relacionou o estado civil (e outras formas de relacionamento informais, como morar com um parceiro) com o risco de mortalidade. Esse risco vem diminuindo para homens homossexuais casados desde meados da década de 90, e é atualmente menor para esse grupo do que para solteiros ou divorciados. Por outro lado, mulheres em casamentos homossexuais apresentam o risco mais elevado: elas têm um risco de mortalidade 89% maior em relação a mulheres em casamentos heterossexuais.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: Marriage, cohabitation and mortality in Denmark: national cohort study of 6.5 million persons followed for up to three decades (1982-2011)

ONDE FOI DIVULGADA: periódico International Journal of Epidemiology

QUEM FEZ: Morten Frisch e Jacob Simonsen

INSTITUIÇÃO: Universidade de Aalborg, Dinamarca

DADOS DE AMOSTRAGEM: 6,5 milhões de dinamarqueses

Continua após a publicidade

RESULTADO: O risco de mortalidade de homens em casamentos homossexuais tem sido reduzido desde meados dos anos 90 e atualmente é mais baixo do que o risco de solteiros ou diverciados. Já o risco de mulheres homossexuais casadas é o maior: 89%, sendo causado principalmente por suicídio e câncer.

O estudo, publicado online nesta terça-feira no periódico International Journal of Epidemiology, foi realizado com dados de 6,5 milhões de dinamarqueses, entre 1982 e 2011.

A primeira legislação sobre uniões entre parceiros do mesmo sexo na Dinamarca foi implementada em 1989. De acordo com Morten Frisch, um dos autores do estudo, a lei inicial era praticamente igual à que existe hoje no país, promovendo implicações legais semelhantes àquelas direcionadas a heterossexuais – a única diferença foi a substituição dos termos “registro” ou “união” pela palavra “casamento” na legislação atual.

Frisch explica que, de 1989 até 1995, a mortalidade de homens em casamentos homossexuais era de cinco a sete vezes maior do que a atual, que o estudo relevou ser menor do que as de homens solteiros ou divorciados.

Risco calculado – A pesquisa foi dividida em dois tipos de análise do risco de mortalidade: uma baseada no estado civil legal e outra no modo em que a pessoa realmente vivia. No primeiro caso, os valores são comparados ao risco de heterossexuais casados e, no segundo caso, o risco é calculado em relação a pessoas morando com alguém do sexo oposto. Esses grupos foram escolhidos como referência porque apresentam o menor risco de mortalidade.

Continua após a publicidade

No campo do estado civil, as mulheres em casamentos homossexuais apresentaram o maior risco de mortalidade (sempre tendo como referencial casais heterossexuais), 89%, seguidas por solteiras (62%), divorciadas (57%) e viúvas (37%). De acordo com os autores, a maior parte das mortes de mulheres homossexuais tem como causa suicídio e câncer.

Já os homens casados com pessoas do mesmo sexo apresentaram um risco de 38%, menor do que o encontrado para divorciados (66%), solteiros (63%) e quase empatando com viúvos (37%).

Na divisão pelo modo de habitação, o maior risco foi o de mulheres que vivem com outros adultos (sem considerar familiares): 487%. Elas foram seguidas por mulheres que moram com os pais (112%), com alguém do mesmo sexo (104%) e que moram sozinhas (76%).

Homens morando com diversos adultos também apresentaram o risco mais elevado (270%), seguidos por solteiros (95%), pelos que moram com os pais (79%) e por último por homens que moram com outro homem (70%).

Pesquisas anteriores mostravam que a mortalidade de pessoas casadas era menor do que a de pessoas de outros estados civis. Para Frisch, uma das inovações desse trabalho foi mostrar que nem todos os casamentos estão dentro dessa regra.

Continua após a publicidade
Onde (e com quem) mora o perigo
Onde (e com quem) mora o perigo (VEJA)
Morten Frisch
Morten Frisch (VEJA)

‘A diferença está no estilo de vida’

Morten Frisch

Pesquisador do Statens Serum Institut, na Dinamarca

A primeira legislação voltada para uniões homoafetivas na Dinamarca foi instituída em 1989. Logo após esse fato, a mortalidade em pessoas casadas com alguém do mesmo sexo era muito elevada. Por que isso aconteceu?

Quando a lei foi criada, as primeiras pessoas que fizeram uso dela foram aquelas que tinham uma necessidade urgente de garantir alguns benefícios a seus parceiros de mesmo sexo, inclusive a herança. Consequentemente, uma grande parte daqueles que se casaram com pessoas do mesmo sexo nos primeiros anos depois de 1989 eram pessoas com doenças graves, o que resultou na mortalidade elevada desse grupo nos primeiros anos.

Alguns anos mais tarde, a mortalidade entre homens em casamentos homossexuais diminuiu muito. O senhor acredita que isso tenha algo a ver com o advento do coquetel para tratamento da Aids?

Com certeza, a introdução da terapia antirretroviral, por volta de 1996, mudou drasticamente a mortalidade entre os homens homossexuais, inclusive aqueles que eram casados. Desde então a mortalidade de homens em casamentos homossexuais vem sendo reduzida, e atualmente está mais baixa do que a de solteiros e divorciados.

Continua após a publicidade

Por que as mulheres casadas com mulheres apresentam um risco maior de mortalidade por suicídio e câncer?

Os dados não permitem uma resposta definitiva a isso, mas o que se sabe é que fatores relacionados ao estilo de vida, como tabagismo ou consumo de bebidas alcóolicas acima do recomendado, podem contribuir para o aumento da mortalidade por câncer. O fato de mulheres homossexuais apresentarem uma taxa de fertilidade menor do que as mulheres heterossexuais também podem contribuir para o aumento do câncer de mama no grupo homossexual. Em relação ao suicídio, estudos anteriores mostraram um índice elevado de depressão entre homens e mulheres homossexuais. Isso se deve, em grande parte, aos níveis de stress psicológico e social vivenciados por esses grupos, mesmo em países mais tolerantes como a Dinamarca.

Por que o casamento tem sido associado com a redução no risco de mortalidade?

Uma possibilidade é que o casamento (e também o fato de morar junto com um parceiro) pode influenciar a adoção de hábitos saudáveis, além de proporcionar maior apoio social.

Mas o casamento não é tão importante por si só: a combinação do efeito benéfico do casamento e a seleção de indivíduos saudáveis para se casarem pode explicar a redução da mortalidade.

Como a situação de habitação de uma pessoa pode afetar sua saúde?

Os efeitos do estado civil ou situação de habitação são sempre indiretos. Nenhum risco de mortalidade é influenciado consideravelmente pela existência ou não de uma certidão de casamento ou pelo fato de morar com outra pessoa. As principais diferenças se referem ao estilo de vida de pessoas em diferentes grupos.

O senhor acha que este estudo muda o conceito de que pessoas casadas sempre têm um risco de mortalidade menor?

Sim, existem exceções para esse conceito. Por exemplo, pessoas casadas com alguém do sexo oposto que moram sozinhas têm mortalidade mais elevada do que solteiros que moram sozinhos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.