Ivermectina. Este é o nome do remédio usado para exterminar vermes e parasitas (como pulgas e piolhos) que diminuiu a quase zero a carga viral do novo coronavírus em exames de laboratório. É o que aponta uma pesquisa publicada na última sexta-feira, 3. Comandado pela Universidade de Monash, na Austrália, o estudo feito em laboratório teve resultado em células controladas e ainda não foi testado em seres humanos.
De acordo com o documento, publicado no periódico Antiviral Research, as células em laboratório foram infectadas com o novo coronavírus e logo depois sofreram a adição da Ivermectina. Nas primeiras 24 horas houve uma redução do 93% do material genético do vírus; passando para as 48 horas de estudo, a taxa baixou para 99,9%.
Apesar dos resultados positivos, ainda não é possível saber se a eficácia se repetirá no uso em humanos. A expectativa do grupo envolvido no estudo (o Instituto de biomedicina de Monash Biomedicine com o Instituto Peter Doherty de infecção e imunidade) é que com o uso da droga seja possível limitar a carga viral do coronavírus, impedindo que a infecção causada por ele desenvolva-se para quadros graves e diminuindo a transmissão entre pessoas.
Se por um lado, o uso da ivermectina possui “um perfil de segurança estabelecido para o uso humano” e seja liberado em todo o mundo para combater parasitas e vermes, conforme aponta o estudo, ele não obteve o resultado esperado no uso para pacientes com dengue, em uma análise clínica realizada na Tailândia. Há, no entanto, a expectativa de que o comportamento para casos de Covid-19 seja diferente, apostando em doses mais adequadas para o tratamento da doença.
Cabe ressaltar que os pesquisadores apontaram que o uso da Ivermectina no combate a Covid-19 permanece não comprovado e depende de testes clínicos para que haja avanço no reconhecimento de sua eficácia.
Longo caminho
A VEJA, o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, explicou que, antes de passar por humanos, os testes australianos devem passar por outras fases. “Muitas vezes, estudos que são promissores in vitro não se mostram eficazes nas fases seguintes. Até um produto chegar às farmácias, é preciso passar por testes pré-clínico, animal, e fases humanas 1, 2 e 3”, explicou.
“Como a ivermectina já é usado em vermífugo poderia pular-se as primeiras fases, pois já se sabe qual é a dose segura em humanos e seus efeitos colaterais. Ou seja, é um estudo promissor, não dá para descartar isso, mas é preciso passar por diversos testes ainda”. O médico lembra que há atualmente 338 estudos de combate ao coronavírus em andamento, incluindo os testes de hidroxicloroquina, citado diversas vezes pelo presidente Jair Bolsonaro, e outros, como os de suplementos alimentares e células tronco. “Desses mais de 300, se cinco vingarem já seria ótimo”.
Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia também garante que “ainda é cedo para tirar qualquer conclusão”. “Fala-se muito sobre a hidroxicloroquina, mas ainda não há nenhuma evidência concreta sobre a sua eficácia. Por enquanto não dá para falar que exista um estudo mais promissor.”