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Proxalutamida: o que é o novo tratamento defendido por Bolsonaro

O medicamento, usado contra alguns tipos de câncer, como o de próstata, não tem eficácia comprovada contra a Covid-19

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 jul 2021, 20h20

O presidente Jair Bolsonaro parece não desistir de encontrar uma bala de prata ou simplesmente uma cura milagrosa para Covid-19. Após o desgaste da cloroquina e da ivermectina, ele encontrou um novo alvo: a proxalutamida. Trata-se de uma droga experimental, desenvolvida na China, para o tratamento de tumores de próstata. No entanto, ainda não há comprovação de sua eficácia contra a Covid-19 e, como aconteceu com estudos sobre os dois medicamentos defendidos anteriormente pelo presidente, a pesquisa com resultados positivos sobre a proxalutamida também gerou questionamentos metodológicos e éticos.

Seus benefícios contra a Covid-19 começaram a ser defendidos por Bolsonaro após a divulgação de um estudos feitos com o medicamento no Brasil com resultados extremamente promissores, tanto em pacientes hospitalizados quanto em pacientes ambulatoriais. Um estudo no Amazonas, com 645 pacientes internados mostrou que a proxalutamida reduziu as mortes em em 77% e a permanência hospitalar média em 5 dias, muito mais do que qualquer outro tratamento já testado contra a doença.

Outro estudo, publicado recentemente no Frontiers in Medicine, concluiu que a taxa de hospitalização em homens tratados com a proxalutamida foi reduzida em 91% em comparação com os tratamentos convencionais. No entanto, o mesmo artigo foi rejeitado por publicações científicas de prestígio, como The New England Journal of Medicine e The Lancet.

O principal efeito da proxalutamida é bloquear a atividade dos andrógenos, hormônios masculinos como a testosterona. Já está bem documentado que os homens são mais suscetíveis à hospitalização e morte pela Covid-19, e os andrógenos podem desempenhar um papel importante nesse processo. No entanto, com exceção do estudo brasileiro, outros testes clínicos com antiandrógenos em pacientes com Covid-19 não tiveram resultados promissores.

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Além disso, outros fatos deixaram a comunidade científica cautelosa e cética sobre o efeito milagroso do tratamento. Existem denúncias sobre supostas irregularidades no ensaio clínico feito com pacientes hospitalizados no Amazonas, que estariam sendo investigadas pela Conep. A alta taxa de mortalidade nos pacientes do grupo placebo também chama a atenção e o autor principal dos estudos, o endocrinologista Flavio Cadegiani, da empresa de biotecnologia Applied Biology, já havia defendido o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, como ivermectina e azitromicina.

“Esses resultados são bons demais para ser verdade. Quase não há intervenções médicas na história da medicina que tenham essa magnitude de benefício, muito menos contra a Covid-19.”, disse Eric Topol, vice-presidente executivo do Scripps Research Translational Institute, à revista Science.

Mais estudos

Vale dizer que ainda não é possível afirmar que a proxalutamida não funciona contra a Covid-19. Tampouco, a partir destas evidências, é possível dizer que ela funciona. Para chegar a uma conclusão, são necessários mais estudos, que já estão a caminho.

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“A proxalutamida está no início dessas pesquisas e precisa estudar mais para verificar primeiro a sua segurança, segundo a sua eficácia, e, a partir daí, se pode ser considerada para o tratamento [da Covid-19].”, disse o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em entrevista a jornalistas esta semana.

Na segunda-feira, 19, a Anvisa autorizou um estudo clínico de fase 3 para avaliar a segurança e a eficácia do medicamento na redução da infecção viral causada pelo novo coronavírus e no processo inflamatório provocado pela Covid-19. O teste será realizado em 50 participantes do sexo masculino de Roraima e São Paulo com sintomas leves a moderados da doença, que não estejam hospitalizados.

Além do Brasil, o estudo também está em andamento na Alemanha, Argentina, África do Sul, Ucrânia, México e Estados Unidos. A aprovação da agência ocorreu um dia após o presidente Jair Bolsonaro declarar que pediria estudos sobre o uso do medicamento no Brasil. Em abril, Bolsonaro já tinha citado a proxalutamida, fármaco fabricado na China. O novo estudo é patrocinado pela empresa Suzhou Kintor Pharmaceuticals, sediada na China.

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