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Pela primeira vez, medicamento pode tratar a doença de Huntington

Em um estudo inovador, cientistas britânicos desenvolveram o primeiro tratamento capaz de suprimir a mutação do gene que desencadeia a doença hereditária

Por Da Redação
Atualizado em 11 dez 2017, 18h40 - Publicado em 11 dez 2017, 18h25

Pela primeira vez, cientistas da Universidade College London, na Inglaterra, desenvolveram um tratamento revolucionário contra a doença de Huntington, problema hereditário que causa danos irreversíveis no cérebro. Segundo o estudo, divulgado nesta segunda-feira, o medicamento experimental é capaz de retardar a progressão da doença ao corrigir a mutação do gene que a desencadeia.

Os testes envolveram 46 homens e mulheres em estágios iniciais da doença no Reino Unido, na Alemanha e no Canadá. Cerca de 25% desses voluntários receberam doses placebo do medicamento. Já os pacientes do grupo experimental receberam quatro injeções mensais, cujas doses aumentaram ao longo do tempo, com intervalo de um mês cada.

Depois de receberem o tratamento, as concentrações da proteína responsável pelos efeitos danosos da doença diminuíram de forma significativa e proporcional à dose injetada. Essa associação, segundo os cientistas, indica um efeito ainda mais potente.

“O medicamento mostrou-se seguro e bem tolerado pelos pacientes. Este é provavelmente o momento mais significativo na história da doença, desde o gene isolado.”, disse Sarah Tabrizi, principal autora do trabalho e diretora do centro de estudos sobre a doença de Huntington da instituição, à rede britânica BBC .

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Revolucionário

De acordo com a especialista, esse é o primeiro estudo a mostrar um tratamento efetivo na redução da progressão da doença. Até então, os tratamentos convencionais alcançavam somente os sintomas do Huntington, sem melhoras significativas.

A nova terapia, uma cadeia sintética de DNA, tem causado euforia na comunidade científica pois, conforme os resultados da pesquisa, ela pode ser adaptada para tratar outras doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e o Alzheimer.

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Para produzir o medicamento a uso clínico, a gigante farmacêutica Roche pagou uma taxa de licença de 45 milhões de dólares.

Como funciona

Pessoas com a doença apresentam uma mutação na seção do DNA conhecida como gene huntingtin (HTT). Normalmente, esse gene contém instruções para a produção da proteína huntingtina, que é vital para o desenvolvimento do cérebro. No entanto, um erro genético corrompe as instruções de formação dessa proteína, transformando-a em uma assassina de células cerebrais e causando os efeitos irreversíveis da doença.

O novo tratamento atua silenciando esse gene ao interceptar e ‘matar’ o RNA mensageiro, estrutura responsável por enviar a mensagem de produção da proteína. Como o medicamento precisa atuar diretamente no cérebro, é necessário que ele seja injetado diretamente no líquido cefalorraquidiano, fluido que circula nos espaços entre a medula espinhal e o cérebro, com uma agulha de cerca de 10 centímetros.

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“Se me perguntassem, cinco anos atrás, se isso poderia funcionar, eu teria dito que não. O fato é que ele funciona e é realmente notável”, afirmou John Hardy, neurocientista da Universidade College London, que não teve envolvimento no estudo.

Alzheimer

Devido aos resultados promissores, os cientistas acreditam que cadeias sintéticas similares poderiam ser desenvolvidas para inibir outras proteínas mensageiras que desencadeiam doenças neurodegenerativas, como as proteínas beta-amiloide associados ao Alzheimer.

“Claramente, será muito interessante se essa abordagem puder ser aplicada no tratamento do Alzheimer”, disse Giovanna Mallucci, diretora associada do Instituto de Pesquisa sobre Demência da Universidade de Cambrige. Porém, na maioria dos distúrbios genéticos, as causas são mais complexas e menos compreendidas, o que as torna mais difíceis de atingir.

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Pacientes

O britânico Peter Allen, de 51 anos, é um dos pacientes que receberam o tratamento experimental. Para ele, o Huntington é uma doença que causa a ruína de famílias inteiras. Ele viu a própria mãe, o tio e a avó morrerem em decorrência da doença.

Agora, conforme mostraram os exames, sua irmã e seu irmão também irão desenvolver a doença em algum ponto da vida. Ao todo, os três têm oito herdeiros, que também possuem um risco de 50% para o Huntington.

“É um final horrível, você acaba quase que em estado vegetativo. Eu tenho muita sorte de estar aqui para receber um tratamento como esse. Espero que no futuro seja disponibilizado a todos, especialmente minha família.”, disse Peter à BBC.

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“Tenho conhecido pacientes com Huntington há quase 20 anos. Vi muitos deles morrerem ao longo desse percurso”, confessou Sarah. “Agora temos a esperança de uma terapia que poderá prevenir ou desacelerar a doença. Isso é de extrema importância para os pacientes e suas famílias.”

Próximas etapas

De acordo com os pesquisadores, o estudo não é o suficiente para mostrar a cura da doença, mas uma nova e maior etapa da pesquisa tem como objetivo descobrir os efeitos clínicos do medicamento.

Para isso, são necessários dados de longo prazo, que mostrem se realmente mudanças nos níveis da proteína causadora impactam o desenvolvimento da doença. Em estudos feitos em animais, os pesquisadores observaram um resultado positivo. Além disso, algumas funções motoras desses animais foram recuperadas durante os experimentos.

Se o teste em humanos for bem sucedido, Sarah acredita que o tratamento pode ser usado em pessoas com o gene para a doença antes de adoecerem, interrompendo o surgimento dos sintomas.

Doença de Huntington

A doença neurodegenerativa tem como causa a mutação de um gene, conhecido como gene de Huntington (proteína huntingtina), que é transmitida por gerações. Os primeiros sintomas, que normalmente aparecem entre 30 e 40 anos, incluem mudanças de humor e depressão.

Com o passar dos anos, já com danos cerebrais irreversíveis, o paciente pode mostrar perda de memória, demência, mudança de comportamento e perda gradual das funções motoras, o que pode levar à paralisia completa. A maior parte dos pacientes morre dentro de uma década de diagnóstico, geralmente revelado apenas quando os sintomas começam a surgir.

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