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“Parece que arrancaram meu coração”

Em depoimento por telefone a VEJA, Dani Cristina, de Cuiabá, conta o sofrimento de ter perdido Rhayron por envenenamento com um achocolatado

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 set 2016, 18h47 - Publicado em 2 set 2016, 18h45

O caso da morte do Rhayron, de dois anos, ocorrido em Cuiabá, no 25 de agosto, comoveu o país. Rhayron morreu envenenado após consumir um achocolatado em casa. A história ganhou proporções ainda mais assustadoras, quando, uma semana depois, dois homens foram acusados de envolvimento na adulteração da bebida. Um deles, Adônis José Negri, de 61 anos, confessou o crime. No fim da tarde desta sexta-feira, oito dias após perder o filho, Dani Cristina dos Santos falou a VEJA sobre a dramática história. A seguir, trechos do emocionante depoimento.

O momento do envenenamento

Foi tudo muito muito rápido. Foi assim: eu acordei, o Rhayron veio atrás de mim, eu peguei o achocolatado na geladeira, abri, experimentei e dei para ele. Tudo que vou dar para meus filhos eu experimento. Não senti gosto azedo. Estava normal. Depois passei mal. Mas na hora não senti nada. Aí o pai do Rhayron chamou ele e falou ‘vem aqui dar um abraço no papai’ . Ele foi correndo abraçar. Na hora do abraço, o Rhayron começou a sentir falta de ar e eu saí correndo pedindo ajuda para os vizinhos.

O hospital

Foi tudo muito rápido. Passou um homem de carro e me levou na Policlínica. Todo mundo se mobilizou para atender o meu filho. Todo mundo tentou fazer o possível por ele. A única coisa é que ‘julgaram’ um pouco a situação. Falaram que ele tinha bronco aspirado o leite, mas eu falei ‘não’! . Mas eles falavam que tinha que me conformar. Eu falei que não ia me conformar e disse que tinha alguma coisa errada. Ele não tinha engasgado! Tentaram reanimar meu filho, mas não conseguiram. Ele era uma criança que tinha acabado de completar dois aninhos. Tinha feito aniversário há dois dias. Era perfeito, nunca tinha ficado doente. Nem gripe tinha tido.

O sentimento de culpa do pai

Meu marido não quer falar. Ele está desnorteado, Revoltado. Não o culpo. Foi a situação que nos levou a fazer isso. Ele vive de bicos, mas no presente momento não estava fazendo nada. Mas ele se sente culpado. Ele não quer falar comigo. Chega em casa e só abraça a Penélope. Tenho medo de ele fazer alguma coisa. Eu vendia espetinho na rua, mas não conseguimos fazer mais nada. Precisamos de ajuda. O que vier aceito de bom coração.

A dor

Parece que arrancaram meu coração. Às vezes acho que vai melhorar, mas piora cada vez mais. Parece que tiraram um pedaço de mim. É um vazio que não sei explicar.

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Grudado na mãe

Meu filho era mais grudado em mim do que no pai e do que em qualquer outra pessoa.  Ele estava sempre comigo. As pessoa diziam que ele era o “meu rabo”. Onde eu estava, ele ia atrás. ‘Ave Maria’ , essa é a parte mais dolorida. Tudo me lembra ele. Todos os lugares.

Penélope, a outra filha

Eu tenho uma menininha de 3 anos, apenas um ano mais velha que o Rhayron. Graças a Deus,  ela não estava em casa naquele dia. Estava com a sua madrinha. Hoje, quando chegamos em casa ela fala assim: ‘ih, o Rhayron não chegou ainda, mãe.  Vai lá no céu buscar o Rhayron, mãe. Tá demorando’.

Justiça

A única coisa que eu quero é justiça. Quem está levando a culpa da morte do meu filho é esse senhor que eu nunca nem vi na minha vida. Eu só sei que quero justiça. Quero que ele pague pelo que fez. Sei que justiça tarda mas não falha. Graças a Deus prenderam ele. Não quero ele solto na rua.  Já sobre o Deuel, eu não posso julgar ele. Não posso falar dele, porque eu acho que ele não teve a intenção. Eu acho, né? Mas também… já não tenho certeza de mais nada. Depois que perdi meu filho não consigo mais confiar em ninguém. Eu só quero ele de volta aqui comigo. 

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Entenda o caso

Na quinta-feira da semana passada, Rhayron, de dois anos sofreu parada cardiorrespiratória após tomar achocolatado Itambezinho. Segundo a mãe, o filho bebeu o produto por volta das 9 horas da manhã e em seguida começou a passar mal. Além da criança, ela e Alan José, um amigo da família, também apresentaram mal-estar após ingerir a bebida. Inclusive, Alan precisou ser submetido a uma lavagem estomacal e ficou alguns dias hospitalizado. Rhayron chegou a ser levado para a Policlínica do Coxipó, em Cuiabá, Mato Grosso, mas faleceu uma hora após chegar ao local.

Na quinta-feira (01), o caso teve uma reviravolta quando a polícia prendeu Adônis, que confessou ter envenenado o achocolatado, e Deuel de Rezende Soares, de 27 anos, que furtou a bebida e vendeu para o pai da criança por dez reais. Como a família está passando por dificuldades financeiras, o pai comprou o produto por estar mais barato do que no mercado. 

O laudo da perícia confirmou que a morte do menino foi provocada pela ingestão de um veneno de rato e a contaminação externa de todas as unidades de achocolatado encontradas na casa da família. Embora, Adônis tenha dito que “o veneno era para rato”, a polícia acredita que ele fez isso para se vingar de seu vizinho Deuel, que frequentemente furtava bebidas e alimentos de sua residência. Adônis foi autuado por homicídio qualificado com emprego de veneno, além de tentativa de homicídio já que Alan também quase morreu após ingerir a bebida. Deuel vai responder por furto qualificado e ambos estão presos no Centro de Ressocialização e Custódia de Cuiabá (CRC).

De acordo com o delegado da Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica) de Cuiabá (MT), Eduardo Botelho, na próxima semana será concluída a análise dos materiais – bandeja supostamente utilizada na manipulação do veneno, vestígio de achocolatado dentro da geladeira e outras embalagens lacradas de achocolatado – apreendidos na casa do Adônis e ainda serão ouvidas outras testemunhas, como Alan José, amigo da família que também foi envenenado, e pessoas do círculo familiar da Rhayron.

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