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Os benefícios do uso de células-tronco em tratamentos para animais

Ainda experimental em humanos, aplicação para bichos foi regulamentada no Brasil, reflexo de um mercado em plena expansão

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 dez 2019, 11h14 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00

Em virtude de imperativos científicos, os animais são comumente usados como cobaias de estudos para o desenvolvimento de remédios para humanos. De algum tempo para cá, ante novos humores da sociedade, de intenso cuidado com todos os seres vivos, os bichos começaram a receber especial atenção da medicina veterinária — eles mesmos são alvos finais das terapias, e não meros vetores de investigação e testes. Há pouco menos de um mês, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento regulamentou o uso de células-tronco em bichos — passo decisivo de um movimento que, alguns anos atrás, já ganhava força, em torno de uma dezena de empresas capacitadas a oferecer a técnica no Brasil. Os resultados são promissores: doenças de alta complexidade, que não respondiam a medicamentos tradicionais, podem ser tratadas.

A empresa paulista Regenera Stem Cells, de Campinas, foi a primeira a receber o aval do governo. As células-tronco são aplicadas em cães e gatos (além de equinos) que apresentam três tipos de doença: a cinomose, infecção viral que ataca os sistemas nervoso, respiratório e gastrointestinal; a osteoartrose, que atinge as articulações e leva à paraplegia; e a ceratoconjuntivite seca, quando os olhos não produzem lágrimas o suficiente, um atalho para a cegueira. O material utilizado é retirado de um banco de células-­tronco. Os tratamentos contemplam de uma a três aplicações, cada uma delas com 4 milhões a 20 milhões de células — ao preço de até 3 000 reais por injeção. Dependendo da doença e do animal, os efeitos começam a ser percebidos em horas ou, no máximo, em poucos meses. Outra referência na área, a Cellen, do Rio de Janeiro, usa células-tronco também nos cuidados de outros problemas, como fraturas, artrite, artrose, doenças hepáticas e insuficiência renal.

Os procedimentos trabalham com as chamadas células-tronco mesenquimais. Elas estão presentes sobretudo na parede do cordão umbilical, na medula óssea e no tecido adiposo tanto dos animais como dos humanos. Não se trata, portanto, das ruidosas células-­tronco embrionárias, extraídas de embriões, cujas pesquisas foram liberadas pelo STF, depois de muita discussão, apenas em 2008. As mesenquimais, de rápida proliferação, têm potencial para recuperar músculos, ossos e cartilagem. Com o passar dos anos, a produção dessas células diminui consideravelmente, o que prejudica o processo de regeneração natural. A biotecnologia potencializa esse sistema bioquímico natural. Amostras de sangue são extraídas da medula óssea do animal, modificadas em laboratório e depois reaplicadas.

O sucesso com animais, embora não possa ser imediatamente replicado em seres humanos, representa um farol. A manipulação de células-tronco é o sonho de consumo da medicina humana. Há hoje 950 protocolos de estudos registrados em todo o mundo, a caminho de conclusões. Mais de 10 000 pacientes foram tratados com as células mesenquimais em pesquisas realizadas em diversos centros de saúde. Metade deles respondeu muito bem ao recurso, o que já seria suficiente para sua liberação comercialmente. Mas há que ter cuidado. Buscam-se mais segurança e certezas, principalmente em relação à eficácia na reparação de tecidos em larga escala. Diz o geneticista Salmo Raskin, professor da Universidade Positivo e diretor do Genetika, laboratório de análises clínicas especializado em genética médica: “Tratando-se de humanos, toda cautela é pouca”. A esperança, contudo, não tem limites.

Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664

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