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Onda ambiental traz fralda de pano de volta

As maiores entusiastas da ideia são mães com mais de 30 anos, das classes A e B, com bom nível de educação e que moram em grandes centros urbanos

Por Branca Nunes
25 jul 2010, 11h22

Enquanto cada criança consome mais de 5.500 peças descartáveis durante a vida, 65 fraldas de pano suprem a necessidade de um bebê

Guarde esta cifra: 5.666.730.000. Segundo um levantamento da empresa de pesquisas Nielsen, esse foi o número total de fraldas descartáveis comercializadas em 2009 no Brasil. Depois de saírem dos supermercados e de uma breve escala nas casas dos consumidores, essas peças estacionam nos lixões das cidades. Embora o período de decomposição chegue a aproximadamente 500 anos, as fraldas ainda não são recicladas no país.

Números assim têm modificado o comportamento mundial, estimulando a volta a um passado sem plástico. A moda do momento são as fraldas de pano, que nossas mães e avós usavam. Um exemplo: na Grã-Bretanha, o consumo de fraldas de pano quadruplicou nos primeiros anos do século XXI, segundo uma pesquisa conduzida pela empresa de pesquisas Mintel, em 2008. As maiores entusiastas da ideia são mães com idade superior a 30 anos, das classes A e B, com bom nível de educação e que moram em grandes centros urbanos.

A carência de estatísticas não permite precisar a força dessa tendência no Brasil, mas é possível perceber que é crescente. Dona da confecção Bebês Ecológicos, Ana Paula Silva começou a fabricar fraldas não-descartáveis em 2008, quando nasceu a primeira filha, Violeta. Ao descobrir que as peças de pano nacionais eram notavelmente inferiores em qualidade às importadas, Ana decidiu abrir a própria empresa. Em dois anos, o negócio duplicou de volume. “Além de ecologicamente corretas, as fraldas de pano são bem mais confortáveis para os bebês e muito mais baratas”, garante Ana Paula, que está aperfeiçoando a experiência da primeira filha com o segundo rebento, Micah.

Outra suposta vantagem apontada por Ana Paula é o tempo que a criança leva para se livrar das fraldas. Violeta, por exemplo, começou a deixá-las aos oito meses – o tempo médio é dois anos. “O contato direto com a urina imposto pelas fraldas de pano faz com que a criança perceba que está molhada e se conscientize do próprio corpo”, teoriza Ana. O pediatra Denis Burns, diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria, discorda. Ele rejeita a ideia de treinar o bebê a controlar o esfíncter antes dos dois anos e meio, uma vez que isso pode causar infecções urinárias por refluxo e prisão de ventre. “O certo é ensinar qual é o local adequado para a criança fazer as necessidades fisiológicas e mostrar que aquilo é um prazer”, ensina.

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A preservação do meio ambiente é, portanto, o ponto-chave. Enquanto cada criança consome mais de 5.500 peças descartáveis durante a vida, segundo dados da Procter & Gamble, empresa que fabrica a marca Pampers, 65 fraldas de pano suprem a necessidade de um bebê. São 80 sacos grandes de lixo por criança que deixam de ser depositados nos aterros sanitários, informa uma pesquisa da britânica Knowaste, uma das poucas empresas do mundo especializadas na reciclagem de fraldas. A economia de dinheiro também é considerável. Enquanto são gastos mais de R$ 2.700 com fraldas descartáveis, o custo com as fraldas de pano gira em torno de R$ 1.600.

Embora o trabalho com lavagem, secagem e armazenamento seja praticamente o mesmo, as fraldas de pano modernas são mais práticas (com velcro e botões) e esteticamente mais agradáveis do que suas antepassadas – que nada mais eram do que um tecido de algodão dobrado. Hoje, dezenas de cores e modelos estão disponíveis no mercado e a parte externa é impermeável. Outras duas fabricantes nacionais são a Fralda Bonita e a Mamãe Natureza. “Não é preciso aderir 100% às fraldas de pano”, ressalta Ana Paula. “Você pode alternar o uso de acordo com as suas necessidades. O importante é diminuir a quantidade de lixo produzido”.

A sugestão de Ana Paula é endossada pela pediatra Eliane Cesário Maluf, responsável pela área de pediatria ambiental da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Ninguém precisa ser radical”, enfatiza. “Mas caso a mulher tenha condições, é importante diminuir o consumo de fraldas descartáveis”.

A revolução da fralda – Criadas na década de 1940, as fraldas descartáveis só começaram a ser produzidas em larga escala a partir de 1956, quando o engenheiro químico americano Vic Mills, funcionário da empresa Procter & Gamble, desenvolveu um produto absorvente que prevenia vazamentos, deixava o bebê limpo e seco e podia ser descartado depois do uso. A ideia surgiu durante uma viagem de Mills com a neta recém-nascida, durante a qual ele descobriu o profundo desprazer de lavar fraldas. O objetivo principal era justamente facilitar a vida das mulheres. “Os primeiros meses de vida de um bebê já são bastante estressantes para a mãe”, diz Eliane. “Se a fralda for uma preocupação a mais, isso pode contribuir para uma depressão pós-parto e para a diminuição da lactação. Nesse caso, o melhor é continuar com as descartáveis”.

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Apesar de alguns pais acreditarem que a fralda descartável contém componentes que podem causar alergias, Burns descarta tal risco. “A causa das dermatites e dos fungos é a falta de higienização”, afirma o pediatra. “O correto é trocar a fralda a cada evacuação, mas nem todos fazem isso”.

As fraldas de pano podem ser o carro-chefe desta pequena onda ambiental. Mas não é só. Antes mesmo das fraldas, Ana Paula aderiu aos absorventes ecológicos, que também confecciona, vende e, claro, usa. Junto com o marido, Cláudio Vinícius Spinola de Andrade, inaugurou em 2007 a Morada da Floresta, referência de residência ecológica em São Paulo. Um dos principais produtos comercializados pelo casal é a composteira doméstica, que possibilita a decomposição dos alimentos dentro de casa e a consequente fabricação de adubo orgânico.

“É uma mudança no estilo de vida imposto pelo ritmo do mundo moderno, onde tudo o que as pessoas buscam é praticidade e velocidade”, reconhece Andrade. “Você tem que fazer a opção”. O meio ambiente agradece.

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