OMS divulga primeiras diretrizes globais para manejo do diabetes na gravidez
Recomendações orientam desde alimentação e monitoramento da glicose até tratamento medicamentoso e rastreamento de complicações
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta sexta-feira, 14, suas primeiras diretrizes globais para o manejo do diabetes durante a gravidez — tanto nos casos de diabetes gestacional quanto entre gestantes que já tinham diabetes tipo 1 ou tipo 2 antes de engravidar. Somadas, essas condições afetam cerca de uma em cada seis gestações, o equivalente a 21 milhões de mulheres por ano.
Embora o diabetes gestacional seja o mais frequente, todas as formas aumentam o risco de complicações quando não são diagnosticadas ou controladas adequadamente. Entre elas estão pré-eclâmpsia, parto prematuro, natimorto e traumas no parto. Os efeitos podem se estender por toda a vida, já que mães e filhos têm maior probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 e outras doenças cardiometabólicas. Em países de baixa e média renda, onde exames, medicamentos e equipes especializadas são mais escassos, o impacto é ainda maior.
No total, são 27 recomendações, divididas em quatro eixos: práticas essenciais, monitoramento da glicose, tratamento medicamentoso e exames complementares. Veja os principais pontos:
Dieta e atividade física
A OMS reforça que mulheres com qualquer tipo de diabetes — tipo 1, tipo 2 ou diabetes gestacional — devem receber aconselhamento individualizado sobre alimentação, atividade física e ganho de peso adequado. A orientação se apoia em metas usadas para a população geral e inclui carboidratos vindos de alimentos naturais (como grãos integrais, legumes, frutas e leguminosas), limite de gorduras saturadas e consumo mínimo de 400 g de vegetais por dia.
Quando o assunto é atividade física, a recomendação segue a mesma diretriz usada para gestantes sem diabetes: pelo menos 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos de intensidade moderada, como caminhadas rápidas, dança, natação ou bicicleta ergométrica, combinados com fortalecimento muscular em dois ou mais dias da semana. A OMS destaca que mesmo pequenas sessões distribuídas ao longo do dia podem melhorar o controle da glicose e reduzir a necessidade de medicamentos, desde que sejam realizadas com segurança e acompanhamento profissional quando necessário.
Monitoramento da glicose: o que muda na prática
Um dos trechos mais detalhados das diretrizes aborda o monitoramento da glicose, que deve ser feita da seguinte forma:
- O autoexame da glicemia (SMBG) passa a ser recomendado para todas as mulheres com diabetes na gravidez, sempre que possível.
- Para gestantes com diabetes tipo 1, a OMS recomenda o uso de monitor contínuo de glicose (CGM). “Evidências revisadas mostraram melhora significativa no tempo dentro da meta glicêmica e redução de internações neonatais”, diz o documento.
- Já para mulheres com diabetes tipo 2 ou gestacional, o CGM não deve ser recomendado rotineiramente, por falta de evidência robusta de benefício e pelo alto custo — mas pode ser considerado caso a caso, especialmente se houver uso de insulina.
A OMS destaca ainda que não há evidência suficiente para definir uma frequência específica de testes. A quantidade ideal de monitoramentos deve ser ajustada à gravidade do diabetes, ao uso de medicamentos e à realidade do sistema de saúde.
Tratamento medicamentoso
As recomendações também detalham o tratamento medicamentoso para cada tipo de diabetes. Para gestantes com diabetes tipo 1, a OMS orienta manter o mesmo esquema de insulina utilizado antes da gravidez — tanto o tipo (ultrarrápida, rápida, basal ou em bomba) quanto a forma de aplicação — ajustando doses ao longo dos trimestres conforme a glicemia e as mudanças fisiológicas da gravidez. A ênfase é em evitar trocas desnecessárias e manter estabilidade, garantindo que a paciente já esteja familiarizada com o método utilizado.
No diabetes tipo 2, quando alimentação adequada e atividade física não conseguem dar conta da glicose, o tratamento deve começar com metformina ou insulina. A OMS reforça que a metformina é uma opção segura e eficaz para grande parte das gestantes, mas lembra que ela atravessa a placenta — motivo pelo qual a decisão deve considerar preferências da mulher, disponibilidade local e acompanhamento rigoroso. Se apenas um dos medicamentos não for suficiente para controlar a glicemia, a combinação de metformina com insulina é recomendada.
Para aquelas com diabetes gestacional, a lógica é semelhante: o tratamento medicamentoso só é iniciado quando as mudanças no estilo de vida não bastam. Nesses casos, a metformina aparece como uma alternativa eficaz e acessível, enquanto a insulina continua sendo a opção preferencial para quem não responde bem ao medicamento oral ou apresenta glicemias mais elevadas. A OMS ressalta que o objetivo é sempre usar a menor intervenção necessária para manter a glicose controlada, evitando tanto hiperglicemia prolongada quanto episódios de hipoglicemia.
O documento também esclarece o uso de outros agentes hipoglicemiantes durante a gestação. A OMS aponta que a maior parte desses medicamentos — como inibidores de GLP-1 e de SGLT2 — não é recomendada ou não possui dados suficientes de segurança para uso na gravidez. Ainda assim, reconhece que podem existir situações excepcionais em que a mulher não tolere metformina ou recuse o uso de insulina. Nessas circunstâncias específicas, outros fármacos podem ser considerados, incluindo as sulfonilureias, desde que a decisão seja tomada após discutir cuidadosamente seus potenciais benefícios e riscos.
Mais exames e acompanhamento especializado
Um ponto forte do documento é o reforço no rastreamento de complicações, tanto maternas quanto fetais. A OMS faz as seguintes indicações:
- Todas as gestantes com diabetes devem fazer um ultrassom antes de 24 semanas
- Para gestantes com diabetes tipo 1 ou tipo 2, considerar realizar esse ultrassom de rotina o mais cedo possível na gestação, com um ultrassom de acompanhamento para avaliar a anatomia e o crescimento fetal no segundo trimestre
- Após 24 semanas, a OMS orienta repetir ultrassons para acompanhar o crescimento, especialmente se houver necessidade de medicamentos para baixar a glicose
- Mulheres com diabetes pré-existente também devem realizar rastreamento de retinopatia e avaliação da função renal no início do pré-natal
- Aquelas com função renal alterada precisam manter pressão abaixo de 130/80 mmHg, com uso de anti-hipertensivos seguros na gestação.
Desigualdade de acesso
As diretrizes também chamam atenção para a desigualdade no acesso a medicamentos, aparelhos de monitoramento e equipes especializadas. Em muitos países de baixa renda, gestantes não conseguem pagar por glicosímetros, sensores ou fitas, e os próprios alimentos indicados para uma dieta adequada podem ser caros ou difíceis de encontrar.
Em outras regiões, gestantes precisam viajar longas distâncias para receber atendimento especializado, enquanto profissionais de saúde relatam falta de treinamento, sobrecarga de trabalho e escassez de nutricionistas e educadores em diabetes.
Diante desse cenário, o documento destaca que governos e sistemas de saúde precisam garantir acesso a tecnologias essenciais e ampliar equipes multidisciplinares, medidas consideradas de extrema importância para reduzir a mortalidade materna e neonatal.
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