O que levou a região das Américas a perder o certificado de eliminação do sarampo
Surtos ativos têm relação com casos importados e afetam grupos com baixa cobertura vacinal; no Brasil, imunizante é ofertado gratuitamente no SUS
Após ter banido o vírus do sarampo por duas vezes, a região das Américas voltou a registrar casos e perdeu o certificado de eliminação da doença, conforme anúncio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) desta segunda-feira, 10.
A transmissão endêmica do vírus no Canadá, onde o sarampo tem circulado ao menos no último ano, motivou a perda do status, de acordo com avaliação da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação para a Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita da Opas, que esteve reunida na Cidade do México para verificar a presença do vírus na região.
O balanço até o último dia 7 mostra que foram registrados 12.593 casos da doença em dez países das Américas, dos quais 95% estão concentrados no Canadá, México e Estados Unidos. O levantamento da Opas indica que houve um aumento de 30 vezes nos episódios em relação ao ano passado na região. Até o momento, houve o registro de 28 mortes, das quais 23 foram no México, três nos Estados Unidos e duas no Canadá.
Além do Canadá, que já soma mais de 5.000 notificações da doença desde outubro do ano passado, há surtos ativos na Bolívia, Brasil, Paraguai e Belize. Nesses países, os registros têm relação principalmente com casos importados e com 89% das transmissões entre pessoas não vacinadas ou com estado vacinal desconhecido, segundo a Opas. Em áreas com baixa cobertura vacinal, as crianças com menos de 1 ano e as populações entre 1 e 4 anos foram as mais atingidas.
“Essa perda representa um retrocesso, mas também é reversível. Enquanto o sarampo não for eliminado em todo o mundo, nossa região continuará a enfrentar o risco de reintrodução e disseminação do vírus entre populações não vacinadas ou com vacinação incompleta”, disse, em comunicado Jarbas Barbosa, diretor da Opas. “No entanto, como já demonstramos, com compromisso político, cooperação regional e vacinação contínua, a região pode interromper a transmissão e recuperar essa conquista coletiva”, completou.
Para Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a perda do status significa, para o Brasil, um abalo no esforço de eliminar a doença que já foi a maior causa de mortalidade infantil no país. “Com a vacinação, passou a ser uma doença que só era importada, mas que não se espalhava porque pelo menos 95% das pessoas em torno dessa pessoa estavam vacinadas. Agora, o risco de surtos é alto.”
Isabella destaca que o Brasil não está na pior situação e concorda com Barbosa de que é possível reverter aumentando a cobertura vacinal. “Deixo a dica para as famílias: não deixe seu filho sem a vacina tríplice viral. Todas as doenças preveníveis por vacina são condições que podem ter desfechos graves.”
Presidente da Câmara Técnica para a Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita do Ministério da Saúde, o pediatra e infectologista Renato Kfouri diz que ações de bloqueio estão sendo realizadas no Brasil para evitar a proliferação do vírus em bolsões que apresentam baixa cobertura.
“Devido às enormes fronteiras que o Brasil tem e os deslocamentos populacionais, é esperada a entrada de pessoas com o vírus entre nós. Os pilares para uma zona livre de sarampo são a vigilância de casos, detecção rápida de casos suspeitos, e a vacinação com as duas doses. Estamos com 95% na primeira dose, mas batendo 80% na segunda. O grande desafio é manter o Brasil livre do sarampo com todos os vizinhos com casos”, afirma.
Riscos do sarampo
Doença altamente contagiosa, o sarampo é causado por vírus e tem como principal manifestação o aparecimento de manchas vermelhas no corpo. Outros sintomas são febre alta, tosse seca, irritação nos olhos, mal-estar intenso e nariz entupido ou escorrendo. Pneumonia, encefalite (inflamação no cérebro) e a morte são os desfechos mais graves da infecção.
A circulação do vírus propicia o aparecimento de surtos entre pessoas não vacinadas e um indivíduo infectado é capaz de transmitir a doença para até 18 pessoas, de acordo com a Opas.
No Brasil, a vacina contra o sarampo é ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Para crianças, a primeira dose é recomendada aos 12 meses com reforço aos 15 meses.
Caso a vacinação não tenha sido realizada no período correto, a recomendação do Ministério da Saúde é que pessoas entre 5 e 29 anos recebam duas doses do imunizante com intervalo de 30 dias entre elas. Na faixa etária de 30 a 59 anos, a orientação é de receber uma dose em caso de desconhecimento sobre a situação vacinal.
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