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“O DSM-5 é o melhor que temos para diagnosticar os transtornos mentais”

Em entrevista ao site de VEJA, David Kupfer, chefe do grupo que revisou o novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, defende a edição mais recente da controversa "bíblia da psiquiatria"

Por Vivian Carrer Elias
12 Maio 2013, 16h54

Os especialistas convocados para participar do grupo que revisa cada edição do livro mais importante do mundo sobre diagnóstico de doenças psiquiátricas – o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM -carregam uma imensa responsabilidade. Ao decidirem por incluir novas doenças que não eram listadas anteriormente, ou então ao fazer alterações em condições extremamente comuns, como a depressão, eles assumem o risco do desconhecido. Isso porque é impossível prever se suas medidas serão positivas ou devastadoras, capazes de provocar falsas epidemias de distúrbios mentais e submeter pacientes saudáveis a tratamentos desnecessários com medicamentos cheios de efeitos colaterais.

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Essa responsabilidade é ainda maior sobre o presidente da comissão de especialistas. Para o bem ou para o mal, é o nome dele que será lembrado e é sobre ele que recaem todas as críticas. A nova e quinta revisão do DSM, que será publicada no próximo final de semana, durante o encontro anual da Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês), tem como chefe David Kupfer, psiquiatra da Universidade de Pittsburgh, Estados Unidos, e especialista em transtornos do humor e do sono.

Mesmo com o auxílio de 1.500 especialistas em psiquiatria e após uma década de discussões, as mudanças propostas pelo DSM de Kupfer desagradaram a muitos. Uma das decisões mais controversas tem relação com as regras para diagnóstico da depressão: antes, pessoas que estavam de luto não poderiam ser consideradas doentes, mesmo apresentando os sintomas. Na quinta versão do DSM, essa exclusão não é mais válida. “Remover a exclusão do luto ajuda a prevenir que a depressão deixe de ser diagnosticada em certos pacientes, e facilita que eles recebam tratamento adequado”, diz Kupfer, em entrevista ao site de VEJA.

Outra decisão que Kupfer frequentemente precisa defender é a de incluir o autismo e todas as doenças relacionadas à condição na mesma categoria, a do transtorno do espectro autista. Para muitos críticos, isso fará com que diminua o número de diagnósticos da doença – e que pessoas com o problema deixem de receber diagnostico e tratamento adequado. Para Kupfer, porém, é uma forma de facilitar o diagnóstico. “Essa mudança representa uma maneira mais nova, mais precisa e mais útil em termos científicos e de medicamentos, de diagnosticar pacientes com transtorno do espectro autista”, afirma.

Na opinião do senhor, quais são os principais avanços do DSM-5? Desde que o DSM-IV foi desenvolvido, tem surgido uma grande quantidade de pesquisas e conhecimentos sobre transtornos mentais. O DSM-5 representa a melhor possibilidade de aplicação clínica dessa ciência para os seus diagnósticos [dos transtornos mentais]. Muitas das mudanças do DSM-5 foram feitas para melhor caracterizar os sintomas e os comportamentos de grupos de pessoas que estão em busca de ajuda clínica, mas que não são bem definidos pelo DSM-IV. Em particular, as mudanças feitas os transtornos de uso de substâncias foram um grande avanço, e o aumento do foco e da atenção à idade, gênero e cultura em todo o manual terá um impacto positivo no atendimento ao paciente.

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Há muitas críticas em relação ao fato de o DSM-5 ter excluído a regra que elimina o luto dos sintomas da depressão. Por que a APA tomou essa decisão? Remover a exclusão do luto ajuda a prevenir que a depressão deixe de ser diagnosticada em certos pacientes, e facilita que eles recebam tratamento adequado. Embora o processo de luto seja natural e único para cada indivíduo, e apesar de compartilhar algumas características da depressão, como tristeza intensa e desinteresse em atividades habituais, luto e depressão também são bastante diferentes em aspectos importantes. Por isso, o DSM-5 vai substituir a regra por duas notas, uma que alerta os médicos para que tentem diferenciar um luto normal do diagnóstico de uma doença mental, e uma outra mensagem lembrando os psiquiatras que a depressão e o luto podem coexistir.

Por que a APA decidiu incorporar a síndrome de Asperger no transtorno do espectro autista? Qualquer pessoa que foi diagnosticada com transtorno autista, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação com base no DSM-IV continuará cumprindo os critérios para o transtorno do espectro autista. Essa mudança representa uma maneira mais nova, mais precisa e mais útil, em termos científicos e de medicamentos, de diagnosticar pacientes com transtorno do espectro autista.

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