Número de pacientes que têm crises não-epiléticas e epiléticas é maior do que o esperado
Pesquisa mostra que 15,7% dos pacientes apresentam os dois tipos de crises, enquanto dados anteriores consideravam apenas 10%
A ocorrência de convulsões é frequentemente relacionada à epilepsia. No entanto, existem crises não-epiléticas que têm características semelhantes àquelas provocadas pela epilepsia. Em alguns casos, os pacientes podem ter os dois tipos de crises, e nem sempre sabem como distingui-las. Uma pesquisa apresentada neste domingo, em um evento da Sociedade Americana de Epilepsia, mostrou que a quantidade de pacientes que apresentam crises de ambos os tipos é maior do que a registrada por estudos anteriores.
Opinião do especialista
Luciano De Paola
Neurologista e presidente da Liga Brasileira de Epilepsia
“Possivelmente 20 a 25% dos pacientes com epilepsia apresentam também crises não-epiléticas psicogênicas (são os chamados casos mistos, mais complexos). Os dados apresentados na pesquisa não são necessariamente novos e são até certo ponto conhecidos na prática por quem atende a população. O valor da pesquisa é na validação dos números e no fornecimento de evidência científica para um dado que é notório”
“É um assunto importante, existem várias publicações a respeito. Uma delas mostra que o atraso no diagnóstico correto (isto é, pacientes diagnosticados com epilepsia e na verdade portadores de crises psicogênicas) pode demorar entre 7 a 10 anos, o suficiente para que os pacientes sofram com o estigma associado à epilepsia e gastem recursos e tempo inutilmente, no tratamento de uma doença mal diagnosticada. Além disso, existe um risco relacionado ao uso de medicamentos antiepiléticos em pacientes que, muitas vezes, nunca tiveram epilepsia”.
Enquanto costumava-se pensar que cerca de 10% das pessoas com crises não-epiléticas também apresentavam crises epiléticas, a pesquisa realizada com pacientes do Centro Médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, encontrou 15,7% dos pacientes nessas condições.
Participaram do estudo 256 pacientes. Setenta deles apresentavam crises não-epiléticas e, dentre eles, 11 também tiveram crises epiléticas durante a internação no hospital – o que corresponde a 15,7%. A importância de identificar os tipos de convulsões está relacionado com o tratamento – as convulsões epilépticas e não-epilépticas são tratadas com diferentes tipos de medicamentos.
Diagnóstico – As crises epiléticas são causadas pela hiperexcitação dos neurônios, descargas elétricas anormais entre eles. Já as chamadas crises psicogênicas não-epiléticas não causam modificações nos sinais cerebrais do paciente e se originam de fatores emocionais. De acordo com Luciano De Paola, neurologista e presidente da Liga Brasileira de Epilepsia, as crises não-epiléticas podem estar relacionadas a diversos diagnósticos psiquiátricos, como depressão, transtornos de ansiedade e de stress pós-traumático.
A diferenciação dos tipos de crise é feita com base na história clínica do paciente e nas características da crise. “Um profissional treinado que observe os eventos pode em um bom número de casos separar uma da outra. Mas há casos mais difíceis em que é necessária a utilização do vídeo- eletroencefalograma”, diz De Paola. Esse exame registra a atividade cerebral dos pacientes, permitindo o diagnóstico correto quanto ao tipo de crise apresentada.