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Natalia Timerman: “Amar é estar vulnerável”

A psiquiatra paulistana usou experiência no consultório (e na vida) para escrever romance sobre o ghosting — sumiço repentino de parceiro em relacionamento

Por Amanda Capuano 18 jun 2021, 06h00
PERDIDO - A especialista: “Na internet, o outro vira um objeto a ser consumido” -
PERDIDO - A especialista: “Na internet, o outro vira um objeto a ser consumido” – (Renato Parada/Divulgação)

No livro Copo Vazio (Todavia), o enredo gira em torno de Mirela, mulher abandonada pelo namorado sem explicação. Qual a inspiração da trama? Percebi que era um tema recorrente na minha clínica, e também vivi isso em um episódio autobiográfico. Notei que era muito comum, e que a dor gerada pelo abandono repentino parece desproporcional. Toda ruptura dói, mas, quando acontece sem explicação, o outro fica sem compreender o que aconteceu, e a dor é absurda.

Hoje, esse fenômeno é chamado de ghosting (em tradução livre, um sumiço fantasmagórico). Não é a mesma coisa que o velho “dar um perdido”? Sim, ghosting é uma nomeação contemporânea para um fenômeno antigo. Em Razão e Sensibilidade, livro da Jane Austen escrito há mais de 200 anos, tem uma personagem que quase morre depois de levar um ghosting. São termos que tentam explicar algo que escapa à nossa compreensão.

Os aplicativos de paquera tornaram o ghosting mais frequente? Quando você conhece alguém pela internet, tem acesso ao perfil da pessoa, mas não a ela. O outro fica dissociado de coisas que o humanizam, como amigos e suas origens, então ele pode sumir sem correr o risco de encontrar o paquera em uma festa de amigos em comum. Isso gera uma necessidade menor de manter uma fachada, de não ser sacana. Existe ainda a sensação de descartabilidade que a internet promove. O outro vira um objeto a ser consumido.

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Como psiquiatra e psicoterapeuta você diz que o ghosting virou uma queixa comum nos consultórios. Como isso afeta as pessoas? Muitos pacientes vêm me procurar por causa disso. Eles se sentem destruídos, como se sofressem um trauma. Há uma vergonha em sentir isso, uma vez que a pessoa não entende por que está sofrendo por algo aparentemente banal. Geralmente, acontece com mais intensidade com quem já tem uma personalidade mais apegada aos outros. Também tenho pacientes que somem e isso costuma estar ligado a uma dificuldade de se envolver e verbalizar sentimentos. A frieza deixa o outro vulnerável. Mas amar é estar vulnerável, e quem some também perde muito.

Como foi a experiência autobiográfica que inspirou o livro, afinal? Acho que nunca dei ghosting — costumo ser bem cuidadosa. Mas já levei um há muitos anos e foi uma experiência bem ruim. Tudo o que a gente escreve tem um pouco da gente.

Publicado em VEJA de 23 de junho de 2021, edição nº 2743

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