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Meu corpo é um laboratório

Para provar pesquisas divulgadas pela ciência, um grupo de pesquisadores amadores usa o próprio corpo para fazer testes e experimentos

Por Aretha Yarak*
3 jun 2012, 12h51

Eles levam ao extremo a curiosidade científica. Para provar pesquisas, teorias e crenças, pesquisadores amadores fazem do próprio corpo um laboratório – e, às vezes, sofrem os revezes de um teste mal sucedido. Na maior parte dos casos, essas cobaias humanas tentam verificar resultados já observados em pesquisas científicas (se um estudo diz que comer alimentos crus é saudável, por que não testar?), utilizar recursos tecnológicos para alcançar resultados práticos (é possível emagrecer com auxílio de aplicativos para telefones e videogames?), ou mesmo pular etapas e experimentar em si mesmos substâncias que ainda não passaram pelo crivo da ciência.

Um dos maiores expoentes dessa turma é o escritor americano A. J. Jacobs. Em seu recém-lançado livro Drop Dead Healthy (Caia morto com saúde, Ed. Simon & Schuster, sem edição em português), Jacobs testa dezenas de teorias científicas que dizem garantir uma vida mais saudável. O autor tentou de tudo: juntou-se a um grupo que praticava exercícios como homens da caverna, usou fones de ouvido para abafar ruídos do ambiente (uma forma de evitar os efeitos deletérios da poluição sonora), perambulou usando capacete (para evitar traumas na cabeça), fez dieta à base de alimentos crus e começou a trabalhar em um computador adaptado à uma esteira em movimento para evitar o sedentarismo. “O treino do homem das cavernas não era fácil. Tive de ir ao parque descalço e com o peito nu, atirar pedras e subir em árvores”, disse em entrevista ao site de VEJA.

A imersão nesse palheiro de pesquisas científicas não é novidade para o autor. Para o livro Um Ano Bíblico (Editora Agir, 400 págs., R$ 49,90), best-seller que o alçou à fama, em 2007, Jacobs passou um ano cumprindo nada mais do que todos os mandamentos da Bíblia. A lista de obrigações incluia desde viver de acordo com os Dez Mandamentos até cumprir questões mais complicadas nos dias atuais, como não vestir roupas de fibras mistas e apedrejar adúlteros. Jacobs acabou por apedrejar um senhor de 70 anos que assumiu o adultério, atirou-lhe pedregulhos. O velhinho encarou o gesto com bom humor e ambos saíram ilesos do episódio.

Experimento geek – Jacobs, porém, não está sozinho. Craig Engler, um geek que é executivo do SyFy, canal a cabo americano voltado para séries e filmes de ficção científica, perdeu 30 quilos usando aparatos tecnológicos, como aplicativos, sites e videogames. Todos os detalhes da experiência foram parar no blog Weighthacker.com, que rapidamente transformou-se em um sucesso na internet – em apenas um dia recebeu mais de 40.000 pageviews. O página é uma espécie de diário em que Engler registra todas as descobertas feitas durante o processo de emagrecimento. “Entendi, por exemplo, que quando como ovos no café-da-manhã me sinto satisfeito por muito mais tempo e acabo comendo menos no resto do dia”, contou ao site de VEJA.

Agora, Engler está reunindo suas experiências no livro Weight Hacking: A Guide For Geeks Who Want To Lose Weight And Get Fit (Hackeando o peso: um guia para geeks que desejam perder peso e ficar em forma, em tradução literal), que será financiado pelo modelo crowdfunding e deve ser publicado em setembro deste ano. “Tenho trabalhado junto a diversos profissionais para me assegurar de que tudo o que está no livro esteja correto”, diz.

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No mesmo grupo de cobaias está o empresário Tim Ferriss, que testa em seu próprio corpo substâncias ainda em fase inicial de testes clínicos. Como não tem receio dos efeitos, Ferriss às vezes se vê em maus bocados. Em um dos seus experimentos, ele injetou no corpo um coquetel que continha o próprio sangue, um tipo de hormônio ligado ao crescimento e células-tronco. O resultado: uma grave infecção no cotovelo que o obrigou a passar por uma cirurgia de emergência. As experiências de Ferriss lhe renderam dois livros: o best-seller The 4-Hour Workweek e The 4-Hour Body.

Cobais versus academia – Embora suas experiências sejam vistas com desprezo pela academia, Ferriss defende seus métodos. Segundo ele, testes realizados por apenas uma pessoa têm várias vantagens sobre as pesquisas científicas tradicionais, como custo e tempo. “Se eu quiser descobrir como dormir melhor, posso testar em mim mesmo por semanas, e de graça. Experimentos convencionais levam um ano ou mais e custam milhares de dólares”, escreveu em seu livro The 4-Hour Body.

Esse raciocínio, na verdade, tem uma falha lógica. Resultados obtidos com um único indivíduo não podem ser nunca universalizados. Só testes realizados com grupos grandes e diversificados garantem, estatisticamente, a eficácia de um novo tratamento. Assim, não é tanto por suas conclusões que um explorador como Ferriss merece atenção, mas pela qualidade que exibe: uma incansável curiosidade intelectual.

* Com reportagem de Vivian Carrer Elias

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