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Medicamento para disfunção erétil pode tratar sintomas da distrofia muscular

Pesquisa foi realizada em pacientes com Distrofia Muscular de Becker, variação mais branda e que atinge uma a cada 30.000 pessoas

Por Da Redação
3 dez 2012, 14h18

Um estudo desenvolvido nos Estados Unidos mostra uma nova possibilidade de medicamento para atenuar os sintomas da distrofia muscular. A inovação da pesquisa, porém, não está nesse remédio, mas em sua aplicação. O medicamento utilizado é o Cialis, composto por uma substância denominada taladafila, amplamente indicado para homens no tratamento de disfunção erétil. A pesquisa foi publicada na última edição do periódico Science Translational Medicine.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Tadalafil Alleviates Muscle Ischemia in Patients with Becker Muscular Dystrophy

Onde foi divulgada: periódico Science Translational Medicine

Quem fez: Elizabeth A. Martin, Rita Barresi, Barry J. Byrne, Evgeny I. Tsimerinov, Bryan L. Scott1, Ashley E. Walker, Swaminatha V. Gurudevan, Francine Anene, Robert M. Elashoff, Gail D. Thomas and Ronald G. Victor

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Dados de amostragem: 10 pacientes com Distrofia Muscular de Becker e 7 no grupo de controle

Resultado: A ingestão de Cialis normalizou o fluxo sanguíneo de 8 dos 10 pacientes com distrofia analisados durante a realização de exercício físico.

Caso esse uso venha a ser comprovado, não será a primeira vez que esse tipo de medicamento serve a um fim diferente daquele para o qual foi planejado. O Viagra, mais famoso remédio para disfunção erétil, foi desenvolvido em 1989, para o tratamento de angina, dor no peito causado pela baixa oxigenação do coração, em decorrência do estreitamento das artérias que conduzem o sangue ao órgão.

Ação do medicamento – A razão pela qual essas diferentes aplicações são possíveis é que, na base de todas essas doenças, está a regulação do fluxo sanguíneo.

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Medicamentos como o Cialis inibem a produção de uma enzima que quebra as moléculas de monofosfato cíclico de guanosina (GMPc). Essa substância, em contato com o óxido nítrico, promove um relaxamento dos músculos dos vasos sanguíneos, permitindo o aumento no fluxo sanguíneo na região.

Em pacientes com distrofia muscular, ocorre a falta da enzima que produz o óxido nítrico. O uso do Cialis, ao aumentar a produção de GMPc, corrige essa deficiência, pois a presença de uma substância compensa a falta da outra, mantendo o fluxo sanguíneo normal.

Estudo – Os pesquisadores se basearam em um estudo publicado em 2007, que mostrou que o uso de Cialis melhorava a função muscular em camundongos mdx, que possuem uma doença muscular hereditária semelhante à distrofia muscular humana.

Saiba mais

DISTROFIA MUSCULAR

A distrofia muscular é uma doença de origem genética, causada por mutações no gene que produz uma proteína chamada distrofina, que recobre a membrana das células musculares. A ausência total dessa proteína causa da Distrofia Muscular de Duchenne, variação mais grave, que pode levar à perda da movimentação nas pernas em alguns anos. Quando a proteína é produzida em quantidade reduzida, ocorre a Distrofia Muscular de Becker, mais branda, cujos pacientes conseguem, por exemplo, andar até por volta dos 60 anos. A doença afeta cerca de uma em 30.000 pessoas e se manifesta apenas em homens – as mulheres são portadoras assintomáticas do gene causador.

No estudo publicado no Science Translational Medicine, os pesquisadores mediram o fluxo sanguíneo do antebraço de dez pacientes com Distrofia Muscular de Becker e 7 pessoas saudáveis, encontrando o mesmo resultado para todos. Depois, os participantes fizeram exercícios com um handgrip (aparelho que mede a força da mão para apertar ou segurar algo) enquanto suas pernas ficavam uma câmara de pressão negativa, utilizada por cardiologistas para avaliar a capacidade do coração do paciente em responder ao estresse cardiovascular.

Em condições normais, o organismo compensa o aumento de volume dos vasos das pernas por meio do estreitamento em outras regiões, mas sempre deixando espaço suficiente para que o sangue flua e todo o corpo receba oxigenação. Porém, nos pacientes com Distrofia Muscular, ocorreu um estreitamento tão intenso nos vasos do antebraço que estava sendo exercitado que o fluxo sanguíneo chegou a ser interrompido.

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Na segunda parte do experimento, cada participante ingeriu um comprimido, que podia ser Cialis ou placebo e realizou o teste. Após duas semanas, cada um tomou o outro comprimido e repediu a medição. Esse procedimento é feito para evitar que os aspectos psicológicos do paciente possam interferir no resultado.

Resultados – O remédio apresentou efeito em 8 dos dos dez pacientes estudados, ou seja, o fluxo sanguíneo foi normalizado, reduzindo os danos musculares no paciente. A hipótese dos pesquisadores é que os dois participantes que não apresentaram efeito teriam uma mutação da doença, tornando-a muito branda para apresentar resultados.

Por se tratar de um estudo realizado com medicamentos de fácil acesso pela população, Mayana Zatz, presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM), e os autores do estudo alertam sobre a necessidade de se enfatizar que se trata de uma pesquisa, e ainda não há indicação clínica para o uso em pacientes.

Opinião da especialista

Mayana Zatz
Mayana Zatz (VEJA)

Mayana Zatz

geneticista e presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM).

“Diversos estudos realizados com drogas como o Viagra vêm sendo realizados nos últimos anos. O que está ocorrendo hoje é, enquanto se procura uma cura para a doença, estão sendo testadas varias drogas que podem melhorar o quadro clinico e tratar os diferentes efeitos da distrofia. Isso é muito válido, porque melhora qualidade de vida e expectativa de vida do paciente enquanto a cura não é encontrada.”

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“É preciso estar atento aos efeitos colaterais que esse tipo de medicamento pode causar, relacionados aos efeitos primários de tratamento da disfunção erétil.”

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