Masturbação pode aliviar sintomas da menopausa, indica novo estudo
Pesquisa do Instituto Kinsey mostra que o autoerotismo aparece como uma estratégia eficaz para reduzir secura vaginal, melhorar o humor e ajudar no sono
Falar de menopausa costuma seguir um roteiro conhecido: ondas de calor, mudanças no humor, terapia hormonal, ajustes na rotina de sono, rotina de exercícios, e por aí vai. O que quase nunca aparece nessas conversas — nem no consultório médico — é a possibilidade de que o próprio prazer talvez seja um caminho para aliviar parte do pacote de sintomas. É o que sugere um novo estudo do Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana. Os achados, publicados na revista Menopause, indicam que a masturbação pode ser uma boa ferramenta para lidar com as mudanças hormonais dessa fase.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores ouviram 1.178 mulheres americanas entre 40 e 65 anos, em diferentes fases da transição menopausal. As participantes responderam a um questionário sobre sintomas, estratégias de alívio que já utilizavam e o quanto cada uma delas funcionava, variando de exercício físico a suplementação, passando por alterações no sono, dieta e práticas de prazer sexual.
A maior parte citou caminhos já bastante conhecidos. Exercícios físicos apareceram como a estratégia mais comum, mencionados por um quarto das participantes. Técnicas de relaxamento vieram logo atrás, seguidas por ajustes alimentares e suplementos. Terapia hormonal, embora considerada padrão ouro, foi relatada por uma parcela pequena: 4%. Além disso, cerca de um terço das mulheres disse não adotar estratégia nenhuma para aliviar sintomas como ondas de calores, insônia, secura vaginal ou dor.
Dentro desse mosaico, a masturbação apareceu menos na frequência… mas mais na eficácia. Entre as mulheres na perimenopausa — aquele período em que o corpo começa a anunciar o fim da fase reprodutiva — 13,5% disseram recorrer ao autoerotismo regularmente porque sentiam melhora. E quando as participantes avaliaram o que realmente funciona, a prática se destacou. Em uma escala de 1 a 5, recebeu média de 4,35, à frente de mudanças de estilo de vida como exercícios (que ficaram entre 3,89 e 4,06) e até um pouco acima da própria terapia hormonal, que marcou 4,2.
Os efeitos relatados são variados. Quase metade das mulheres disse que a masturbação ajudou a aliviar ao menos um sintoma. Dessas, 43% citaram melhora no humor. Outras relataram sono mais tranquilo, aumento do desejo sexual, menos dor e redução da secura vaginal. Também há descrições bem concretas nas respostas abertas. “Masturbação me relaxa de um jeito que consigo finalmente pegar no sono, e até a dor de cabeça passa”, escreveu uma participante. Outra contou que vive “mais acelerada à noite” e que, com o orgasmo, “o corpo desliga mais fácil”. Algumas mencionaram mudanças físicas diretas. “Combate a secura vaginal e a sensação de atrofia. Sinto a região mais viva”, disse uma delas.
Dos ganhos físicos ao autoconhecimento
Embora o estudo traga números inéditos, muito do que ele aponta já é observado na prática clínica. A ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini explica que há uma lógica fisiológica por trás desses relatos: durante a excitação, a vulva e a vagina recebem maior irrigação sanguínea — um aumento de fluxo que hidrata e nutre a mucosa, ajudando a aliviar a secura e a atrofia vaginal. “Mulheres sexualmente ativas tendem a ter menos queixas de secura justamente por causa dessa irrigação regular.”
A médica também destaca a liberação de endorfinas, responsável pela sensação de relaxamento e bem-estar relatada por muitas mulheres. “Qualquer exercício da sexualidade promove relaxamento e bem-estar. E, numa fase marcada por irritabilidade, alterações de humor e dificuldades de sono, esse ganho emocional conta muito.”
Além dos efeitos físicos, Carolina lembra que a masturbação é uma ferramenta importante de autoconhecimento. A lógica é simples: quem se conhece melhor comunica melhor. E isso vale tanto para mulheres que estão em relações estáveis quanto para quem está redescobrindo o próprio desejo nessa fase da vida. “É muito comum a mulher chegar à menopausa repensando o relacionamento, revisitando fantasias, querendo experimentar vibradores ou simplesmente entendendo melhor o que gosta”, afirma. “A masturbação facilita esse processo porque devolve a referência do prazer para o corpo dela, não para a resposta do parceiro.”
Ainda assim, o tema praticamente não aparece na rotina dos consultórios. Só 7% das mulheres na perimenopausa e 4% das pós-menopausais disseram ter recebido orientação médica sobre o assunto. Parte disso, segundo Carolina, vem da formação. “A maioria dos médicos não tem treinamento para abordar sexualidade. É um assunto que dá medo, que parece invasivo. Então se evita.” O resultado é um vácuo que o estudo evidencia: há interesse, há benefício percebido e há espaço para recomendação, falta apenas alguém puxar o fio.
Essa abertura, porém, também parece ter um componente geracional. As mulheres mais jovens do grupo se mostraram mais dispostas a incorporar o autoerotismo, tanto na rotina quanto como estratégia de alívio. Já entre as participantes na pós-menopausa, a prática aparece com bem menos naturalidade — inclusive, uma em cada cinco afirmou nunca ter se masturbado.
Os autores do estudo do Kinsey defendem que o tabu é justamente o que mantém o tema à margem do cuidado com a menopausa. “Nossos resultados sugerem que a masturbação pode desempenhar um papel significativo no controle dos sintomas”, afirma Cynthia Graham, cientista sênior do instituto. “O problema é que as conversas sobre menopausa geralmente se concentram na terapia hormonal ou em mudanças no estilo de vida — importantes, claro — mas o autoerotismo continua ficando de escanteio, mesmo podendo ser um ótimo adjuvante.”
Carolina concorda com a potência desse recurso, mas ressalta que ele não substitui o cuidado integral. “Menopausa é uma fase cheia de camadas… Tem sintoma físico, tem vida emocional, tem relação amorosa que muda ou até se reinventa. Tudo que promove bem-estar ajuda: atividade física, amigos, prazer… A masturbação entra aí. Não resolve tudo, mas tem valor e merece ser falada com naturalidade.”
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