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Exposição a inseticida na gravidez aumenta risco de autismo em bebês

O DDT foi banido na década de 1970, mas resíduos desta substância podem ter permanecido no solo e na água que consumimos

Por Da Redação
Atualizado em 16 ago 2018, 19h16 - Publicado em 16 ago 2018, 16h53

O DDT – conhecido como o primeiro pesticida da era moderna – pode ser capaz de atravessar a placenta e aumentar os riscos de um bebê desenvolver Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), sugere estudo publicado no American Journal of Psychiatry. A substância, usada durante a Segunda Guerra Mundial para controlar o tifo e a malária na Europa e no Pacífico Sul, já é conhecida por causar tremores, convulsões, náusea e câncer, especialmente em casos de exposição a altas concentrações. Agora, a nova pesquisa estabelece uma ligação concreta entre o DDT e o autismo.

Segundo os pesquisadores, quanto mais alto for o nível de pesticida no sangue das grávidas, maior é a probabilidade de seu filho apresentar o transtorno, que atinge cerca de 150.000 pessoas por ano no Brasil. A equipe explicou ainda que esse aumento é uma combinação da exposição pré-natal à toxina do DDT e fatores genéticos e ambientais.

A pesquisa

Estudos realizados anteriormente ligaram o DDT e os bifenilos policlorados (PCBs) ao câncer e sugeriram que esses produtos químicos podem afetar o desenvolvimento do cérebro e a cognição no início da infância. Entretanto, a maioria dessas pesquisas levou em conta apenas a exposição com base na proximidade dos participantes a um local contaminado; não mediu diretamente os níveis das substâncias no sangue das mulheres grávidas no período de gestação.

Adotando esta nova estratégia de investigação, a equipe da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, recorreu a um banco de dados biológicos na Finlândia, que coletou e armazenou, desde 1983, amostras de soro do sangue de mulheres grávidas. As amostras pertenciam a  mais de um milhão de mulheres que deram à luz entre 1987 e 2005. Os registros de saúde das crianças que nasceram com autismo também foram utilizados. Outros dados coletados pertenciam a 778 mulheres cujos filhos não haviam sido diagnosticados com o transtorno de forma a considerar uma combinação cuidadosa de local e data de nascimento, sexo e residência para fins de comparação.

Perigo do inseticida

A equipe se baseou no subproduto de DDT e PCBs – produzidos depois que o corpo processa esses químicos – para chegar aos resultados. No caso do subproduto do PCBs não foram encontrados evidências de correlação com o autismo. No entanto, os pesquisadores descobriram que as mães com altas concentrações de diclorodifenildicloroetileno (DDE) – subproduto do DDT – no sangue tinham 32% mais risco de ter um filho que poderia desenvolver autismo. Eles revelaram ainda que a probabilidade de uma criança autista apresentar deficiência intelectual também foi maior (duas vezes mais) em mães com níveis elevados de DDT.

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O estudo chegou a esta conclusão depois de encontrar aproximadamente 1.300 crianças diagnosticadas com autismo dentre os filhos cujas mães participaram do estudo; 778 pares de mães e filhos foram comparados à mesma quantidade de crianças (e mães) sem o diagnóstico. “Nas mulheres grávidas, as substâncias químicas são repassadas para o feto em desenvolvimento. Juntamente com fatores genéticos e ambientais, nossas descobertas sugerem que a exposição pré-natal à toxina do DDT pode ser um gatilho para o autismo”, explicou Alan S. Brown, principal autor do estudo, ao Daily Mail Online.

Embora a análise tenha se mostrado significativa, Brown alerta que a associação não é uma confirmação de causa.

DDT

Segundo o Medical News Today, o DDT foi sintetizado pela primeira vez em 1874 para combater uma ampla gama de vetores de doenças, tendo sido utilizado durante a Segunda Guerra Mundial para controlar o tifo e a malária na Europa e no Pacífico Sul. Por ser um inseticida muito eficaz, o DDT quase conseguiu erradicar o tifo em algumas partes da Europa. Nos Estados Unidos, ele era amplamente utilizado em residências particulares e empresas agrícolas. Apesar da eficácia, na década de 1970, essa substância foi banida em muitos países devido a preocupações de segurança.

No entanto, o DDT ainda é usado na África para controlar as populações de mosquitos. Como o químico permanece no solo e na água por décadas, ele pode se acumular em plantas e na carne de animais consumidos pelas pessoas. Por isso, foi possível encontrar concentrações altas de DDT no sangue de algumas mães que participaram da pesquisa. “O estudo é realmente incrível. Isso apenas confirma que a proibição de utilizar esse produto foi uma boa ideia”, disse Tracey Woodruff, pesquisadora da Universidade da Califórnia (UCLA), ao Scientific American.

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Brown explica que os químicos não podem ser removidos do meio ambiente, portanto, a melhor forma de limitar a exposição é optando por uma alimentação com mais frutas e verduras orgânicas e evitar residir perto de locais com concentrações de resíduos tóxicos.

Autismo

Os pesquisadores disseram que ainda não está claro como o DDT está associado ao risco de autismo, mas uma das hipóteses está relacionada ao fato de que a presença do DDT pode provocar parto prematuro e baixo peso ao nascer, fatores de risco para o transtorno.

A outra explicação é referente ao DDT se ligar a proteínas do corpo conhecidas como receptores androgênicos, que permitem às células responderem à testosterona e a outros hormônios. Estudos anteriores realizados em camundongos mostraram que algumas substâncias químicas que se ligam a receptores androgênicos podem atrapalhar o desenvolvimento do cérebro do feto, particularmente em meninos, gênero cinco vezes mais propenso ao diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

O autismo é um transtorno de desenvolvimento grave que prejudica a capacidade de se comunicar. Ele também é caracterizado por padrões de comportamentos repetitivos e dificuldade na interação social. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas convivem com o autismo ao redor do mundo; 2 milhões somente no Brasil.

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