EUA publicam sua primeira diretriz para tratamento do diabetes infantil
Recomendações da Academia Americana de Pediatria orientam sobre o tratamento do diabetes tipo 2 em adolescentes
A primeira diretriz americana com orientações para o tratamento do diabetes em crianças e adolescentes entre 10 e 18 anos foi publicada nesta segunda-feira pela Academia Americana de Pediatria, em seu periódico Pediatrics. Em suas orientações inéditas, o órgão americano enfoca principalmente o tratamento do diabetes tipo 2 – variação da doença mais comum em adultos, mas que é cada vez mais diagnosticada em crianças em função da epidemia de obesidade.
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DIABETES TIPO 1
Neste tipo da doença, a produção de insulina no pâncreas é insuficiente . Os pacientes precisam de doses extras diárias (injeções) de insulina para conseguir manter a glicose em níveis normais. A doença é mais comum em crianças, adolescentes e jovens adultos. A doença tem etiologia multifatorial: ela pode ser desencadeada por infecções virais, por exemplo.
DIABETES TIPO 2
No tipo 2 da doença, a insulina continua a ser produzida normalmente, mas o organismo desenvolve resistência ao hormônio. Essa resistência é causada por uma mistura de fatores genéticos e pelo estilo de vida: 80% a 90% das pessoas que têm o tipo 2 da diabetes são obesas. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, o aumento desse tipo da doença em crianças pode se tornar um sério problema de saúde pública.
Formulada em uma parceria com a Academia Americana de Diabetes, a Sociedade de Endocrinologia Pediátrica, a Academia Americana de Médicos de Família e a Academia de Nutrição e Dieta, a diretriz recomenda que, em primeira instância, o médico tente discriminar qual o tipo de diabetes a criança tem. A preocupação, aparentemente óbvia, fundamenta-se no fato de que a variação do diabetes que é mais frequente em crianças é o tipo 1. Nesse caso, a criança precisa de aplicações rotineiras de insulina, já que seu pâncreas não consegue produzir o hormônio o suficiente. Sua causa não tem uma relação tão próxima ao estilo de vida da pessoa – como obesidade e sedentarismo.
Os casos do diabetes tipo 2 em crianças, no entanto, vêm crescendo em taxas altas nos últimos anos. Assim, os médicos precisam estar atentos para a possibilidade de que a criança tenha desenvolvido essa variante da doença. De acordo com as novas orientações, para esse paciente, o tratamento deve ser feito com mudanças no estilo de vida: inclusão de atividades físicas (no mínimo 60 minutos por dia) na rotina e reeducação alimentar. Há ainda orientações para o uso do tratamento medicamentoso com metformina, remédio que reduz a produção de glicose pelo fígado.
O uso de aparelhos para monitoramento da glicose é sugerido para crianças que estejam em risco de hipoglicemia, mudando o tipo de tratamento, não estejam respondendo à terapia ou tenha doenças intercorrentes. A diretriz recomenda ainda o tempo que a criança passe em frente à TV seja de, no máximo, duas horas por dia.
Opinião do especialista
Patrícia Dualibi
Endocrinologista do Centro do Diabetes da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
“A nova diretriz da Academia Americana de Pediatria é importante porque orienta os médicos a prestarem mais atenção ao diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes. No Brasil, a grande maioria dos casos nesses jovens ainda é de diabetes tipo 1. Esse cenário, no entanto, já é diferente nos Estados Unidos, país que vê o número do diabetes tipo 2 em crianças crescer junto com a epidemia de obesidade. A recomendação da AAP aponta quais as situações em que o tipo 2 devem ser considerados, como histórico familiar ou manchas no pescoço e nas axilas. Mas a relevância real da diretriz é o alerta para os médicos de que o diabetes tipo 2 também está afetando nossas crianças e jovens. E precisa ser considerado em todos os atendimentos à doença.”