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Estudo testa marca-passo cerebral para tratar anorexia

Abordagem ajudou pacientes que sofriam de anorexia grave e duradoura e que não responderam aos tratamentos convencionais

Por Vivian Carrer Elias
8 mar 2013, 10h28

Um time de pesquisadores do Canadá utilizou uma nova abordagem para tratar pacientes com anorexia grave que não haviam respondido aos tratamentos convencionais. Por meio de uma cirurgia pouco invasiva, esses especialistas implantaram, no cérebro de seis voluntárias, um dispositivo semelhante a um marca-passo que, uma vez ativado, estimula regiões do órgão associadas à ansiedade, depressão e imagem do próprio corpo. Os resultados, que foram publicados nesta quinta-feira na revista The Lancet, mostraram que, com exceção de um participante, todos os outros voltaram a ganhar peso ou então apresentaram uma melhora significativa.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Subcallosal cingulate deep brain stimulation for treatment-refractory anorexia nervosa: a phase 1 pilot trial

Onde foi divulgada: periódico The Lancet

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Quem fez: Nir Lipsman, Blake Woodside, Peter Giacobbe, Clement Hamani, Jacqueline Carter, Sarah Jane Norwood, Kalam Sutandar, Randy Staab, Gavin Elias, Christopher Lyman, Gwenn Smith e Andres Lozano

Instituição: Centro de Neurociências Krembil, da Universidade Health Network, em Toronto

Dados de amostragem: Seis pacientes com anorexia grave e duradoura

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Resultado: O implante de um ‘marca-passo cerebral’ em seis pacientes com anorexia grave e duradoura ajudou parte dessas pessoas a recuperar o peso, a melhorar o humor e a qualidade de vida.

Essa técnica, conhecida como estimulação cerebral profunda, consiste em implantar um dispositivo sob a pele capaz de emitir impulsos elétricos a eletrodos inseridos em determinada região do cérebro. A abordagem já é utilizada há mais de 25 anos para atenuar os sintomas da doença de Parkinson e, em estudos recentes, vem se mostrando eficaz em tratar condições como Alzheimer, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Essa é a primeira vez em que a estimulação cerebral profunda é utilizada no tratamento de anorexia.

A nova pesquisa foi desenvolvida no Centro de Neurociências Krembil, da Universidade Health Network, em Toronto, Canadá. Participaram do estudo seis mulheres com idades entre 20 e 60 anos que tinham anorexia nervosa, caracterizada por uma “recusa de manter um corpo saudável, um persistente medo de ganhar peso, uma incansável busca pela magreza e preocupantes imagens e percepções de si mesmo”, segundo definiu o artigo. As voluntárias sofriam da doença há pelo menos quatro anos (em um dos casos, há 32 anos) e se mostravam resistentes aos tratamentos convencionais.

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Saiba mais

ANOREXIA NERVOSA

A anorexia nervosa é caracterizada por uma recusa de manter um corpo saudável, pelo medo de ganhar peso, pela busca pela magreza e por preocupantes imagens e percepções de si mesmo. Geralmente, o problema é diagnosticado em pacientes do sexo feminino, com idades entre 15 e 19 anos. Nesse grupo, a anorexia é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns. A prevalência do problema é entre 0,3% e 0,9%, e sua taxa de mortalidade, de 6% a 11%

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Atividade cerebral – O primeiro passo desse trabalho foi identificar, com a ajuda de um exame de ressonância magnética, áreas-alvo no cérebro dos participantes relacionadas ao humor, depressão, ansiedade e imagem que uma pessoa tem do próprio corpo. Uma vez feita a identificação, foram implantados eletrodos nessas áreas e conectados a um gerador de pulsos elétricos, inserido sob a pele.

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O objetivo dessa fase do trabalho era avaliar a segurança do procedimento, mas os pesquisadores já conseguiram observar alguns benefícios da técnica. De acordo com os resultados do estudo, nove meses após a cirurgia, metade dos pacientes alcançou e manteve um índice de massa corporal (IMC) significativamente maior do que apresentavam antes da operação. Uma das participantes, por exemplo, tinha um IMC de apenas 11 antes do procedimento (o ideal é entre 18,5 e 25 – calcule aqui o seu IMC) e, após nove meses da cirurgia, passou a apresentar um IMC de 21.

Além disso, quatro das seis participantes demonstraram uma melhora de humor, ansiedade e sintomas compulsivos e obsessivos associados à anorexia. Três voluntárias relataram uma melhor qualidade de vida depois de seis meses da realização da cirurgia. O tratamento se mostrou, de maneira geral, seguro. Apenas uma dos seis pacientes apresentou efeitos adversos graves: ela sofreu uma convulsão duas semanas após a operação. De acordo com os autores do estudo, o problema teve relação com um distúrbio metabólico da paciente que ocorreu em consequência de sua anorexia.

Casos graves – “Com os eletrodos, nós conseguimos agir em áreas do cérebro que são anormais em anorexia. Precisamos enfatizar que essa abordagem é apenas para os casos mais severos de pacientes com anorexia, que já tentaram todos os tratamentos e para os quais todas as terapias falharam”, disse Andres Lozano, neurocirurgião e coordenador da pesquisa. “Acredito que nós vamos atingir um ponto no qual poderemos identificar o que ocorre de errado no cérebro de um paciente com anorexia e seremos capazes de desenvolver abordagens estratégicas para interferir e ajustar todas as atividades do cérebro que estejam anormais, tentando fazer com que elas voltem a um estágio saudável. E esperamos que, assim, os sinais e sintomas do problema desapareçam nesses pacientes”, afirmou Lozano.

Em um comentário que acompanhou o estudo, Janet Treasure, pesquisadora da Seção de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do King’s College, em Londres, considerou que é muito importante que sejam desenvolvidos novos tratamentos para a anorexia. “Os custos pessoais e sociais dos transtornos alimentares, em geral, são muito grandes, e isso é muito evidente em pacientes com anorexia grave e duradoura. Os resultados desse estudo são promissores e darão esperança a pessoas com esse problema”, escreveu.

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