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Estudo do Inca aponta mais de mil aditivos proibidos em cigarros no Brasil

Dados indicam aumento de 330% em registros de produtos do tabaco com substâncias capazes de alterar o sabor e aroma não liberadas pela Anvisa

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 ago 2024, 19h44 - Publicado em 29 ago 2024, 18h13

A indústria do tabaco inseriu no país 1.112 produtos com aditivos proibidos capazes de alterar o sabor e o aroma dos produtos destinados a fumantes entre 2012 a 2023, sendo a maioria produtos de tabaco para narguilé (641) e cigarros manufaturados (403). Os dados são de uma nova pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) e Promoção da Saúde. O trabalho resultou no artigo “O sabor amargo da interferência da indústria do tabaco no Brasil”, publicado na revista  Tobacco Control

Desde 2012, a Anvisa vem adotando medidas para reduzir a atratividade de produtos derivados do tabaco, especialmente entre os jovens. A Resolução RDC nº 14/2012 foi um marco nessa trajetória, proibindo o uso da maioria dos aditivos em cigarros e outros produtos de tabaco. A motivação principal era dificultar a iniciação de novos fumantes.

Mas, desde então, indústria e sindicatos do segmento do tabaco têm conseguido fragilizar a medida por meio de ações judiciais. O levantamento mostrou que, entre 2014 e 2020, houve aumento de 330% nos registros dos derivados do tabaco contendo aditivos proibidos no país, e um incremento ainda mais expressivo, de 680%, especificamente nos registros de fumo para narguilé

“Há extensas evidências científicas de que os aditivos de sabor desempenham papel fundamental para estimular o uso de derivados de tabaco por jovens e adolescentes, tornando esses produtos mais palatáveis”, adverte, em comunicado, André Szklo, epidemiologista e um dos autores do estudo. Segundo o pesquisador, a epidemia do tabagismo causa 174 mil mortes anualmente no Brasil e representa R$ 153,5 bilhões de custos diretos e indiretos para a sociedade.

Crescimento do uso de cigarros eletrônicos

Paralelamente às disputas sobre os aditivos, o Brasil viu um aumento preocupante no uso de dispositivos eletrônicos para fumar, chamados de vapes ou pods. Dados do Ministério da Saúde revelam que mais de 1 milhão de brasileiros já experimentaram cigarros eletrônicos, apesar de sua comercialização ser proibida pela Anvisa desde 2009. Destes, 70% são adolescentes e jovens adultos entre 15 e 24 anos. E como a concentração de nicotina nos vapes é cerca de duas a três vezes maior do que nos cigarros convencionais, ele causa uma dependência mais intensa e rápida. 

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“Estamos alertando para um possível novo cenário: o consumo maior não apenas do vape, mas sua associação ao cigarro tradicional, já que a nicotina leva a uma dependência mais intensa”, afirma, também em nota, Alfredo Scaff, epidemiologista e coordenador da sexta edição do boletim info.oncollect, da Fundação do Câncer. “Possivelmente, isso vai nos levar a uma futura elevação de acometimento de câncer de pulmão em uma idade mais jovem, antes dos 50 anos, faixa em que a doença era mais registrada”, conclui. 

Movimento VapeOFF: mobilização contra o cigarro eletrônico

O Dia Nacional de Combate ao Fumo é celebrado em 29 de agosto e serve para destacar a luta contra o tabagismo e promover a saúde pública. Neste ano, a data ganha uma nova dimensão com o lançamento do Movimento VapeOFF, promovido pela Fundação do Câncer em parceria com a ANUP Social.

A campanha, que conta com o apoio de artistas, influenciadores e autoridades de saúde, busca mobilizar jovens e adultos contra o uso do cigarro eletrônico. Entre as ações do movimento estão videoaulas para professores, depoimentos de especialistas e paródias nas redes sociais, com o objetivo de engajar a sociedade, sobretudo os jovens, no combate ao uso do vape.

O tabagismo é considerado uma doença pediátrica. Estudos mostram que 90% dos tabagistas começam a fumar antes dos 19 anos, por isso é fundamental abordar essa questão nas escolas,” explica Luiz Augusto Maltoni, diretor-executivo da Fundação do Câncer.

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Os perigos do vape

A última edição do info.oncollect analisou o tabagismo e a mortalidade por câncer de pulmão no Brasil. O estudo, baseado em dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), além de sistemas de vigilância como o Vigitel, revelou uma queda na mortalidade por câncer de pulmão de 1% em todo o país. Contudo, houve um aumento médio de 2% na mortalidade entre as mulheres, o que pode estar relacionado ao crescimento do tabagismo nessa população.

A pesquisa também constatou que mais de 20% dos jovens estudantes brasileiros já experimentaram o cigarro eletrônico. Por isso, os especialistas alertam para o impacto futuro desse hábito, pois, além dos riscos ainda desconhecidos para câncer de pulmão, o uso do vape está associado ao aumento dos casos de evali, uma lesão pulmonar grave.

Medidas  para o controle do tabagismo

Diante desse cenário alarmante, especialistas destacam a necessidade de retomar as campanhas educativas nacionais e reforçar a fiscalização da comercialização de produtos de tabaco, incluindo os eletrônicos. A Fundação do Câncer também alerta para a importância de aumentar os impostos sobre esses produtos, como forma de desestimular o consumo.

O preço de um maço de cigarro no Brasil é um dos mais baixos do mundo, custando em média R$ 9,75. Em comparação, o mesmo maço custa R$ 33,26 em Portugal, R$ 48,59 na Alemanha e R$ 61,93 na Finlândia. Essa diferença se configura como um incentivo para o consumo do produto. 

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